terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sabiá


Há cerca de vinte dias, no anexo da Câmara Municipal de Araxá - onde trabalho como Assessora de Comunicação, uma visitante um tanto diferente tem feito visitas constantes. Visitas cheias de canto e poesia. Mais do que isso, fez de uma das pilasses, refúgio para que pudesse botar seus ovos, aproveitando de um ninho já construído. Trata-se de um autêntico Sabiá Laranjeira.
Na tarde de 21 de outubro, após a Reunião Ordinária, enquanto que na Assessoria de Comunicação eram feitos releases, clippings, download de fotos e arquivos, aprovações de artes, além de telefonemas (tudo pra ontem), um barulho estranho, porém doce e chamativo, foi ouvido. A “hóspede” estava toda eufórica alimentando os filhotes que por certo nasceram a pouco. Seus piados de mãe carinhosa chamou a atenção dos funcionários. Alguns dizem que há mais ou menos quatro anos ela faz daquele local, berçário para ter seus filhotes. Enquanto era observada a cena, o pai Sabiá aparece com mais comida. Rapidamente a mãe saiu atrás de alimento. Ou seria vice-e-versa?
Em tempos onde se houve falar em extinção e eleição, a Câmara Municipal de Araxá (e principalmente essa assessora/jornalista, pois o ninho é em frente à sala de comunicação), fica feliz por ser palco de mais uma dádiva da natureza. Receando atormentar a família, preferimos não saber quantos filhotes são.
Eternizado na “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias, e em canções como a de Chico Buarque (que com Tom Jobim ganhou o primeiro lugar no 3° Festival Internacional da Canção Popular), o Sabiá é conhecido como a ave-símbolo do Brasil e pode ser encontrada principalmente nos estados litorâneos e da região Centro-Oeste, mas sua distribuição ocorre em quase todo o território brasileiro, menos na Floresta Amazônica. Seu canto é uma mistura um tanto triste mas de uma melodia lindíssima, misteriosa que nos faz procurar de onde vem aquela sonoridade típica e ao mesmo tempo diferente dentro da rotina atual.
O sabiá-laranjeira mede cerca de 25 centímetros, tem plumagem parda, com exceção da região do ventre, destacada pela cor vermelho-ferrugem, levemente alaranjada, e bico amarelo-escuro. Machos e fêmeas não apresentam diferenças aparentes e ambos têm a incumbência de construir o ninho.
O número de ovos de cada postura é quase sempre dois, às vezes três. Cada fêmea choca três vezes por ano, podendo tirar até seis filhotes por temporada. O filhote nasce aos treze dias depois de a fêmea deitar e sai do ninho também aos treze dias de idade e pode ser separado da mãe com 35 dias.
O sabiá, que pode viver entre 25 e 30 anos, migra para regiões mais quentes no inverno, voltando para o ponto de partida sempre que onde há calor.


Canção do Exílio - Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.