domingo, 20 de novembro de 2011

Dos tempos gregos aos dias atuais

Num mundo repleto de conceitos não-criados, ouve a necessidade da criação de ordens e ideais para a construção daquilo que se hoje pensarmos, não teria como existir se não existisse. Maneira um tanto alucinógena de imaginar, mas que de fato nos remete a imagem de como seria o mundo sem as cidades e suas normas e seus cidadãos. Entre o século VIII a VII a.C., os gregos - que na verdade eram descendentes de outras grandes etnias – trouxeram a idéia, ou a Paidéia, de Polis. Essa idéia traz-nos ainda ao panorama entre a filosofia e a política que se confrontam (podendo ainda ter-se confrontando muitas vezes ainda naquela época), dando-nos a impressão de que pouco mudou-se de lá pra cá. “Poder de conflito e o poder de união, Eris-Philia: duas entidades divinas, opostas e complementares” como comenta Jean-Pierre Vernant em seu As origens do pensamento grego, estão muito bem relacionado em nossa época. É só olharmos ao redor.


Jean-Pierre Vernant

Nesse mesmo texto, podemos destacar a particularidade entre os conceitos gregos de oito séculos antes de Cristo, aos dias contemporâneos. Os dois pólos da vida social se rivalizam para associar-se ao convívio em sociedade e de unificação. Prova deste conceito tão contemporâneo é quando podemos ver nos jornais e telejornais de ontem e de hoje mesmo (e porquê não a internet – mostra de modernidade), prisão de um traficante, dono da favela mais populosa do mundo, para que assim, juntos, favelados (não-cidadãos) e aristocratas e quem está associado a esse termo sendo grande parte das vezes um pé-rapado, visto dessa forma porque não mora no morro (cidadãos) possam, conviver em harmonia.
Essa realidade em nada fica distante da vida na polis do século V a.C. A única diferença é que hoje em dia os não-cidadãos estão mascarados pelo sistema publicitário-capitalista-político, onde os dá a ilusão de que fazem parte do sistema. Sistema esse que ainda coloca suas mulheres abaixo dos homens nos graus de remuneração trabalhista e que ainda vê-se preconceituoso quando o cara é negro, ou índio, ou japa.

Norberto Luiz Guarinello

Particularidades também podem ser vista no texto de Norberto Luiz Guarinello em Cidades-Estado na Antiguidade Clássica, quando comenta a propriedade dos camponeses que precisavam trabalhar ou serem apadrinhados para ter acesso ao território agrícola. Será que podemos ver algum resquício de reforma agrária? Os conflitos entre comunidades rurais e urbanas ainda podem ser vistos quando lembramos as péssimas condições de trabalho no campo, as estradas em descaso, a falta de habilitação à saúde e a informação, o trabalho escravo ainda no século XXI... Tudo isso porque, desde àquela época dependemos do trabalho desses homens e mulheres para nos sustentar, simplesmente.

A idéia de propriedade privada faz da terra uma comunidade de proprietários que a defendem sem a presença de um soberano. Frase feita dita nas ágoras e que podem ser ouvidas como que repetidas nos programas gratuitos de partidos políticos na TV ou nos plenários da vida e que de fato não representa muito. O indivíduo precisava e precisa mesmo é possuir meios de subsistência e de riqueza para fazer parte do quadro da comunidade. Sua propriedade depende das suas relações com um poder superior. Prova disso são os grandes pecuaristas que com seus muitos funcionários rurais nada faz pela preservação do meio ambiente. Já o humilde produtor que vive para trabalhar literalmente, é multado e tem que vender sua terrinha para pagar a dívida e fazer outra, através de financiamento bancário, para tê-la novamente.

Como N. L. Guarinello comenta: “(...) Alguns elementos deram a essas comunidades camponesas um caráter único dentre as sociedades agrárias da História. Um fator primordial foi o desenvolvimento da propriedade privada da terra. Em uma cidade-estado, cada família camponesa cultivava um ou mais lotes com contornos bem definidos, que eram sua propriedade individual, de onde obtinha seus meios de subsistência... As grandes propriedades eram formadas, quase sempre, pela multiplicação de pequenos lotes... A terra comunitária, onde existia, era uma reserva para loteamentos futuros, sempre apropriados individualmente.”

Moses Finley
O historiador Moses Finley traz à nossa realidade uma visão mais globalizada dessa questão. Quando em “A Política no Mundo Antigo”, mais precisamente no último parágrafo do terceiro capítulo diz: “Vários séculos se passaram desde então e nenhum dos modelos de comportamento ou acontecimentos que esbocei se tornam inteligíveis sem a compreensão das políticas nelas envolvidas. Nem a élite, em aliança ou em concorrência, nem tão-pouco a populaça foram espectadores passivos. Havia que recorrer a eles, consultá-los, manipulá-los, manobrá-los e suplantá-los nas manobras; numa palavra, envolvê-los politicamente por diversas formas. Foi este o preço pago por um sistema de cidade-estado com o seu elemento de participação popular”.

Qualquer semelhança não é mera coincidência. Essa continuação diluída e modificada, como ilustra M. Finley pode ser muito bem observada através do texto abaixo.

“Esta ordem econômica foi acompanhada por uma nova administração política. Sólon privou a nobreza de seu monopólio de cargos pela divisão da população de Atenas em quatro classes de renda, destinando as duas classes mais altas às magistraturas mais elevadas, a terceira tendo acesso às posições administrativas mais baixas, e a quarta tendo direito a um voto na Assembléia dos cidadãos, que desde então se tornou uma instituição normal da cidade. Este arranjo não estava destinado a durar.

Nos trinta anos seguintes, Atenas experimentou um rápido crescimento comercial, com a criação de uma unidade monetária municipal e a multiplicação dos negócios locais. Os conflitos sociais com os cidadãos logo se renovaram e agravaram, culminando com a tomada do poder pelo tirano Pisístrato. Foi sob seu governo que emergiu a configuração final da formação social de Atenas. Pisístrato patrocinou um programa de construções que proporcionou emprego para artífices e trabalhadores urbanos e promoveu um florescente desenvolvimento do tráfego marítimo do Pireu. Mas, acima de tudo, proporcionou assistência financeira direta ao campesinato ateniense, na forma de créditos públicos que finalmente confirmaram sua autonomia e segurança na véspera da polis clássica” .

Estudar, presenciar o estudo de Antiguidade e do Pensamento Clássico, traz a mente uma pergunta: “o que fez com que os gregos tivessem a necessidade de criar a filosofia, a política e o espaço público?” Seria essa uma necessidade natural do homem?


 



segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Ops!

E chega uma hora que... acontece! E acontece tão naturalmente que sentir-se à vontade parece ser muito divertido. O frio na barriga, o sono que é interrompido, o sorriso que não sai do rosto, e, não mais importante, uma leve e adoradora sensação de felicidade dentro desse peito que vós fala e que pulsa... óh como pulsa! Dá pra ouvir quando devagarinho a gente deita a cabeça num abraço gostoso, e assim, outra sensação vem: a da segurança que teve bom! 
Quem disse que dá pra seguir roteiro mesmo? Quem disse que é tudo planejado? Quem? Quem? Nessas horas a única coisa que dá pra saber de verdade é que agradecer é o melhor a se dizer. Portanto, obrigada Vida Louca Vida que sempre me pega, me sacode os cabelos e que olha dentro do meu olho dizendo: seja feliz! E logo muitas borboletas começam a bater suas asinhas na barriga...
Bem-vida sensação de felicidade. Seja sempre muito bem-vida! S2 pra vc!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Pra vc: o que é História?

No dia que, interrogado por seu filho sobre o que seria história, Marc Bloch deve ter pensado: “Meu Deus!”. Caso fosse materialista essa expressão ficaria apenas em: “Ai!” Ou ainda, se pudéssemos imaginar ainda uma ilustração para tal cena, poderíamos imaginar ele meio que coçando o alto da cabeça. Mas, foi exatamente essa a pergunta que aguçou suas indagações e lhe permitiu escrever (ou deixar inacabado) seu livro de metodologia, Apologia da história.
Assim, Marc visualizou para o livro a representação do homem como o sujeito de sua história. Onde não se despreza fatos, datas, relatos, e onde se busca a compreensão das relações através dos fatos, dos contextos históricos e de suas questões. Onde não há passado ou presente ou futuro, mas sim o homem do tempo.
Historiador é aquele que se prende a documentos escritos, e não escritos. Que se perde nas expectativas de uma observação histórica, de testemunhos e que deixa de lado a obsessão por relatos. É essa a situação que constrói um conhecimento. E são essas situações que, sem pestanejar, o historiador deverá fazer importante outras ciências para o objeto de estudo.
Para se compreender história há necessidade de uma lógica do método crítico e próprio, de desenvolvimento de argumentos, de exemplos estudados, de justificativas e de verdade. A história é ciência. E é compreensiva, pois não julga, não abomina. Não é parcial nem imparcial, mas objetiva. E utiliza de fontes para aprimorar-se.
As análises podem proceder às idéias repassadas, não mais em busca da verdade absoluta. Visam apenas compreender, problematizar, contextualizar e assim deixar livre o historiador na construção da história.
No último capítulo, sem título, no último parágrafo e em sua última frase, resume: “as causas, em história com em outros domínios, não são postuladas. São buscadas”.
Em suma o livro traria particularidades de um historiador, que sério, deve se comprometer apenas em narrar a história. Mas e o que mais? O que além de contar histórias um historiador faz? Essas são as perguntas que muitos devem fazer quando pensam o que responder a uma pergunta dessa...
Perguntados, ou perguntadas sobre tal questionamento, algumas respostas, deixaram apimentadas as visões jornalísticas-historiográficas de uma jornalista aluna de História, que aqui vos fala. Mostram diferentes pontos de vista, comum de leigos, mas que de alguma forma, formam a contexto contemporâneo histórico.
São histórias de respostas que vão da simplicidade e objetividade da publicitária Gicele Gomes que diz: “História pra mim é quando os fatos acontecidos são narrados e são perpetuados através dos tempos”; ou da aguçada interpretação, um tanto filósofa, um tanto no seu tempo da fisioterapeuta de formação e micro-empresária no setor de semi-jóias, Ana Raquel Pinheiro: “Fatos? Contos? Relatos? Fato contado baseado num relato? Agora, se fosse ‘estória’... ah... aí seria sonho fatiado num relato de um conto! Conto relatado do sonho de um fato! Relato sonhado de um conto fatiado! Loucura relatada de uma sonhadora que não entende todos os fatos, mas acredita na maioria dos contos! (de fadas!)”. Marc novamente deve estar a coçar seu alto da cabeça...
Já o parecer de Flávia Correia, também publicitária, deve deixar Marc mais aliviado do comichão em seu cocuruto: “História é muito mais do que conhecer civilizações antigas. História é o resgate da cultura que ainda vive nas influências de tudo que se experimenta hoje. História é a valorização da diversidade em todas as suas formas de manifestação. História é conhecer os caminhos escolhidos pela sociedade no passado, para decifrar as paisagens atuais e criar perspectivas futuras. História é a vida, é o pulsar, é o espírito que habita dia e noite nas facetas da humanidade”.
De outra perspectiva, a médica veterinária Érica Assunção, acredita que “História é o maior conjunto que existe. É formado por todas as coisas existentes: seres animados, inanimados, pensamentos, sonhos, planetas, por todos os componentes da tabela periódica, etc. Enfim, tudo e todos têm uma história! A história da formação das rochas, de um brinco, de uma caneta, de um computador. A história dos nossos pensamentos, dos nossos sonhos. A história da formação dos planetas, da Terra, do Brasil. A história de cada animal, de cada planta, de formação dos rios. A história da nossa vida, do nosso casamento, da nossa separação. E tantas outras histórias, tudo que existe tem a história da sua formação, da sua existência e do seu fim, além da história que ainda existe no invisível, na espiritualidade, além dessa vida!”.
Marc Bloch
A história está em tudo e em todos. Está em cada pensamento, em cada ação, em cada guerra, em cada bandeira branca, em cada construção, em cada demolição. Pode ser vista todos os dias e cada vez que ligamos a TV ou abrimos o jornal. Pode ser observada a todo o momento. Pode ser falada. Contada. Desenhada. Pode ser ouvida. Pode ser verdade ou mentira. Depende da fonte. Depende do historiador. Depende de como é o ofício do historiador.
Ilustrando no final, o comentário de André Machado, ex-ginete de cavalos e hoje empresário no ramo de oceanografia: "História é uma poesia gaúcha que foi escrita a cavalo...
'A historia da humanidade
nas planuras e nos penhascos
foi escrita pelos cascos
deste padrão de igualdade,
fogo, luz, liberdade,
brazão da cavalaria
e na América bravia com ibéricos teatinos,
índios, negros e beduínos,
com um eco de Andalazia.
Simbolo de paz e guerra
Símbolo de guerra e Paz
A lida eterna da terra
É um flete amigo que faz
Peão, patrão e capataz
Não há senhor, nem vassalos
E ninguém que possa separá-los
Porque a terra tem memória
Não há ninguém que escreva
História do meu Rio Grande
Sem Cavalos'."

Jaime C. Braum - trecho da poesia Itaí Tupambaé (cavalo ganhador do Primeiro Freio de Ouro em 1982, acompanhado pelo renomado ginete Vilson Charlat de Souza . Essa é a prova mais seletiva da Raça Crioula).






quarta-feira, 15 de junho de 2011

Os 10 princípios de uma sociedade livre

Recebi um e-mail de um grupo de estudos da universidade que me chamou bastante atenção. Num mundo onde se fala cada vez mais em mudanças de regime, se seria bom socialismo, se é bom capitalismo, verifiquei que sensatez é muito importante antes de ter algum tipo de princípio.Totalmente imparcial às eleições americanas (quanto mais a elas), Ron Paul (candidato em 2012 além de 1988 e 2008), faz uma lista de dez princípios de uma sociedade livre - num mundo tão perdido de soluções e questões adequadas.
1. Direitos pertencem a indivíduos, e não a grupos. Eles advêm de nossa natureza e não podem ser nem concedidos nem retirados pelo governo.
2. Todas as associações entre indivíduos, bem como todas as transações econômicas que sejam voluntárias e pacíficas, devem ser totalmente permitidas. O consentimento é a base de toda ordem social e econômica.
3. Toda propriedade adquirida de forma honesta e justa deve se tornar propriedade privada do indivíduo ou do grupo de indivíduos que a adquiriu. Essa propriedade não pode ser arbitrariamente anulada pelos governos.
4. O governo não pode confiscar a riqueza privada de determinados indivíduos para redistribuí-la. Tampouco pode conceder privilégios especiais a qualquer indivíduo ou grupo de indivíduos.
5. Indivíduos são inteiramente responsáveis por suas próprias ações. O governo não pode e nem deve nos proteger de nós mesmos.
6. O governo não pode reivindicar o monopólio sobre o dinheiro que as pessoas utilizam. Mais ainda: o governo não deve jamais incorrer em práticas oficiais de falsificação (isto é, criação artificial) de dinheiro, alegando estar agindo em nome da "estabilidade macroeconômica".
7. Guerras de agressão, mesmo quando chamadas de 'preventivas', e mesmo quando se referem apenas a relações comerciais, são estritamente proibidas.
8. A 'nulificação pelo júri' — isto é, o direito de os membros de um júri julgar a lei e os fatos diferentemente do juiz — é um direito do povo e deve ser a norma dos tribunais.
9. Todas as formas de servidão involuntária são proibidas, não apenas a escravidão, mas também o serviço militar obrigatório, as associações forçadas entre indivíduos (como as quotas), e a distribuição de renda compulsória.
10. O governo deve obedecer às mesmas leis que ele espera que os cidadãos obedeçam. Logo, ele jamais deve utilizar a força para moldar comportamentos, para manipular interações sociais, para gerenciar a economia ou para dizer a outros governos como devem se comportar.
Ronald Ernest Paul (Pittsburgh, 20 de agosto de 1935) é médico e político estadunidense membro da Câmara dos Representantes do Congresso dos Estados Unidos da América. No Congresso, adere aos princípios libertários e conservadores, baseando suas posições políticas, freqüentemente, no constitucionalismo e direitos dos estados.
Segundo Wikipédia, nunca votou a favor do aumento de impostos nem do aumento do salário de congressistas, recusando-se a participar do sistema de pensão do Congresso. Ele ganhou o apelido de "Dr. No" (Dr. Não) por sempre votar contra propostas que ele considera estarem em violação da Constituição dos Estados Unidos da América.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

É sempre assim

arquivo pessoal
Depois de uma fase intensa, sempre vem a calmaria.
É sempre assim.
O ciclo é sempre o mesmo.
O que muda, são as circunstâncias que vc vê aquilo naquele momento.
Como que nada é exatamente o que quer dizer.
Ver qualidades, ver defeitos.
Melhorá-los, piorá-los, ignorá-los, aceitá-los.
Utilizar o bom-senso.
Tudo depende meio que do seu ponto-de-vista-sensitivo, observar o meio e o fora.
Ser observador, gerar o mecanismo observador.
Depois te tanto observar, ir chegando a extremos.
Ou pelo menos, imaginá-los, querê-los, desejá-los.
Observar a evolução que seu observador vê passar.
Ser cada tempo observado, melhor, mais claro, mais objetivo.
Nascer, crescer, amadurecer; não são apenas coisas cronológicas.
Ser verdadeiro e cruel com o relatório observado.
Ser sua essência.
Ser você.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Cartas de amor

Hoje de manhã, ouvindo o primeiro DVD de "O Teatro Mágico" ouvi uma citação que me instigou (e eu adoro  me sentir instigada). Na introdução de uma música, Fernando Anitelli (líder da trupe) citou: "Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas", lembrando ser de Ferndando Pessoa.
Resolvi pesquisar no meu amigo google e descobri que o poema (ou seria poesia?) é ainda mais instigante. Inclusive observei que em alguns momentos de sua obra, assinava como Álvaro de Campos (como nesse poema ou poesia - não sei), utilizando de um heterônimo - personagem fictícia, criada por escritores (como o caso de Fernando Pessoa), cujo objetivo é tentar compreender e propagar diferentes maneiras de ver a realidade exterior/interior, tentando manter distância da visão da realidade ortônima. Agora, à leitura. Instiguem-se:


Todas as cartas de amor...

 
Todas as cartas de amor são

Ridículas.

Não seriam cartas de amor se não fossem

Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,

Como as outras,

Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,

Têm de ser

Ridículas.

Mas, afinal,

Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor

É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia

Sem dar por isso

Cartas de amor

Ridículas.

A verdade é que hoje

As minhas memórias

Dessas cartas de amor

É que são

Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,

Como os sentimentos esdrúxulos,

São naturalmente

Ridículas.)

quarta-feira, 2 de março de 2011

Sons do Cerrado

Sábado último (26/02), aqui em Uberaba, aconteceu algo que há nove meses eu esperava. Não, não foi um parto, mas a apresentação da Banda Suéteres que desde maio no Forró da Lua Cheia eu anciava em presenciar novamente. Sabe um som bom? É esse ai. Com certeza! A mistura de poesia e guitarra fervente, com batida e musicalidade impar, dão ao Suéteres, na minha humilde definição, a categoria de banda mais legal da conta!

Pena o show ter dado alguns gatos pingados e de terem que esperar tanto pra mostrar do quanto são capazes. Ainda mais quando o que mais se quer é pegar o controle invisível e passar pra frente. Legal mesmo, teria sido como sempre disse: abertura de Acidogroove (Toddy Revelação em 2007 e cada dia manda melhor. Não perde sua majestade majestosa. Sempre tá mostrando que merece todas as premiações e reconhecimentos.  Resumindo: simples e eficaz! E nem é porque sou amiga do Fredim, é só digitar no google que o Acido tá lá! E ainda na minha humilde e modesta categoria enquadra-se em Banda Melhor Que Tá Tendo) e Suéteres logo após... logo após. Ai seria sim o máximo em forma de música boa na zebulândia. Zebulância essa necessitada disso.

Suéteres é uma banda de Pirassununga, SP, e pelo jeito começaram a tocar depois de dividirem moradia, uma casa numa tal Rua Caetés, nome esse dado ao primeiro álbum. Por sinal, com desculpa da palavra, do baralho! O álbum pode ser baixado gratuitamente pelo site: http://www.sueteres.com.br/. Engraçado que as músicas são um misto de vontade de dançar, cantar alto, de se emocionar, de parar pra pensar... sabe quando mexe o coração e as pernas ao mesmo tempo?

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Revolução na Educação

Educação, educação, educação... tanto se fala, mas quase nada é visto (pra não dizer nada e ficar parecendo um discurso político). No dicionário: 'É o princípio comunicativo, utilizado pelas sociedades, para desenvolver no indivíduo a consciência de suas potencialidades, a partir da interpretação dos sinais gráficos até a construção dos conhecimentos que favoreçam o desenvolvimento de um raciocínio comportamental e disciplinar, na sua individualidade, diante do grupo social e no meio ambiente em que vive'. Mas se pararmos pra perceber de verdade, a gente pode tanto fazer todo esse vão de novas idéias e participações ser visto. A gente que se gaba tanto de ser e de fazer e acontecer, pode fazer tanta coisa... pode participar do mundo de verdade.
E por falar em política, Cristovão Buarque (economista, professor, hoje senador), tem como proposta para um estado melhor, uma Revolução na Educação. Um revolução onde a cultura e a educação devem andar juntas, lado a lado, parceiras. Ai, eu, que acredito e dou fé, li um texto e quero compartilhar:
“Cerca de R$ 7 bilhões por ano, além dos gastos atuais, é o que é preciso para o Brasil iniciar sua revolução na educação. Com menos do que esse valor, não haverá o salto, apenas um avanço, como aqueles que vieram no passado – merenda, transporte, livros didáticos, Fundef, e agora Fundeb e PDE. Mais do que esse valor, o sistema não é capaz de absorver imediatamente. Nossa inanição não permitirá gastos maiores. Seriam desperdiçados. Não seremos capazes de absorver, de repente, equipamentos para toda a rede; nem de formar todos os professores. O máximo que podemos absorver é algo em torno de R$ 7 bilhões anuais, além do que é gasto atualmente, até chegar a R$ 20 bilhões anuais dentro de quatro anos. Como comparação, R$ 7 bilhões equivalem a apenas 0,3% da renda nacional, 1% da renda do setor público, pouco menos de um quarto do lucro de uma única estatal em 2006 – a Petrobrás.
Todos perguntam de onde virá o dinheiro para aumentar o gasto atual de cerca R$ 1.100 anuais por aluno na educação de base, dos quais apenas cerca de R$ 150 anuais saem do Governo Federal. Mas ninguém pergunta de onde vem o dinheiro que financia a educação de 7.346.230 alunos em escolas privadas, graças em parte à dedução no Imposto de Renda de até R$ 2.480,66 para cada um. Ninguém pergunta de onde saem os R$ 4.400 mensais (R$ 52.800 anuais) gastos com cada jovem infrator preso. Ninguém pergunta de onde vem o dinheiro para projetos de infra-estrutura, ou para compensar a redução de impostos, ou para investir no Ensino Superior ou Técnico, mas todos querem saber quanto custa e de onde vem o dinheiro para construir uma única escola. Ninguém tampouco se pergunta quanto custa não fazer a escola, o custo da omissão. Não fazer uma revolução na educação já está custando a alma do Brasil, perdida eticamente por causa do muro da desigualdade, e perdida econômica e cientificamente por causa do muro do atraso.
Se compararmos o Brasil e a Coréia do Sul, esse custo de não fazer aparece de forma drástica. No começo dos anos 1960, a Coréia do Sul tinha renda anual per capita da ordem de US$ 900. O Brasil tinha o dobro, então US$ 1.800. A Coréia fez sua revolução educacional a partir da educação de base, tomou outras medidas, e tem hoje uma renda per capita que é o dobro da nossa. Tudo repetido aqui, se tivéssemos feito o mesmo, nosso PIB seria agora de ao redor de R$ 6 trilhões, em vez de R$ 2 trilhões. Adiar essa revolução terá um custo destruidor do nosso futuro, não apenas pela perda financeira, mas por todo atraso, desigualdade, degradação, dependência.
As propostas apresentadas seriam não apenas um Plano de Desenvolvimento da Educação, mas uma Revolução da Educação. A tragédia educacional atual ainda é uma herança que recebemos, mas no final de nossos mandatos será uma herança que teremos deixado. O presidente Mandela ficou na história do seu país porque foi o primeiro presidente de um novo ciclo, fazendo uma revolução para que brancos e negros pudessem caminhar nas mesmas calçadas nas cidades da África do Sul. Nós temos um único caminho a seguir, se quisermos ser os líderes de um novo ciclo no Brasil: fazer com que em nosso país as crianças pobres e ricas estudem em escolas com a mesma qualidade. Se fizermos isso, o mais acontecerá. Porque se um pai de família pode dizer que educando seu filho, o mais ele fará, um estadista pode dizer que educando seu povo, o mais ele fará.
A única revolução possível e lógica no mundo de hoje é por meio da educação. Em vez de estatizar capital, financeiro ou físico, disseminar o capital conhecimento; usar lápis em vez de fuzis, professores, em vez de guerrilheiros; e no lugar de trincheiras e barricadas, escolas.
Uma revolução só se faz com uma forte vontade política, e esta só se faz com uma concepção ideológica por trás. A revolução educacional vai exigir o educacionismo: a visão de que o progresso econômico depende do capital-conhecimento e de que a utopia social decorre da igualdade de oportunidade. A educação como vetor da transformação, e não apenas como serviço social adicional. Depois do fracasso das ideologias prisioneiras da economia – capitalismo, desenvolvimentismo, socialismo –, o mundo exige uma nova concepção, sintonizada com as tendências atuais. A realidade mostra que o capital do futuro está no conhecimento; e que a desigualdade social se origina da desigualdade no acesso à educação. Só um país com igualdade na qualidade da educação, entre classes e regiões, com todos concluindo o Ensino Médio com a máxima qualidade, vai permitir o salto em direção ao avanço civilizatório.
Por isso, uma condição necessária para a revolução pela educação é o surgimento e o crescimento de um movimento educacionista no Brasil. Nos moldes do movimento abolicionista do século XIX. Um “partido-causa” com defensores em todos os “partidos-sigla” na defesa da revolução pela educação. O educacionista é, no século XXI, aquilo que foram os abolicionistas no século XIX. A primeira ação de um educacionista é convencer o povo brasileiro da importância e necessidade do educacionismo: conscientizar os pobres de que têm direito a uma escola igual à dos ricos, e convencer os ricos de que não haverá boa educação nem futuro nacional enquanto ela ficar restrita aos seus filhos.
Apesar do direito à dúvida, por causa da maneira pela qual a educação de base vem sendo relegada ao longo dos anos, não temos direito de perder a esperança. Este é um documento para quem sofre com a perda de terreno do Brasil em relação ao resto do mundo, por causa do muro do atraso, e sofre com a divisão do País internamente, por causa do muro da desigualdade; para quem sabe que o único caminho para derrubar os dois muros é uma revolução na educação, e sente que isso é possível, que o Brasil sabe como fazer, e tem os recursos necessários, mas estamos adiando há décadas, desde o início de nossa República, passando por todos os 40 presidentes que antecederam o Presidente Lula.”

Se hoje o Governo Brasileiro começasse a implantar uma Revolução na Educação, colheríamos frutos positivos em 20 anos. Ai sim, e só assim, seria capaz viver num país menos violento, com menores níveis de criminalidade, onde a corrupção seria menos comentada nas manchetes de jornais. E porque não dizer, onde a vergonha na cara fosse uma coisinha que encomodasse, pelo menos fazendo uma cosquinha.
Cada um pode fazer um pouquinho. Cada um, dentro de cada fatia sua dentro da comunidade que vive, pode auxiliar essa que é a mais importante coisa da vida. Como já diziam os antigos: 'é a única coisa que niguém lhe toma'. Chame um amigo, um visinho, um conhecido, os filhos deles, e convide para ir a um show que vale a pena de verdade pra alma, pega na mão deles e leve pra ver um teatrinho de bairro, um sarau, mostras de arte na praça... empresta um livro pra ele. Fazer parte, sabe? Fácil não é não. Mas é preciso e importante fazer parte do futuro.