sexta-feira, 15 de julho de 2016

Hilário Schulz – o plantador de melancias

Foto: Karine da Fonseca
Somos recebidos na Fazenda Pérola por um senhor quieto, mas de sorriso fácil. Hilário Schulz é daquelas pessoas que a gente passa horas conversando sem prestar atenção no relógio. Sua história, como tantas, rende não apenas poucas páginas em uma revista, mas um livro inteiro.

A entrevista começa com risadas, quando conta que seu primeiro presente quando criança foi uma enxada. De família de agricultores do Rio Grande do Sul, aos três meses de idade foi com a família para o Paraná. O pai estava atrás de oportunidades de crescimento. Na lida desde cedo e sempre do lado do pai, foi aprendendo o ofício, ajudando a plantar milho na matraca. Enquanto o pai fazia os buracos, ele com uma latinha de sementes, tirava de duas em duas e plantava os pés de milho. “Ao invés de criar raiva, criei foi amor pela agricultura”.

Além do milho, na fazenda dos Schulz também se plantava feijão e soja, além de suinocultura para consumo próprio. Uma típica agricultura familiar com 75 hectares de lavoura. A família de cinco filhos trabalhava unida em busca de uma vida melhor. Neto de alemão, o avô de Hilário veio para o Brasil em 1919, onde se instalou em Santa Rosa no RS. “Sofreram muito”.

Hilário percebeu logo que não era no Paraná que estava seu futuro. Como o pai tinha o sonho de crescer. Viu que tinha possibilidade de conseguir esse sonho aos 16 anos, quando sempre do lado do pai, saiu para conhecer novas terras. Rondônia, Acre, Amazonas, Pará, Mato Grosso e até na Bolívia chegaram, em busca de oportunidades. No jovem Hilário surge a ideia que mudaria de fato sua vida: “Nasceu em mim um desejo de fazer parte de uma nova fronteira agrícola, onde a gente pudesse ter condições de produzir em maior área maior”.

Jovem, com pouco estudo, mas sábio, buscou conhecimento através da Embrapa e viu que podia realizar aquele desejo produzindo no cerrado, em solo fértil, porém adotando tecnologias. E foi através de uma pesquisa da Embrapa, em Luiz Eduardo Magalhães, na Bahia, que viu que tinha condições de produzir em outro lugar como tinha sonhado. Mas, para isso precisava de se estabelecer para adquirir terras tão distantes de casa.

Aos 18 anos já plantava sua lavoura de trigo em um pedaço de terra que tinha ganhado do pai. “Fui tão abençoado que consegui colher muito bem já na minha primeira lavoura. O clima cooperou. Esse foi meu começo”, conta orgulhoso. Foi plantando e colhendo trigo que fez seu pesinho de meia. Casou-se e logo decide vender os 12 ha que tinha e junto com o que tinha juntado, segue com a esposa para o oeste baiano, em 1980.

Na época, nem a cidade de Luiz Eduardo Magalhães existia. Ali era um pequeno povoado chamado Mimoso do Oeste. Mas foi no município de São Desidério que Hilário adquiriu o primeiro pedaço de chão baiano, e onde montou com a mulher uma barraca para começarem a vida. Nessas condições ficaram por oito meses, debaixo de lona. Apesar de muito jovem, com apenas 22 anos, era sozinho que buscava orientação enquanto preparava solo para plantio. Aos poucos foram aprendendo e descobrindo o que a região tinha de melhor e pior. “Foi difícil. E aqui na nossa região era mais complicado, porque as terras eram mais pobres, as chuvas não cooperavam e o solo arenoso. Mas, a insistência junto com pesquisa e adotando as tecnologias da Embrapa, fomos melhorando”, lembra.

Sua primeira lavoura baiana foi de arroz. “Primeiro ano perdi arroz. Foi amarga a experiência”, conta. Plantou soja e equilibrou as contas. Devagar e com insistência foi aprendendo como trabalhar na nova terra. À sua volta, além de um novo lugar, a dúvida se ia dar certo: “Muitas vezes à noite eu ia para o campo e botava a terra na mão, molhava, lavava, mexia... e via só areia. Pensava “o que a gente vai produzir aqui?” Mas ai pensava: “Não! Nós vamos insistir aqui e vai dar certo!”. Era esse otimismo era o que ia transformando a vida de Hilário.

Observando os estudos da Embrapa, viu que apesar de não colher a soja que costumava a ver no Sul, podia plantar o grão ali. Confiou que logo descobririam uma variedade que se adaptasse melhor. Visitando a unidade da empresa em Brasília, soube que tinha jeito de produzir trigo irrigado e que era melhor que o que ele plantava no Paraná. Nascia mais um sonho! “Eu vi que com o pivô tinha condições de produzir bem por conta do fotoperíodo aqui ser muito bom”.


A transformação através da irrigação

Em uma parceria instalou 16 pivôs, mas não deu certo. Passou pelo comércio e voltou a tocar a sua roça. “Eu tinha esse campo que estava com pecuária. Voltei e devagarinho fui montando os meus próprios pivôs. Eram dois, depois mais dois... hoje são 2000 hectares irrigados!”.  

A decisão pela Valley veio por conhecer o equipamento em funcionamento na região de Cristalina, GO. “Decidi para poder ficar mais tranquilo, acomodado e despreocupado. Não estraga à toa. Me dá mais comodidade e segurança. É não ter problema! É um caro que sai barato”.

Atualmente produzindo duas safras/ano, só deixou de fazer a terceira pelo alto valor da energia. “A água é a maior riqueza que nós temos! E com a irrigação conseguimos colocar comida na mesa das pessoas três vezes ao dia. As pessoas mesmo assim acham que somos vilões, e isso não é verdade. Estão completamente enganados. Eles têm que ver e analisar direito o tanto que é difícil produzir, muitas vezes a preços tão baixos e sem auxílio do governo. Procuramos sempre fazer o melhor, com reservas, melhoramento e aproveitamento de solo... tudo para garantir produção para a população”, desabafa.

Sempre otimista, mesmo com os problemas diários em se produzir muito e para tanta gente, observa com é ser irrigante: “Ninguém sabia quanta riqueza tínhamos aqui quando chegamos. A água que temos aqui é muito boa, junto com a luz. Naqueles dias de janeiro e fevereiro, com aquele solão e um veranico que não passa, você olha para o céu e nada de chover. Poder apertar um botãozinho e molhar a tua terra, ver a cultura bonita... isso é muito gratificante!”


A melancia da Fazenda Pérola

É da Fazenda Pérola que sai melancia para quase todo o Brasil. Em média, durante a época de colheita, 25 caminhões/dia saem carregados, levando a fruta do Sul ao Nordeste. Em torno de 200 pessoas trabalham na lavoura, numa operação manual em função da fragilidade do fruto.

Ao todo Hilário Schulz produz em uma área de 5 mil ha. Precavido faz, de cinco a sete culturas, pois “se uma não der a outra dá”, diz. Entre tantos produtores de grãos e algodão na região, ele se destaca por produzir um produto com proporções bem maiores. A quantidade de produção da fruta é impressionante. Em 2014, dois mil hectares foram utilizados para o plantio. Uma média de 40 toneladas/ha.

Além da fruta, milho, feijão, soja, algodão, abóbora e arroz – que deixa a palhada para proteger a melancia – são cultivados irrigados e em sequeiro. Nos 2 mil hectares irrigados, todos com pivôs Valley, há variedade de tamanhos. São 13 pivôs instalados entre 60 ha (o menor) e 280 ha (o maior com 19 lances). Mas o mais impressionante nem são os números produzidos na fazenda, mas o sabor da melancia! Suculenta e doce na medida certa, além de uma cor vibrante que enche os olhos. A receita está no clima quente, com baixa umidade do ar, luz solar direta e irrigação.


            Amor pelo que faz

Dá pra ver nos olhos de Hilário Schulz a paixão pela agricultura e pelo trabalho na fazenda. Tanto que sua maior preocupação é imaginar quem vai produzir alimento para a população nas próximas décadas. “É muito gratificante saber que estou contribuindo com o povo. Plantando comida para o povo. Tem muito produtor que não consegue ter os filhos no campo. Quem vai produzir alimento para essa gente daqui a 20 anos?”.

Competindo, está o amor pelos filhos, Maikon e Siguinéia e a mulher Zilá. Assim como fazia com o pai, Hilário tem os filhos trabalhando com ele em áreas distintas do escritório da fazenda. “Poder ter os filhos do lado e todo mundo trabalhando juntos e unidos é muita alegria! Todos com o objetivo de crescer e fazer as coisas certas!”, orgulha-se.

Outro grande orgulho é a esposa Zilá, companheira desde os meses acampados no barraco de lona quando chegaram a Bahia. “Ela está comigo sempre! Se eu for pra roça, ela vai. Se eu for pra cidade, ela vai! Geralmente as mulheres não querem ficar na roça, mas ela não! Me acompanha. Até quando eu vou pescar ela vai”, conta rindo. Aliás, pescar é a distração de Hilário. É onde descansa e pensa na grande história de vida que construiu e que ainda escreve com maestria. “Eu estudei muito pouco. Não me formei em nenhum curso. Fiz apenas o básico, mas, o amor que a gente criou pela terra e por produzir, além do sonho de crescer e de ter uma área maior para adotar tecnologia, que me fez ter tanta força para chegar aonde cheguei”.


São homens e mulheres como Hilário e Zilá que abrem as fronteiras para a economia do agronegócio brasileiro. São pessoas como eles que desenvolveram lugares até então sem condições de produção, como é o caso do oeste da Bahia há 30 anos. Hoje, para todos os lados na região, se vê tecnologia de ponta e lavouras que impressionam. A força, a coragem, a insistência e, sobretudo a cooperação de uns com ou outros, de gente que como eles transformaram a paisagem daquele sertão, sendo hoje uma região promissora, rica e de onde sai muitas toneladas de alimentos Brasil afora.


*Matéria publicada em Pivot Point Brasil - dezembro de 2015

5 comentários:

Unknown disse...

Achei linda a historia.ja ouvi falar muito dele.mas aprendi mas um pouco.admiro muito a bondade dele.ja usurfluir muito de suas melancias.quando liberada p gente colher.pessoa amada admirada e respeitada em minha cidade mesmo sem conhecer so falo bem dele e admiro muito.parabens pela historia.

Unknown disse...

Boa sorte sempre Sr.Hilario mais que vencedor Deus é com o Senhor e toda sua equipe.

Anônimo disse...

O nome é ZALY e MAIKEL ! kkk

Anônimo disse...

M Deus q homem mulher famia corajosas de fe naquilo q não se ve por isso q recebe o nome de perola parabéns q Deus continui abençoando essa familia em nome de Jesus

Anônimo disse...

Fui cartorária muitos anos em São Desiderio. O conhecia bem! Um desbravado!!!merece tudo de melhor