terça-feira, 19 de abril de 2011

Cartas de amor

Hoje de manhã, ouvindo o primeiro DVD de "O Teatro Mágico" ouvi uma citação que me instigou (e eu adoro  me sentir instigada). Na introdução de uma música, Fernando Anitelli (líder da trupe) citou: "Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas", lembrando ser de Ferndando Pessoa.
Resolvi pesquisar no meu amigo google e descobri que o poema (ou seria poesia?) é ainda mais instigante. Inclusive observei que em alguns momentos de sua obra, assinava como Álvaro de Campos (como nesse poema ou poesia - não sei), utilizando de um heterônimo - personagem fictícia, criada por escritores (como o caso de Fernando Pessoa), cujo objetivo é tentar compreender e propagar diferentes maneiras de ver a realidade exterior/interior, tentando manter distância da visão da realidade ortônima. Agora, à leitura. Instiguem-se:


Todas as cartas de amor...

 
Todas as cartas de amor são

Ridículas.

Não seriam cartas de amor se não fossem

Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,

Como as outras,

Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,

Têm de ser

Ridículas.

Mas, afinal,

Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor

É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia

Sem dar por isso

Cartas de amor

Ridículas.

A verdade é que hoje

As minhas memórias

Dessas cartas de amor

É que são

Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,

Como os sentimentos esdrúxulos,

São naturalmente

Ridículas.)