quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Américas - O novo mundo?

Durante a colonização das Américas, entre os séculos XVI e XIX, as atividades econômicas foram primordiais para a entrada do colonizador e assim, a construção de um novo mundo. Os textos de Enrique Florescano, “A formação e a estrutura econômica da hacienda na Nova Espanha” e “A economia e a sociedade rural da América do Sul espanhola no período colonial”, narram de forma bastante nítida a formação econômica dessas regiões que, basicamente sofreram as mesmas formas de invasão que transformou tanto as Américas e a Espanha, como toda a Europa. 

O colonizador logo no princípio percebeu a necessidade de construir uma verdadeira colônia onde fosse possível gerar uma sustentação econômica para sustentar aquela que foi sua principal nova geração de economia: a mineração. Assim, as haciendas surgiram onde toda uma produção agrícola produzia meios de subsistência para os trabalhadores nas minas de ouro e prata. Alimentação, moradia e vestuário nasciam e eram produzidos nas haciendas. Mineradores tinham suas necessidade totalmente supridas através do trabalho nas haciendas e daqueles que trabalhavam nelas. Nessa leva, índios e nativos faziam parte do quadro de “funcionários”. 

Além da chegada dos espanhóis, outra mudança ocorria: o ambiente físico das Américas sofria transformações. As produções agrícolas e os pastos tomavam conta dos planaltos de onde é hoje o México, antes Nova Espanha. Nesse novo ambiente, a cana-de-açúcar, o milho, o trigo, porcos, cabras, ovelhas e galinhas, ilustravam a paisagem de onde antes estavam aldeias inteiras e com as haciendas, índios saiam de suas tribos com o intuito de trabalhar levado por contos de distribuição de terra. 

Mas, os espanhóis não se interessavam a princípio pela agricultura. A essa altura a produção de alimentos era basicamente a de satisfazer a demanda das haciendas e consequentemente das minas. Para que dessem certo as ideias colonizadoras de produção eficazes para alimentar as haciendas, a distribuição de terras regulares foi feita pelos ouvidores, onde um lote de terra devia servir para a construção de uma casa e a plantação de uma horta. O pagamento era o trabalho. As novas vilas surgiam. 

Contudo, essa visão lucrativa do colonizador de não perceber a importância da produção que estava acontecendo na Nova Espanha mudou. A concessão de terras surge. Hectares de terras indígenas foram divididos: uma parte era destinada ao núcleo da aldeia e outra reservada para a terra comunal onde seriam realizadas atividades agrícolas de agricultura e pecuária. A Coroa utiliza agora a terra para a criação de gado e mais: encorajava aqueles que a fizessem. Assim, a produção econômica da Nova Espanha muda, ou melhor, adquire mais uma forma de extração, dando assim estabilidade tanto para a Coroa como para as haciendas

Não demorou muito para que as cidades maiores começassem a gerar mão-de-obra indígena e onde nativos fizessem negociatas de compra e venda. De um lado o índio fornecia o trabalho de toda a aldeia gerando um sistema ainda maior de exploração. De outro, escravos africanos surgem como importante força de trabalho permanente, para acelerar o desenvolvimento da agricultura, da pecuária e da mineração. O índio, portanto, produzia ainda mais sob o sistema da encomienda, adotando métodos de produção para acelerar sua subsistência e adquirir o excedente exigido. 

Esse novo sistema econômico e social gerava gêneros alimentícios para os mercados urbanos, mas, não garantiu trabalhadores permanentes. A maioria, assim que recebia uma determinada quantia, voltava para suas aldeias e vilas e voltando para a cidade quando a dificuldade batia novamente à porta. Surgia então a ausência de um mercado de trabalho, que gerava ainda, a dependências de fontes externas, taxas religiosas e maior dominação. Para solucionar o problema, a maneira de aliviar a situação do colonizador foi adiantar dinheiro, roupas e etc. Emprestando renda, os endividados eram mantidos permanentemente ligado à hacienda. A vantagem só aumentava para as haciendas, para os encomiendeiros, para a Coroa e agora também, para a Igreja. 

A comercialização de todos esses produtos dava à cidade-capital uma grande concentração de pessoas, onde os lucros monetários e as transações das minas e dos rendimentos agrícolas eram negociados em dinheiro. A demanda era tamanha que a essa altura existiam dois pólos: os centros administrativos e políticos, e os complexos de mineração. 

Na América do Sul a realidade não foi muito diferente. A diferença maior foi que, enquanto na Nova Espanha (México e América Central) primeiro se basearam na mineração para depois atingir a produção agrícola e pecuária, na Nova Granada (América do Sul) ocorreu o inverso. Muito talvez pela dificuldade de extração de ouro e prata e pelos altos e baixos da topografia no Sul da América. Além dessas, o fator clima também dava aos colonizadores, dificuldades de acessar as propriedades da terra - como no alto dos Andes e as grandes altitudes. Assim, as pastagens e a cultura de milho e trigo deram novos rumos à economia da América do Sul, principalmente nas regiões do Peru, da Bolívia e do Equador. Outra grande diferença foi a presença marcante de ordens religiosas como os jesuítas que construíram a fé de proprietários, nativos e indígenas, e assim, formas de obtenção de rendas para a aquisição de terras e de manutenção das necessidades jesuítas. 

O número crescente de espanhóis foi dando novas faces para toda a América, tanto na Nova Espanha, quanto na Nova Granada. Além da mudança étnica, a paisagem foi sendo incorporada ao potencial econômico que a América espanhola gerava. Campos foram se tornando cenários de pastagens e de agriculturas. Montanhas se tornaram minas. Índios se tornaram trabalhadores assalariados e todos iam à Igreja levar seu dízimo para um lugar no Céu. A conquista das Américas trouxe aceleração de todas as formas, mas a cultura de gerar economia foi mesmo a grande modificadora do cenário. O lucro atropelou todas as culturas existentes e deixou sua marca em tudo, principalmente na disseminação de aldeias inteiras e de suas identidades. A América, para cima do México era uma nova-velha Inglaterra, e abaixo, um nova-velha Espanha.