terça-feira, 24 de setembro de 2013

Expocigra – feira multissetorial do Vale do Rio Grande apresenta fomento industrial e conquista uberabenses

A Expocigra – 1ª Feira Multissetorial do Vale do Rio Grande abriu para a cidade de Uberaba a portas das indústrias locais. Realizada pelo Centro das Indústrias do Vale do Rio Grande – Cigra, a feira traz a público a imensa produção industrial municipal e regional, focando não somente a apresentação, mas acima de tudo, levando a importância do setor para a economia de toda a região do vale, como gerador de renda e emprego.

Durante todos os dias o que se pode ver foi uma imensa integração entre empresários e visitantes. Aberta na quarta-feira, 18 de setembro, a Expocigra já começou mostrando que seria um sucesso. Autoridades e empresários da cidade puderam conhecer e apresentar os produtos industrializados de Uberaba e região. A solenidade de abertura foi feita com o presidente do Cigra, Marcelo Zaidan que comentou a importância da feira como mostra da indústria da cidade e marco, visto a nova fase da indústria regional.

Importantes representantes da cidade no Estado estiveram presentes, como o Secretário de Ciências, Tecnologia e Ensino Superior, Nárcio Rodrigues representando o governador de Minas, Antonio Anastasia. O secretário exaltou a importância da Expocigra através do papel de recuperar a imagem das indústrias da cidade e apresenta-las ao público local. O secretário também comentou a importância da chegada da fábrica de turbina a gás, onde Uberaba fará parte do projeto do governo estadual. Ilustrando o projeto, no estande da secretaria esteve exposto durante toda a feira, o protótipo de um avião. O avião-projeto, conhecido como Tupã em homenagem a cidade em que foi construído, Tupaciguara, está bem adiantado, transformando em um futuro próximo a cidade em sede do aeródromo no Estado para testes de aeronaves.

O segundo dia da Expocigra marcou a importância da inovação como ferramenta para o setor industrial. Paralelo ao evento e através da parceria com o Sistema Mineiro de Inovação – Simi, o 3º Siminove – Seminário de Inovação e Empreendorismo trouxe profissionais de diversos setores econômicos e industriais, contemplando temas como inovação como oportunidade para novos mercados; investimentos em inovação; inovação aberta; competitividade; modelo de negócio inovador; e empreendorismo.

Destaque para a palestra magna ministrada pelo Coronel Marco Antonio Sala “Turbina a Gás – um projeto para Uberaba”, que trouxe a importância da instalação da empresa como salto não somente para a economia da cidade, como do Triângulo Mineiro e de Minas Gerais. O palestrante comentou que pesquisa, desenvolvimento e produção de turbina a gás possuem efeito de arrasto tecnológico, tornando a indústria brasileira mais competitiva globalmente.

Trezentas pessoas participaram, entre empresários, empreendedores, pesquisadores e estudantes universitários e de ensino técnico, buscando novas ideias e conhecimentos. Através da realização do 3º Siminove, a Expocigra traz sua maior responsabilidade: a de ser elo entre o empresário local e as novas tecnologias.

Em sumo a Expocigra marcou definitivamente seu espaço no calendário local. Já em sua primeira edição, a feira conseguiu mostrar a importância do setor e mais: levou aos visitantes a tradução do crescimento que Uberaba passará em alguns anos, alertando não só o empresariado, mas a cidade como um todo.

Houve ainda espaço para a cultura local com a apresentação de músicos de renome durante todos os dias de feira, com o intuito de comemorar a realização de negócios. No sábado, dia 21/09, a Expocigra apresentou desfile organizado pelo Sindicato do Vestuário de Uberaba – Sindivestu, levando ao conhecimento a qualidade das empresas locais.

Milhares de visitantes estiveram presentes, buscando conhecimentos, informações além de aproveitarem a oportunidade e fazerem bons negócios. “Lançamos a semente. O que o Cigra na sua atual gestão pretende é que essa não seja a única, mas sim a primeira de muitas Expocigra”, finaliza o presidente Marcelo Zaidan. 

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Ah quem dera...

Quem dera se meus medos fossem o da noite fria, escura e calada.
Quem dera se meus medos fossem da visita inesperada do lobo faminto ou do encontro com o gado selvagem.
Quem dera se meus medos fossem apenas o da tempestade, com seus raios relâmpagos e trovões.
Quem dera se meus medos fossem apenas de encontrar pelo caminho cobras peçonhentas e que para driblá-las, precisasse aquietar e racionalizar como fazer.
Quem dera se meus medos fossem ainda o do súbito em acordar de um pesadelo horrendo... 
Ou ainda que se resumissem somente no medo do inverno rigoroso, que gera a seca e a fome de tantos...
Quem dera se todo dia, minha única fraqueza fosse a de levantar de um sono tranqüilo.
Quem dera se a solidão não fosse vista como um fantasma... E que o amor pudesse ser maior que todos os medos.
Quem dera se a minha sabedoria oculta, pudesse fazer de mim, coragem. E que fosse forte pra espantar todos os medos, e deixasse apenas a noite fria, escura e calada, o lobo faminto, o gado selvagem, a tempestade, as cobras, os pesadelos e o inverno rigoroso... deixando assim apenas a paz necessária para me abastecer. 

segunda-feira, 29 de abril de 2013

O que fez com que os gregos tivessem a necessidade de criar a filosofia, a política e o espaço público?

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As origens de conceitos que hoje vemos como algo tão natural, tais como a civilização e a política, surgem numa época distante, e que, foram marco importante para o que conhecemos hoje. As concepções que temos desses que são para nós termos já tão discutidos e de convivência desde os primórdios, teriam suas primeiras percepções entre os séculos IX e VII a.C. Uma pergunta aguça nossa curiosidade: o que fez com que os gregos tivessem a necessidade de criar a filosofia, a política e o espaço público?
Braudel (Gramática das Civilizações. São Paulo: Martins Fontes, 2004), vê o Mediterrâneo antigo como um conjunto de conquistas. Para ele a sociedade modifica o ambiente. Ainda que a geografia não interfira o meio, ela modifica e se relaciona com a história. A palavra ‘civilização’, tem origem na antiguidade, mas somente no século XVIII durante o Iluminismo na Franca, a palavra cria significação e surge como é vista hoje. Falar em civilização é falar em espaço, que não permanece alterado, mas, muda. As tensões sociais geram as primeiras civilizações, que são econômicas e materialistas. Além de espaços, economias e sociedades, a civilização também é mentalidade coletiva que são ainda, relações coletivas. 
Muito antes de se conhecer os conceitos de política e civilização, o chamado “milagre grego” nas suas formas de falar e escrever deu ao mundo duas facetas: os lineares Alfa e Beta (A e B). Esses dois lineares deram à Grécia suas peculiaridades, personalizando e dando ao grego as propriedades que desde a antiguidade o coloca como diferencial na história da humanidade. Mas, esse povo tão respeitado pelas suas conquistas eram na verdade, povos imigrantes mestiços oriundos da mistificação de tribos e de etnias tanto do Ocidente quanto do Oriente. Podemos perceber isso citando Jean-Pierre Vernant em “As Origens do Pensamento Grego”, já no primeiro capítulo, página 13:

No começo do II milênio, o Mediterrâneo não marca ainda em suas duas margens uma separação entre o Oriente e o Ocidente. O mundo egeu e a península grega se ligam sem descontinuidade, como povoação e como cultura, de um lado com o planalto Anatólio, pela série das Cíclades e das Espórades, e de outro, por Rodes, pela Cilícia, por Chipre e costa norte da Síria, com a Mesopotãmia e o Irã. Quando Creta sai do Cicládico, em cujo decurso dominam as relações com a Anatólia, e quando constrói em Festos, Mália e Cnossos sua primeira civilização palaciana (2000-1700), permanece orientada para os grandes reinos do Oriente Próximo.

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“Entre 2000 e 1900 a.C. uma população nova irrompe na Grécia continental” (As Origens do Pensamento Grego. São Paulo: DIFEL, 2010, p. 14). As características que marcaram o Heládico antigo, como os utensílios domésticos, a cerâmica, as ferramentas e as armas, passam por modificações e outros traços rompem, marcando a ruptura do homem e da civilização da idade anterior. As invasões vão se tornando cada vez mais sucessivas e a colonização no Mediterrâneo ocidental vão constituir o mundo grego como conhecemos. O antepassado do homem grego é de vários lugares. “Seu aparecimento nas margens do Mediterrâneo não constitui um fenômeno isolado” (As Origens do Pensamento Grego. São Paulo: DIFEL, 2010, p. 14). Vários traços de novas civilizações e povos surgem, dando a condição do que o grego se torna. Tróia, Creta e outras vão se tornando gregas como a Grécia se tornando uma colonização. Maneiras de se eternizar esses acontecimentos transformam a história, como através de escritas em facetas de barro que quando importantes, eram queimadas para se tornar um fato histórico.

Creta lhes revelou um modo de vista e de pensamento inteiramente novo para eles. Já se esboçou esta cretização  progressiva do mundo micênico que resultará, após 1450, numa civilização palaciana comum na ilha Grécia continental.

Ainda não existia a polis e para Vernant, “enquanto não existiam as cidades, não existia a política”. O surgimento do que seria a polis acontece com a crise da soberania e o desaparecimento do ánax. Surge a ideia do corpo social, o uno.

Poder de conflito – poder de união. Eris-Philia: essas duas entidades divinas, opostas e complementares, marcam como que os dois pólos da vida social no mundo aristocrático que sucede as antigas realezas. A exaltação dos valores de luta, de concorrência, de rivalidade associa-se ao sentimento de dependência para com uma só e mesma comunidade, para com uma exigência de unidade e de unificações sociais.

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Refletido essas expressões, o grego vê a implicação de uma centralização política e administrativa. Junto nasciam os conflitos, a disputa por meios de produção e o acesso ao território e sua defesa. O comum deve ser o comum de todos. Os palácios não têm mais o efeito de oponente e surge a centralização da cidade: a Ágora. Como o espaço da Ágora definido, “Esse quadro urbano define efetivamente um espaço mental: descobre um novo horizonte espiritual. Desde que se centraliza na praça pública, a cidade já é, no sentido pleno do termo, uma polis.” (As Origens do Pensamento Grego. São Paulo: DIFEL, 2010, p. 51).
“O conflito foi uma das chaves da história das cidades-estado” (História da Cidadania. São Paulo: Contexto, 2008, p. 36). Em contrapartida, todos eram iguais. Norberto Luiz Guarinello no capítulo ‘Cidades-Estado na Antiguidade Clássica’, comenta ainda:

É um período de grandes transformações econômicas e sociais, quase uma revolução. Assim como os Estados-nacionais devem sua consolação, senão sua formação, à industrialização, ao desenvolvimento do capitalismo e á expansão imperialista da Europa no século XIX, as cidades-estado também surgiram num quadro de grandes mudanças econômicas e sociais, ainda que suas novidades seja, hoje, difícil de perceber. 

“As cidades-estados surgiram, assim, num quadro de crescimento econômico e social” (História da Cidadania. São Paulo: Contexto, 2008, p. 32).

O termo “cidade-estado” não se refere ao que hoje entendemos por “cidade”, mas a um território agrícola composto por uma ou mais planícies de variada extensão, ocupado e explorado por populações essencialmente camponesas, que assim permaneceram mesmo nos períodos de mais intensa urbanização no mundo antigo.

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A organização comunitária traça o panorama do conceito de cidade-estado. Sua formação através de associações de proprietários privados da terra dava acesso apenas àqueles que fossem membros da comunidade. Fechadas, as cidades-estados se erguiam e se estruturavam entre indivíduo e comunidade. Tudo era a mesma coisa, desde que o indivíduo fosse visto como cidadão, e, a ausência de um poder superior gerava conflitos. Eram os interesses em conflito que geravam as disputas internas, oriundos pelas regras de exclusão e inclusão do no espaço público.

Indivíduo e comunidade, portanto, não se negavam reciprocamente na cidade-estado antiga, mas, se integravam numa relação dialética. O indivíduo, proprietário autônomo de seus meios de subsistência e de riqueza, só existia e era possível no quadro de uma comunidade concreta – que possuía, por assim dizer, de modo virtual o território agrícola. Propriedade individual da terra, fechamento do acesso ao território e ausência de um poder superior que regulasse as relações entre os camponeses foram os fatores essenciais na história dessas comunidades camponesas.

Três fontes de diferenciação interna ilustram a diferenciação nas cidades-estados. A primeira, a das mulheres que, embora, tinham sua posição diferenciada em cada cidade, permanecida à margem da vida pública, sem direito á participação política, sem direitos individuais, sob tutela e dominadas pelo homem que considerava o lar como o único apropriado ao gênero feminino. Consideradas membros menores da comunidade, eram consideradas não-cidadãs.
O segundo elemento de conflito surge com a diferenciação de jovens e idosos dentro do controle das cidades-estados. Como eram fundadas e legitimadas nas tradições, os velhos tinham domínios sobre os jovens e mesmo sobre questões como as militares.
O terceiro elemento de conflito é o mais importante, pois tem suas origens na propriedade privada da terra – o principal meio de produção e responsável pelas relações de trabalho com a comunidade. 

Desde que temos registros, escritos ou arqueológicos, as cidades-estados aparecem marcadas por profundas clivagens sociais: grandes, médios e pequenos proprietários, estes últimos, muitas vezes, no limiar da subsistência; camponeses sem terra, que alugavam sua força de trabalho para um grande senhor; e os não camponeses, como artesãos e comerciantes, que habitavam o núcleo urbano e cuja posição, no seio da comunidade, foi sempre ambígua.

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Mais que uma cidade, a polis é uma ideia política. Uma concepção de sociedade.  Aristóteles via como uma comunidade de cidadãos.  Com o processo de formação da polis a ideia de propriedade privada, faz da terra uma comunidade de proprietários, que a defendem sem a presença de um soberano/rei. Sem a presença desse ‘rei’(ánax), os problemas eram resolvidos pelo coletivo. Aparece ainda o cerco do território, dando-se a organização da comunidade que não mais pertence a uma tribo ou coisa parecida.
A polis tem a identidade do coletivo. Na parte mais alta da polis, a Acrópole, essa ideia é um pouco minimizada, mas ainda sim, formada por coletivos. As poleis têm toda a identidade de seus cidadãos, além de ser uma sociedade política. A ideia de Política do mundo antigo não tem raízes concretas. Moses Finley, em Política no Mundo Antigo comenta as fontes que não são claras em dizer quem foram de fato os percussores do conceito de política.

A política, no sentido que lhe damos, insere-se nas atividades humanas do mundo pré-moderno. Com efeito, foi uma invenção grega ou, talvez mais corretamente, invenções independentes de Gregos, de Estruscos e/ou Romanos. Segundo se presume, existiam outras comunidades políticas no Próximo Oriente, pelo menos entre os Fenícios, que depois trouxeram as suas instituições para Catargo, no Ocidente.

E completa: “As fontes não nos dão grande ajuda. Os Gregos e os Romanos inventaram a política e, como todos sabem, inventaram também a história política, ou antes, a história da guerra e da política. Mas aquilo que todos sabem é impreciso: os historiadores que se dedicam à Antiguidade escreveram sobre a história dos planos políticos (policy), o que não é o mesmo que política (politics); escreveram primeiramente sobre os planos de política externa, ocupando-se da mecânica da realização desses planos (à parte os discursos no Senado ou na Assembléia) apenas em momentos de conflito agudo com tendência para a guerra civil” (Política no Mundo Antigo. Lisboa: Edições 70, 1983, p. 71).
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A história da Grécia Antiga é única e limitada a uma região que demarca o mapa do mundo. Todavia, não é a história do mundo nem da humanidade. Duas visões dão o sentido da historiografia para a antiguidade clássica. Braudel vê a necessidade do historiador em ter uma percepção multidisciplinar, através da sociologia, da filosofia, da psicologia e da antropologia. Para Guarinelo, “Se há contribuição cabível ao historiador da Antiguidade, é justamente aproximar dois mundos diferentes, mantendo sempre a consciência dessa distinção, e evidenciar processos históricos que podem iluminar os limites e as possibilidades da ação humana no campo das relações entre indivíduos. (História da Cidadania. São Paulo: Contexto, 2008, p. 29). 

terça-feira, 19 de março de 2013

Helenismo - nascimento do conceito grego dentro das culturas


Busto de Alexandre
Quando Alexandre Magno morre em 323 a.C., o “senhor da Macedônia, da Grécia, da Ásia Ocidental e do Egito” (Os Gregos Antigos. Lisboa: Edições 70, 1963, p. 145) deixa suas fronteiras à beira daquilo que talvez, nem ele e muito menor seu falecido pai Felipe II, poderiam se quer imaginar. Nascia junto à sua morte o período helenístico que emprestava toda a culturalidade grega e suas propriedades, a outros territórios que pretendiam se identificar e imitar aquela que até então era a mais bem feita forma de governança. Na verdade, muito do que o mundo contemporâneo é, mesmo nos dias de hoje para alguns. É o que o historiador Moses Finley comenta no capítulo 8 de seu livro ‘Os Gregos Antigos’:

A sua curta vida passara-se totalmente em campanhas. Se possuía algum programa de vasto alcance, quer para a organização do seu império ou para conquistas futuras, quer para a sucessão no trono, os planos morreram com ele. Parece que depositava inteira confiança nos generais e soldados macedônios e confiava pouco nos gregos e que se preparava para dar acesso à nobreza persa. Contudo, os vários projetos que os estudiosos modernos gostam de atribuir a Alexandre são altamente especulativos, sem fundamentação séria em provas existentes. De qualquer modo a morte de Alexandre pôs termo a esses possíveis planos e ao seu império.

Meio século de lutas emergiu o modelo territorial e militar helenístico. Apesar de ser considerada por M. Finley como “fastidiosa, monótona e, por vezes, repulsiva, de guerra contínua, má fé e assassinos freqüente” (Os Gregos Antigos.Lisboa: Edições 70, 1963, p. 146), a história política helenística foi levando para os reinos através de lutas, o aumento de seus territórios a custa de outros. Muitos desses tentaram movimentos de independência, todos com muitas batalhas. Foram sendo implantados os elementos característicos da polis grega como a ágora e os templos, além da língua que se tornava oficial.
O Império Macedônico
As conquistas acentuavam-se intensamente, por meio do domínio macedônico/grego, originados pela genuinidade de Alexandre. E foram essas conquistas que resultaram uma cultura vasta, feita por persas, judeus, celtas e egípcios, tendo como base cultural o grego, que permite estruturar toda a culturalização do Mediterrâneo, com o padrão grego original.
“A realidade, contudo, era decididamente não grega.” (Os Gregos Antigos. Lisboa: Edições 70, 1963, p. 147). Prova disso são as cidades helenísticas, que ao invés de terem a idéia de polis como uma organização política e uma concepção de sociedade, funcionavam como centros administrativos, não possuindo, portanto, poder de decisão. Mesmo assim, as cidades helenísticas continuam realizando assembléias. A soberania não está mais na ágora e mesmo considerados cidadãos, os mesmos não tinham autonomia.
A grande expansão grega é a polis. Como essa de fato não permanece nas cidades helenísticas, surge o conceito de ‘continuação helenística diluída e modificada’ à maneira grega, perdendo assim o status de cidade clássica grega para o conceito de poderio único de uma autoridade ou de um soberano. Mesmo com a realização de assembléias e não desaparecendo os termos de magistrados para a decisão de assuntos da esfera local, na era helenística as cidades perdem a soberania política para se converter a uma esfera administrativa. Como por exemplo, com o tratamento das questões militares que eram decididas após uma posição de Atenas. M. Finley traduz o nascimento do conceito que ilustra o modelo de governo do Império Romano:

M. Finley - 1912-1986
Apenas no continente grego e nas ilhas do Egeu (sobretudo Rodes) se lutou com alguma conseqüência para manter a vida política grega tradicional. Onde quer que a dinastia Antigónida obteve o controle total, o modelo helenístico prevaleceu, porque os Antigónidas se tornaram (ou tentaram tornar-se) tão absolutos como os seus rivais do Oriente. Contudo, a sua situação era significativamente diferente: na pátria, onde tinham a base, continuavam reis macedônicos, governando macedônicos, sem poder assumir o estilo de Próximo-Oriente de autoridade absoluta; e, no território grego conquistado, não havia população grega. Muitas vezes, o seu controle era escasso, por vezes até nem existia, numa ou noutra região, de modo que, até a conquista pelos romanos, nos meados do século segundo a.C., se pode falar de uma continuação da polis Grécia, embora diluída e modificada.

Grande parte das conquistas se fez devido a posições de segurança que expressavam sob a cultura aliada, que eram vistos como bárbaros pelos gregos. O helenismo trazia a retirada da soberania política, o aparecimento de um ser até então não conhecido – o Imperador e a renúncia do mundo em busca de uma razão interior. Foi esse relacionamento entre a cultura grega e as culturas nativas que mais adiante dá nome a uma filosofia. A estrutura de monarquia helenística e seus cultos aos monarcas que Alexandre deixou firme (quando se elevou filho de Zeus, pelos sacerdotes de Zeus-Amón identificando as duas culturas – grega e egípcia), pode ter sido o primeiro passo para o que chamou-se Estoicismo.
Diferente da polis grega, as cidades helenísticas diferenciam política de religião. É na era helenística que nascem as religiões com uma visão universal, sem radicais determinantes de cidade, região ou país. A polis, como perdera a qualidade de poderio, não capacitava mais ser o centro da vida espiritual do homem. A filosofia e a religião helenística davam a consolação e a esperança a um mundo em que as perspectivas materiais eram débeis e a política já não era objeto de análise racional, em que, por conseguinte, a ética tinha de se divorciar da sociedade e ainda mais da política corrente (Os Gregos Antigos. Lisboa: Edições 70, 1963, p. 151). M. Finley comenta:

No mundo helenístico, com sua população muito heterogênea e os seus antecedentes históricos mistos, as possibilidades de confusão, de mescla do humano e do divino, do sagrado e do secular, não tinham limites. Sejam quais forem os matizes, subsiste o fato de que o culto do governante se tornou parte integrante do politeísmo helenístico, junto de todos os setores da população.

Esses relacionamentos culturais marcam o fim do período helenístico. A evolução em decurso paralelo que geram o estoicismo garante a principal escola filosófica dos romanos, que como os judeus, não vão negar suas culturas e utilizam a cultura grega não como única, e sim, como aperfeiçoamento de suas idéias. Ao unir as culturas, os romanos não abdicam, por exemplo, a própria língua, mas somam a língua grega às suas culturas. O estoicismo fundado por Zenão no século III a.C., preconizava a indiferentismo ao prazer e a dor. Uma resignação na dor e na adversidade. M. Finley ilustra a filosofia do estoicismo aos olhos dos romanos, numa doutrina de vocação e dever, sobretudo para os governantes (Os Gregos Antigos. Lisboa: Edições 70, 1963, p. 152).

Para esses homens de ação, obviamente, a fraternidade humana e a regra da razão natural tinham tonalidades muito diferentes das do primeiro estoicismo. O objetivo agora era encontrar uma base moral sobre o qual governar um império, e após Augusto ter estabelecido um governo monárquico em Roma, ela restringiu-se ainda mais ao governo por um monarca absoluto. O rei, que também era um filosófico, tornou-se o estóico ideal, assim como o Cínico.

Arte helenística 
A “criação” do grego surge aproximadamente no século V a.C. sendo sua formação resultado da junção de vários povos. Desta forma, com a queda dos domínios gregos, surge o domínio romano. São os romanos que vão herdar as formas de relação dos gregos – como no caso de Alexandre e as relações de organização das póleis. A conquista gradual do mundo helenístico inundou Roma e a Itália com as idéias gregas, as obras de arte gregas e escravos falando grego. (...) é impossível discutir as idéias romanas separadamente dos seus modelos ou inspiração gregos (Os Gregos Antigos. Lisboa: Edições 70, 1963, p. 152 e 153).
Assim, o Império Romano foi pouco a pouco se beneficiando do helenismo que resultou na invasão do território grego e, todavia, com o fim do período helenístico. Nascia uma nova era. Uma era ocidental. O imperialismo romano criado através do processo de expansão trouxe consigo características que resultaram em camada senhorial, referências do que se tornava a aristocracia imperial romana. Junto dela, a escravidão de povos conquistados ou por dívida dava forma para aquele que seria o maior de todos os impérios. Um terço da população da península itálica é feita por escravos por diferentes formas de exploração de trabalho.

A escravidão não só influenciou a vida romana, como a vida romana influenciou a escravidão. A polis Roma nasce como uma junção de propriedades. Conforme vai se transformando em polis, o ‘cidadão’ romano pobre e escravo vai perdendo essa condição. E a escravidão por dívida é a primeira forma de escravidão conhecida em Roma e vai sendo abolida com o tempo. Passam a se organizar politicamente, transformando-se economicamente, inclusive conforme vão sendo participativos nas guerras. Os escravos por dívida pleiteiam suas participações políticas, num processo que durou aproximadamente uma década.

A origem da escravidão surge com as tensões e os conflitos sociais, oriundos da expansão militar. Fábio Joly em A Escravidão na Roma Antiga (São Paulo: Alameda, 2005) comenta a origem daquela que seria a relação de dominação permanente e violenta de pessoas desraizadas e desonradas. (A Escravidão na Roma Antiga. São Paulo: Alameda, 2005, p.33).

Os historiadores acreditam que a plebe romana tenha sua principal origem no constante afluxo de populações vizinhas em direção à cidade, o que levaria a conflitos sociais com as aristocracias latinas e etruscas aí estabelecidas.

Assim, a escravidão em Roma foi tendo um caráter pessoal e distinto. Foi se tornando uma conquista política e de certa forma, tão presente na história de Roma. (A Escravidão na Roma Antiga. São Paulo: Alameda, 2005, p.34).

Contudo, sustenta-se que a escravidão sempre presente na história romana. (provavelmente mais decorrente de dívidas do que da captura em guerras, embora esta tenha sido uma fonte), complementando a mão-de-obra do camponês, formada por membros de sua família e por clientes. Com o fim da monarquia etrusca e o crescimento do território por meio de campanhas militares, ter-se-ia consolidado em algumas áreas da Itália uma forma de exploração do trabalho mais calcada na escravidão-mercadoria.

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O poder e as formas dele iam sustentando o crescimento não só da escravidão, mas do crescimento populacional de Roma e seus territórios. E a dependência ou não desse processo, cabia a senhor relacionar com seus escravos. Em alguns casos, há presença de escravos independentes. A independência desses escravos pode ser resumida pela observação dos senhores em perceber que o bom relacionamento com seus escravos os preveniam de rebeliões e revoltas. (A Escravidão na Roma Antiga. São Paulo: Alameda, 2005, p.35).


Formou-se então, encabeçado por Roma, um complexo sistema de territórios com povos e cidades aliadas que deviam tributos e serviam nas legiões. Por meio de uma política de não-intervenção direta que permitia relativa autonomia local, Roma construiu sua base de poder e centralizou recursos financeiros e militares.

Formas de conquista e dominação garantiam certos tipos de relações de integração com a população, principalmente em torno da terra. Com a intenção de legitimar o senso romano, várias alternativas foram levando os senhores a ter a relação de poder com seus escravos, inclusive de liberdade. Ou algo que lembrasse isso. (A Escravidão na Roma Antiga. São Paulo: Alameda, 2005, p.38).

Logo, impôs-se que a idéia de liberdade, naquele período da história romana, referia-se muito mais a uma liberdade perdida do que propriamente a uma oposição com a escravidão-mercadoria, que então iniciava sua penetração no tecido econômico e social de Roma. Essa última forma de exploração do trabalho acentuou-se entre os séculos III a.C., momento característico, pela apropriação do ager publicus (terra pública) por grandes proprietários em detrimento do campesinato-cidadão cada vez mais empenhado nas lides bélicas.

Foram dessas relações que surgia a idéia do bom relacionamento entre senhores e escravos, como forma de impedir fugas e rebeliões. O acontecimento em 73 a.C., onde gladiadores se entregavam à derrota como forma de revolta e que teve como castigo a crucificação de seis mil corpos, foi visto como exemplo e de onde comunidades foram criadas, recebendo escravos fugitivos. Essas rebeliões eram também compostas por camponeses. O dilema de todos resumia-se na participação nos problemas a serem resolvidos entre as guerras, as conquistas e as reflexões sócio-política e onde Cícero comenta em suas obras, ou escravidão moral. Na íntegra nada mais era do que a forma de tratamento da questão escravidão, vista pelos romanos e por Aristóteles como algo natural. Tudo girando em torno do que todo o império era: uma grande comunidade cívica, guerreira e política. Tão política que recompensava com a liberdade aqueles escravos que fossem considerados honestos e obedientes (A Escravidão na Roma Antiga. São Paulo: Alameda, 2005, p.41).

Fabio Joly
(...) com as conquistas romanas, o afluxo de escravos e as revoltas servis, compreende-se por que então justificar a escravidão significava necessariamente justificar o imperialismo romano e o papel de liderança que nele tinha a aristocracia. (...) Todos aqueles que pertencessem a cidade hostis eram moralmente indignos (improbi), agiam injustamente e logo eram passíveis de ser derrotados e escravizados. Vê-se que a teoria ciceroniana da escravidão combina dois componentes da ideologia da nobilitas: a comunidade cívica e a guerra.
Se, por um lado, a escravidão é uma punição justa àqueles que colocam em risco a cidade, por outro, é um estágio temporário para que os vencidos possam inserir-se na comunidade dos vencedores, moralmente superior. Diz Cícero que a liberdade é a recompensa daqueles prisioneiros de guerra que se mostraram honestos e diligentes. Ora, remete-se aqui à identidade entre libertas e ciuitas que a manumissão do escravo podia operar na Roma antiga.
Enfim, a escravidão transparece no pensamento ciceroniano como uma questão política, pois decorre de um processo de expansão territorial e cooptação de novos elementos para a comunidade romana. Como observaram alguns estudiosos, a ruptura com a teoria aristotélica é clara e destaca ainda mais a particularidade da escravidão romana ante sua correspondente grega. Para Aristóteles, na Política, a escravidão é uma instituição fundamentalmente doméstica, fora dos limites da polis. A relação senhor-escravo é uma comunidade entre um que comanda por natureza e outro que, pelo mesmo princípio, é comandado, e cuja finalidade é a sobrevivência.

Todavia, muitas fontes contestam a naturalidade da escravidão em Roma e os bons tratos que escravos receberiam de seus senhores. Indubitavelmente, o trabalho compulsório e a violência – inclusive sexual – sempre acompanharam a história da escravidão romana (A Escravidão na Roma Antiga. São Paulo: Alameda, 2005, p.58).
A escravidão, além de dívidas e da conquista, também era feita entre casais. A mulher da Roma Antiga depois que esposava-se, tornava-se propriedade do marido e do senhor dele e devia obediência aos dois, sendo vista com ‘escrava’ e não passando apenas de um elemento da casa. Os filhos frutos do casamento como eram cidadãos romanos, eram vistos pelo império como filhos de Roma, portanto, estavam também sob o poder.
Assim, a escravidão está em Roma como Roma está na escravidão. O colonato resume bem isso. Entre os romanos, o método de exploração da terra e o tipo de relação social de produção em que o colono e sua família ficavam ligados, era perpetuamente relacionado à terra que cultivavam – sendo essa uma consideração das formas de transição do escravismo à servidão feudal. (A Escravidão na Roma Antiga. São Paulo: Alameda, 2005, p.74):

Se por uma lado a pauperização de setores dessa população tornou a partir de certo momento desnecessária a escravidão, por outro, as transformações nessa instituição, estabelecendo novas trajetórias para escravos e libertos, como aquela possibilitada pelos Latini Juniani, também desempenharam um papel nesse processo histórico que, por final, acabou culminando na servidão medieval.
Cidade helenistica-romana de Hierapolis

Se a escravidão em Roma tinha um caráter político, o regime imperial decreta a morte da política. Joly ao citar Finley no último parágrafo do capítulo “Escravos e libertos na economia” ao falar da mudança de escravidão para colonato, finaliza mostrando como essas transformações estabeleceram as trajetórias desse que junto com a história da política em Roma, foi também importante para a sua história na antiguidade.