sexta-feira, 15 de julho de 2016

A Fazenda Autossustentável

O século XXI transformou a rotina da humanidade em todos os sentidos. Inclusive dentro da fazenda, onde as tecnologias contribuem para o trabalho no campo, permitindo recordes de produtividade ano após ano. Em contrapartida a responsabilidade ambiental passou a ter um papel cada vez mais importante no agronegócio.


Granja { Dejetos  > Agricultura Irrigada > Indústria }
Foto: Karine da Fonseca
Paralelamente às tecnologias atuais, nasce o conceito de agronegócio sustentável que resulta na união entre produção de alimentos, respeito ao meio ambiente, e lucro. Mas, como desenvolver na prática técnicas que muitas vezes ainda estão no campo das ideias? E como aplicar essas técnicas à exigência de produção cada vez mais alta de alimentos?
Desde a década de 1970, a Alemanha desenvolve técnicas de transformação de dejetos de suínos em energia para alimentar a demanda de fazendas. A técnica é basicamente a queima de gás metano através de biodigestores, produzindo assim o biogás que gera energia. A utilização do gás metano é altamente sustentável, pois sem ela, o gás chega à atmosfera gerando transtornos climáticos em função do aquecimento global.
No Brasil, a Lei 12.305 de 2010, determina no artigo 9º, que somente poderão ser destinados à destinação final os resíduos que não têm nenhum tipo de aproveitamento. Os números mostram que 50% dos resíduos gerados no país, não podem ser enviados aos aterros sanitários, precisando, portanto passar por tratamentos através de centrais tecnológicas. No caso dos resíduos orgânicos, quatro tratamentos podem ser feitos: a incineração, a compostagem, a diluição e a biodigestão. Cada um desses processos casa com a demanda da propriedade.
Procuramos exemplos no Brasil para desenvolver material onde pudesse apresentar aqui, modelos que fossem verdadeiramente adaptáveis às condições do agricultor brasileiro. E mais precisamente no estado do Mato Grosso, na região entre os municípios de Sorriso, Lucas do Rio Verde e Tapurah, conhecemos casos de sucesso que têm, através das experiências do dia-a-dia, desenvolvido formas de conseguir equilíbrio entre o desenvolvimento sustentável e a lucratividade.
A surpresa vem do que era então descartado. Dentro dessas propriedades, os dejetos de suínos e frangos agora geram renda e têm duas finalidades importantíssimas: a geração de energia – através de biodisgestores que produzem o biogás, e a adubação das lavouras – onde biofertilizantes são jogados por meio da fertirrigação por pivôs centrais. Ou seja, o que antes era um problema, gerando transtornos para o meio ambiente, agora gera lucro e sustentabilidade.


A diversificação dentro da fazenda

Empreendedor, Carlos Capeletti percebeu a necessidade da geração de energia logo que veio do Paraná para o Mato Grosso na década de 1980. Até 2003, a energia gerada em Tapurah onde está sua propriedade, era feita através de motor. Em busca de uma solução, viu que tinha que ter um volume suficiente de suínos para alimentar o seu projeto de diversificação. “Eu sempre tive essa ideia. Quando ainda estava no Paraná, assisti uma matéria no Globo Rural onde um fazendeiro tinha 70 produtos criados dentro da sua fazenda que ele mesmo vendia. Ele não tinha atravessadores. Era autossustentável”, lembra.
Com a chegada da indústria de alimentos embutidos e defumados em 1997 na região, Capeletti viu que a ideia que teve no passado podia dar certo. Entendeu que para isso tinha que sair do macro para ser micro, agregando tudo em uma área menor e se direcionando para o sustentável. Já começou então a produzir energia: “o maior problema do Mato Grosso”.
Dedicou-se seus dias para o desenvolvimento de sua ideia. Foi até a Alemanha e conheceu a tecnologia de energia por biogás. Começou a implantar o sistema. Após várias tentativas frustradas até entender melhor, quatro anos depois viu que era através dos modelos das caldeiras das hidroelétricas e termoelétricas das usinas de álcool, onde a queima do bagaço de cana vira vapor e vapor em energia, pensou: “se eles queimam bagaço, eu posso queimar gás metano!”. Mais tentativas foram feitas até acertar: a fazenda virou granja, com agroindústria que fornece insumos para a propriedade.
Para atender o grande projeto de Capeletti, a criação de suínos tinha que ser grande. Consequentemente, precisava de um grande volume de frangos para consumir essa energia, já que os dejetos adubam as lavouras. O resultado? 2000 KVAs/dia para suprir a demanda da parceria com a BRF que oferece os leitões e os pintinhos, além da ração. Após atingirem o tamanho/tempo necessário para abate, os animais são entregues à empresa que carregam os caminhões, rodando as granjas seis vezes ao ano. Hoje, 67.500 porcos estão alojados em núcleos divididos em duas propriedades. Além de 96 aviários com 27 mil frangos/cada.
A primeira etapa desse grande projeto foi a construção da indústria de maravalha a base de eucalipto, que fornece cama para os pintinhos. Com o gás metano produzido nas granjas suínas, Capeletti construiu a primeira caldeira. Prestes a inaugurar a usina, vai produzir já em janeiro de 2016 uma termo de 2500 KVAs, suficientes para sua demanda. Toda essa energia hoje é distribuída nos horários de picos das granjas (entre às 12h às 15h – quando há necessidade de ventilação por conta do alto calor) e dos pivôs (após as 21h). A falta de energia em apenas meia hora compromete automaticamente 50% dos animais. Em duas horas, um prejuízo pode chegar a R$ 15 milhões. “Não dá para brincar”.
A fazenda, enfim, está se tornando autossustentável, onde um setor alimenta o outro: “O dejeto de suíno sustenta a energia elétrica da granja de frango, o adubo do pasto e as lavouras. O dejeto de frango aduba a lavoura através da fértirrigação. A lavoura vai para a fábrica de ração, que alimenta o gado, o frango e o suíno. O quadro autossustentável está se desenhando para um produto de alta-qualidade no final da cadeia”.
A partir da geração de energia, várias ações estão sendo implantadas de forma gradual. Todos os resíduos da fazenda serão destinados à fabricação de ração animal. A lavoura, que hoje já é toda de soja semente, terá destino comercial através da sementeira em estágio final de construção. Os resíduos do beneficiamento das sementes se transformam em ração para boi.
O descarte dos animais por morte natural, entre 3 a 5%, vai para a graxaria, onde as carcaças são congeladas em câmara fria e trituradas. O resíduo desse processo é posteriormente frito numa espécie de caldeira, como se fosse uma enorme panela de pressão. Nesse momento que é separado o óleo da farinha de carne que, por conta da grande qualidade proteica, é vendida para a fabricação de ração para peixes. O óleo é destinado à fábrica de biodiesel, num processo altamente limpo, retirando o metano da atmosfera sem fumaça, fuligem ou cinzas. Caso a taxa de mortalidade atinja índices maiores de 5%, há necessidade de comunicar o INDEA – Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso.
Com a autossuficiência da granja de suínos, a ideia é plantar capim somente com adubo orgânico em 270 hectares, fertirrigados desta vez através de sistema de malhas, em locais onde não tem como passar o pivô. O capim fará o trato dos bois que estarão no cocho, buscando a meta de 25 cabeças/ha, já que não haverá pisoteio no campo e sim corte, oferecendo carne nobre. “E assim por diante. A gente vai fazendo todo o processo para chegar no dia que teremos nosso próprio frigorífico, e conquistar a ideia do passado de agregar valor. Aqui o que é considerado lixo para muitos, é para nós matéria-prima de outra cadeia”.
E não para por ai: Capeletti, com a fertirrigação viu que tem como concorrer nas gôndolas e oferecer outros produtos de alta qualidade, como o feijão e o arroz. Nove pivôs fertirrigam hoje 2.300 hectares de 30 mil ha. Um número muito maior dos 750 ha que ganhou do pai quando veio para o MT. A ideia de irrigar surgiu exatamente para solucionar o problema com os dejetos. O problema garantiu três safras/ano. Após testes, o arroz será plantado nas chuvas e fertirrigado, beneficiando muito bem à época das águas.
Além de auxiliar no controle da fertirrigação, todos os bombeamentos, tanto dos dejetos quanto do resfriamento e circulação de água das caldeiras, foram dimensionados e comercializados pela Valmont: “A Valley está no processo do resfriamento da água, do bombeamento da lagoa e em todo o projeto de resfriamento da caldeira. Foi muito importante para a fértirrigação e agora está conosco em mais essa batalha”.
Vinícius Melo, agrônomo e supervisor regional de vendas da Valmont explica: “O dejeto é ambientalmente um problema. O suinocultor tem que aplica-lo de alguma forma. Se é uma propriedade pequena, ele vai usar chorumeira, caminhão, trator ou algo assim para descartar. O que vemos os suinocultores dessa região fazerem é conseguir eliminar tudo, transformando o problema em solução”.
Hoje toda a lavoura de soja, milho, feijão e arroz são comercializados. Em breve, os grãos, semente de soja e carnes bovina e peixe terão sua marca própria à venda. Exceção apenas para porcos e frangos que são mantidos pela boa parceria com a BRF. “Frango e porco são autossustentáveis. Eles são a matéria básica de toda a cadeia. O porco é a energia e o frango a adubação. Não tem como deixar de ter. O dejeto é hoje, em toda criação, um problema ambiental, que aqui é resolvido: deixou de ser problema para ser lucro”.


Gosto pela suinocultura desde os tempos de escola

Atrás de terras maiores e baratas, Fausto Scholl veio também do Paraná para o Mato Grosso com o pai. Assim como a grande maioria de sulistas agricultores fora da região, ele e sua família deixam o Sul do país em busca de novas oportunidades. A lavoura e a pecuária sempre foram o ganha pão da família Scholl, que continua até os dias de hoje cultivando. Também como Carlos Capeletti, Fausto se torna irrigante para construir a sua granja de suínos em 2004.
A geração de energia através de dejetos suínos sempre fascinou Fausto Scholl. Desde a época da escola agrícola ainda no Paraná, Scholl estudava a técnica, que foi apresentada como trabalho de conclusão de curso: “Eu disse quando sai em 1990 do colégio agrícola que ia ter uma granja de porcos. Queria mexer com criação de suínos sustentável”. Assim, antes mesmo de construir a granja, sabia que precisava adquirir pivôs centrais para ter onde descartar os dejetos. A técnica é basicamente a mesma nessas propriedades, onde o dejeto tem duas saídas: energia através do biodigestor e irrigação das lavouras. E completa: “o biodigestor faz energia que alimenta a granja de porco. Um porco produz energia para si mesmo”.
Dos seis pivôs instalados, metade é utilizado para fertirrigar e a outra metade só não o faz pela distância da lagoa de dejetos. Logo que chegamos na propriedade São Miguel, vimos duas lavouras de soja: uma fertirrigada e outra não. A diferença é impressionante! Como Capeletti, Scholl também acredita que a melhor lavoura para fertirrigar durante o período chuvoso é a lavoura de arroz: “É muito nitrogênio! O dejeto passa pelo biodigestor... e não é como faziam os antigos, aquele chorume gordo. O nosso aqui é mais uma água suja que colocamos na lavoura. Tem que cuidar porque a planta que recebe, cresce demais. Vegeta”, conta. A ideia é adquirir mais seis equipamentos.
Além da granja de suínos que abastece o frigorífico da empresa através da parceria, Scholl confina gado e faz três safras/ano, através da fertirrigação. Seu ano agrícola começa em setembro quando planta a soja e colhe em dezembro/janeiro. Logo entra milho ou arroz e em seguida feijão. Os grãos são comercializados, salvo a semente que vai para a UBS – Unidade de Beneficiamento de Semente, instalada na própria fazenda, e com capacidade para oito mil toneladas.
A propriedade ainda tem construída fábrica de ração com base em matérias-primas como: milho, soja, milheto, sorgo e resíduos da UBS, todos cultivados para atender o gado confinado do grupo. Há também projeto de irrigação de sistemas de malhas, em espaços entre os galpões e pivôs, para suprir a necessidade de descarte de dejetos nos meses de chuva. Nessas áreas serão plantadas gramíneas.
Antenado às tecnologias Valley e buscando alternativas de precisão, Scholl tem instalado em sua propriedade o sistema Base Station – equipamento de telemetria desenvolvido para controlar a irrigação à distância: “O Base Station é acomodação! Funciona muito bem. Todo celular funciona bem. O problema aqui no Mato Grosso se chama luz” – se referindo à baixa qualidade da energia elétrica fornecida.
Seguindo a trajetória de eficiência e produtividade, está prestes a ser instalado o Valley Corner – equipamento com grande potencial de irrigação, utilizado para maximizar o uso do solo na propriedade, irrigando áreas até então inatingíveis. “Com o Corner vou aproveitar o espaço entre a granja de porcos. Ele vai desviar um pedaço da estrada e irrigar 16 hectares que antes não eram irrigados”.
O projeto do Corner na propriedade de Fausto Scholl foi financiado por um fundo de incentivo à busca da eficiência energética, em uma ação em conjunto com  companhia elétrica do estado a ENERGISA, visando a melhoria dos sistemas de  irrigação. “Com o argumento de produzir mais em menos espaço e com a mesma quantidade de energia, o projeto foi financiado pela própria concessionária elétrica. Como esta é uma fazenda autossustentável, ampliamos a capacidade produtiva, utilizando os mesmos recursos. Além da aquisição do Corner, a companhia financiou também a reforma de um pivô, promovendo a atualização tecnológica do equipamento e melhorando a parte hidráulica do projeto. Tivemos melhoria na eficiência de aplicação da água e, com a instalação de uma chave inversora de frequência, um melhor uso da energia elétrica”, explica Vinícius Melo.
Ao todo, na Fazenda São Miguel, divisa de Sorriso com Lucas do Rio Verde, 808 dos 4100 hectares são irrigados. No intuito de implantar uma nova atividade na fazenda, o empresário está licenciando ambientalmente um projeto de piscicultura, onde dois reservatórios serão construídos, promovendo o aumento da disponibilidade de água, possibilitando assim a instalação de novos pivôs no futuro, integrando lavoura e produção de peixes. “Uma das licenças já saiu. Tem que limpar e encher. Estamos esperando a compensação da SEMA – Secretaria de Estado de Meio Ambiente”, diz Fausto Scholl.


A propriedade que se tornou indústria

A geração de energia, feita através do gás liberado pelo dejeto de animais, alimenta a demanda das instalações. Nessas propriedades a rotina segue dessa forma: as lavouras de soja, arroz, milho e feijão são fertirrigadas com os dejetos das granjas. Dessas lavouras saem os alimentos para os animais, que estão nas granjas abastecidas pela bioenergia gerada na própria fazenda. Assim o ciclo toma forma e nada é descartado: animais, biogás, energia, dejetos e lavoura.
Mas é na propriedade de Paulo César Lucion onde o ciclo da fazenda autossustentável melhor se fecha. Atuando na atividade de suinocultura já mais de três décadas, o grupo Lucion é destaque no mercado. Além das lavouras que abastecem as granjas, de onde saem os dejetos que fertirrigam e geram energia, o animal é abatido no próprio frigorífico, de onde saem empacotados cortes e produtos de origem suína direto para as gôndolas.
Vindos de Santa Catarina, a família Lucion chegou ao Mato Grosso em busca de menor custo de produção. Suinocultores já no estado natal, migram para sair de uma crise de alto custo de grãos. Na época, a produção era 10% do que o grupo conquistou hoje.
Toda a produção é própria, desde a lavoura de grãos onde o milho e a soja são transformados em ração, passando pelo óleo que é direcionado para a fábrica de biocombustível, até o dejeto que é transformado em gás – gerando energia para as granjas, e adubo – fertirrigando as lavouras. Os animais são tratados pela ração fabricado na propriedade e abatidos pelo frigorífico do grupo. Ou seja, de fato uma fazenda autossustentável.
Há apenas quatro anos como irrigante, a ideia de fertirrigar surge depois da apresentação feita pela revenda Valley. “A solução do que era para nós um problema, foi o Alei que nos apresentou”, referindo-se ao representante Valley da revenda Irrigar em Sorriso, Alei Fernandes. Nós não acreditávamos que iríamos conseguir através do pivô. Mas com as inovações e as ideias inovadoras que o pessoal do Alei trouxe para nós, a gente conseguiu conciliar a irrigação com a fertirrigação. Foi tão positivo que conseguimos baixar nosso custo de produção. Todas as lavouras fertirrigadas têm zero adubação química. A produção é apenas com adubo orgânico”, explica Paulo César Lucion.
“Vimos a necessidade de o Paulo distribuir o grande volume de dejeto, aproveitando a uniformidade da distribuição. Apresentamos a ele o exemplo de propriedades menores que já utilizavam o pivô para fertirrigar. Ele teve bastante dúvidas. Fizemos o teste que deu certo. Evoluímos. E a tendência é expandir futuramente”, lembra Alei Fernandes, da revenda Valley Irrigar.
A solução que primeiramente surge como forma de descarte do dejeto suíno, hoje ganha espaço também como irrigação. Pela indisponibilidade de energia, não há como instalar mais pivôs na propriedade de Sorriso. “Hoje fazemos três safras/ano. Se tivéssemos energia disponível, mais pivôs centrais estariam instalados na fazenda. A irrigação nasceu da necessidade, mas hoje, sabemos que mesmo que não sendo para dejeto, é uma técnica muito viável. Temos projetos não fertirrigados em outras propriedades, em função de se poder fazer uma safra a mais por ano”. Além de soja e milho, o feijão entra como a terceira safra, sendo mais um produto do grupo no mercado.
A fertirrigação, no caso do Grupo Lucion, proporcionou uma queda de 35% nas despesas totais, já que as lavouras utilizam 100% de adubo orgânico. Além de oferecer produto menos ofensivo nas gôndolas, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento selecionou em 2014 dez empresas para divulgar a sustentabilidade no Brasil. Dessas, a única empresa privada selecionada foi o Frigorífico Nutribrás – pertencente do grupo. “O que é subproduto de uma atividade, já é matéria-prima para a atividade seguinte. Fecha o ciclo”.
Em suas viagens pelo exterior conhecendo técnicas e fechando parcerias, Lucion garante que as grandes empresas do seguimento fastfood já dizem que muito em breve o produto que tiver o diferencial de menor agressão, será uma exigência do mercado, que tende a comprar de empresas que não agridam o meio ambiente.
“A verdade é que a suinocultura é uma atividade altamente poluente. Com a fertirrigação, conseguimos produzir sem poluir. Além de utilizar 100% de adubação orgânica, percebemos que há menor necessidade no uso de defensivos. A lagarta, que ataca a planta, com o uso do dejeto, ataca menos. Outra curiosidade é com a safra do milho. Percebemos também que o milho fertirrigado consegue render até 30% mais que a safra normal”. E finaliza: “a sustentabilidade só existe se houver equilíbrio entre o ambiental, o social e lucratividade. Esse é o tripé da sustentabilidade. Não tem como falar que uma fazenda é autossustentável se não houver lucro. A fertirrigação foi passo importante para conseguirmos esse tripé”.

Criada há dois anos, a Aprofir – Associação dos Produtores de Feijão Irrigado, surge para acelerar a produção do grão na região, buscando a meta de ser a maior produtora do país. Tendo como presidente, Ademir Gardim, a associação está em processo de fomentar o Seminário de Feijão Irrigado e o Congresso Brasileiro de Feijão-Caupí que deve acontecer na cidade de Sorriso. Além dos irrigantes de feijão, a associação atende também os irrigantes de trigo.
Entre as ações já acertadas está o canteiro retido no parque tecnológico, uma estruturação do executivo com entidades. Com 100 hectares disponíveis para o desenvolvimento de várias atividades, a Aprofir faz parte do conselho administrativo do parque.
A maior questão levantada pela associação é a descentralização por parte das licenças para a agricultura irrigada. A maior razão de se escolher Sorriso como sede da Aprofir é ter no município apoio do executivo municipal, da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente do município, além dos produtores do grão.
Através das lideranças da associação, o Plano Estadual de Irrigação do Mato Grosso foi apresentado ao governo do estado. Os produtores foram até a capital, Cuiabá e em reunião com governador Pedro Taques, foi determinado prazo para a criação do plano que tem como meta dobrar em dois anos sua área irrigada, ou seja, mais 70 mil hectares.
Várias entidades foram solicitadas, entre elas organizações ambientais e de energia, além de entidades financeiras para a execução de um projeto piloto. Outras cidades mato-grossenses já estão levando o exemplo, como as cidades de Primavera do Leste e Campo Novo dos Parecis.
“Nessas regiões se concentram boa parte da agricultura irrigada do estado. Por isso essa provocação ao governador. Ele acatou e quer desenvolver. Para desenvolver o estado tem que produzir mais e melhor. O potencial do Mato Grosso é muito grande, portanto é hora de se organizar e efetivar o plano que com certeza vai melhorar e muito a irrigação estadual, além de auxiliar o produtor a ter lucro, produzindo de forma sustentável”, conclui Gardim.

Em uma região tão focada na produção irrigada, até o Prefeito Municipal de Sorriso faz parte dessa empreitada. Agricultor, Dilceu Rossato tem grandes expectativas para a cidade. Produtor de soja, milho e feijão, consegue três safras/ano através da irrigação. Irrigante há dois anos, viu que sua área irrigada melhorou e muito o potencial da lavoura. “Com a irrigação você tem um plantio determinado na época que você pode fazer. E pode fazer três safras/ano e três safras cheias. O clima do plantio começou em 15 de setembro e a minha soja já está florescida. Essa é a grande diferença”, conta.
Dentro dos projetos à frente do executivo municipal é tornar a região como a maior produtora de feijão do país: “temos grandes expectativas por conta da construção da Aprofir – que veio em boa hora, e com o Governo do Mato Grosso – através dos órgãos ambientais e a política de irrigação que o estado defende. Tudo isso está se concretizando”, referindo-se ao Plano Estadual de Irrigação apresentado ao Governador do Estado, Pedro Taques.
Animado, continua: “Estamos trabalhando junto com a Secretaria de Meio Ambiente nesse sentido. A ideia é acelerar para que a secretaria descentralize todos os serviços, dando assim mais agilidade ao município”. Junto com a SEMA, a prefeitura municipal quer conduzir os projetos de irrigação, permitindo 20% da área do território municipal irrigado. Em torno de 130 mil ha irrigados.
O projeto de aumento da área irrigada une à construção de represas outra atividade: a piscicultura. “O sentido do projeto é ocupar as represas com piscicultura que no final a água seja utilizada para a irrigação, completando assim um processo inteligente, rápido e com viabilidade financeira”.
Vindo de uma família de pequenos agricultores, Dilceu Rossato vê a irrigação com ferramenta importante para as lavouras mato-grossenses. “Onde foi irrigado deu certinho para fazer a terceira fase. Isso economicamente dobra o faturamento de uma fazenda. Não é o que naturalmente acontece no Mato Grosso que ás vezes para de chover em maio, mas ás vezes em março”.
Rossato quer garantir irrigação não só para a agricultura extensiva mas também para a familiar. Em fase final, o prefeito irrigante está entregando o projeto de irrigação em 214 propriedades assentadas na cidade.



*Matéria de capa publicada em Pivot Point Brasil - dezembro de 2015  

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