sexta-feira, 15 de julho de 2016

Copasul: a cooperativa-revenda Valley

Conheça a história de uma das maiores cooperativas do país, agora representando a Valley e levando a irrigação para a região de Naviraí, MS



Foto: Arquivo Copasul
Em dezembro de 1978 a Copasul surge na cidade de Naviraí, no Mato Grosso do Sul, com a ideia de beneficiar a produção de algodão feita na região por pequenos e médios produtores. 27 deles, liderados pelo japonês Sakae Kamitani, perceberam que a cooperativa para a qual enviavam a produção não trabalhavam como era preciso ser, pois não compartilhavam do princípio de cooperativismo.

A família do Sr. Sakae, junto com mais 200 famílias japonesas vieram para o Brasil em 1934, quando ele tinha apenas quatro anos. O auge do café trazia imigrantes para fortalecer o país que precisava alavancar. Os contratos entre japoneses duravam em média um ano e meio. A primeira colônia que trabalhavam foi na cidade paulista de Guarantã. De lá foram mudando, passando pelo Paraná onde cultivavam hortelã por dez anos, chegando a Naviraí em 1961. Com a família grande e muitos colonos, surgiu a necessidade de buscar novas terras.

Continuaram a cultivar hortelã por dois anos, onde já vendiam o óleo da planta para a indústria de pasta dental. Com o tempo o hortelã usada foi alterado por produto químico e o preço caiu. “Na época que o hortelã esteve bom de preço, a gente colhia mil quilos de hortelã. Compramos uma ‘mercedinha’ daquelas de sete mil quilos”.

Com a queda nas vendas, começaram a plantar algodão por quatro anos e depois plantavam capim para entregar a propriedade. Devagar e sempre o Sr. Sakae tinha como sócios alguns colonos e juntos foram construindo suas vidas, plantando algodão e colaborando com a economia do país. Inteligente, estudou só até a o segundo ano na escola rural, quis entrar no ginásio, mas a diretora disse que tinha que fazer o exame de admissão. “Estudei dois meses na escola da fazenda e ainda passei em primeiro lugar”, conta dando risada. Esse era só o início do que ele ainda viria a conseguir.

Quando resolvem o Sr. Sakae e os outros 27 cooperados a erguer a Copasul, a empreitada foi grande. Além do beneficiamento do algodão, era preciso montar máquina de beneficiamento e posteriormente a fiação. As expectativas eram boas, pois queriam crescer juntos. No começo não tinham nada. Alugaram uma máquina de algodão no primeiro ano e no segundo, já montaram a mais moderna usina de algodão do Brasil. Assessorados, financiaram 80% como indústria e 20% por antecipação por cota capital”.

Plantando exclusivamente algodão, a produção da Copasul era de 500 a 600 mil arrobas por safra, em média 400 arrobas/alqueire. “No começo eu era vendedor de algodão, agrônomo, dava assistência e fazia de tudo. A nossa produção para a época era muito boa”.

O auge de mais de 25 anos do algodão na região teve seu declínio a partir da década de 1980. Com a queda, os cooperados começaram a plantar soja e depois milho. Sorgo e trigo também foram cultivados. Hoje a Copasul com quase 800 cooperados, sete unidades armazenadoras distribuídas estrategicamente nas cidades de Deodápolis, Itaquiraí, Maracaju, Dourados, Novo Horizonte do Sul, além de Naviraí, tem capacidade de 420 mil toneladas de grãos. Atendendo a demanda da região, conta ainda com duas unidades industriais: fiação de algodão – com capacidade de 650 toneladas/mês, e indústria de fécula de mandioca – produzindo diariamente 600 toneladas.

Percebendo a valorização de algumas práticas, a Copasul leva aos cooperados as necessidades de valorização e preservação ao meio ambiente, orientando o trabalho no campo para maior produção e menor impacto ambiental. Responsável, ainda tem projetos de apoio ao esporte com o Beisebol e Softbol nos estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e Mato Grosso, com atletas participando de competições internacionais. A importância da cooperativa foi estampada nas páginas do Anuário da Revista Época, sendo reconhecida como a melhor empresa do Mato Grosso do Sul.

Toda essa potência presidida pelo Sr. Sakae, hoje com 84 anos, agora vê a oportunidade de dar um novo passo: introduzir a irrigação na vida dos cooperados e não cooperados e a representação da marca Valley foi o primeiro passo. “Acho que o futuro da agricultura de nossa região precisa ser irrigado. Depender de sol e chuva é muito difícil. Tem ano que dá, mas tem ano que não dá e ai o prejuízo é grande. A tendência é irrigar a produção”.

Se dizendo satisfeito, mas com muita coisa para fazer ainda, o simpático Sr. Sakae dá mais exemplo: “Eu procuro ver as coisas de forma para melhorar a vida de todo mundo. Como não tenho mais energia de tocar a roça, só dou opinião”.


O “sojeiro” que apostou certo

O senhor Nelson Antonini é produtor, irrigante e diretor da cooperativa, foi ele quem propôs a representação Valley dentro da Copasul. Viu ser de suma importância ter uma revenda de pivôs na região principalmente para garantir assistência técnica rápida e de qualidade para os irrigantes que assim como ele estavam começando. “Precisávamos de segurança para quem é irrigante e para quem vai investir no negócio. E precisava ter junto, um nome de total confiança como é a Copasul para a gente: nosso braço, direito, esquerdo e nossas pernas”.

Fato comum em fazendas de todo o país, Nelson começa a dedicar-se ao trabalho na roça muito cedo. “Minha vida na agricultura começa aos sete anos de idade plantando soja e arrancando café”. Em Marialva – PR, onde vivia com os pais e irmãos, preferia a tarefa no sítio que a da escola. “Trabalho não mata ninguém”. Ali cresceu, casou e foi construindo a vida. Como ele os irmãos foram seguindo seus destinos, passados por gerações, de serem agricultores.

Em 1988, visitando um primo na região de Naviraí, conheceu terra boa e com preço baixo. Sabendo da pequena expectativa para todos da família que estava só crescendo no Paraná, 60 dias depois, vendem 11 alqueires na cidade natal e conseguem com o dinheiro comprar 80 no MS. “Para nós foi um passo enorme”.

Começaram plantando soja: “a gente sempre foi ‘sojeiro’ e aqui tinha muito pouco soja. Algodão era o carro chefe”. Em três anos conseguiram aumentar para 150 alqueires. Além de soja no verão, faziam safrinha de milho e de trigo no inverno. Apesar do risco com a geada, não paravam, pois já estavam acostumados a dribla-la no Paraná.

Perdeu lavoura por conta dos veranicos e bolsões típicos do clima da região. Da sua propriedade via o pivô de um vizinho e sonhava em irrigar. Vendo que o preço do equipamento era próximo do valor das terras baratas em Naviraí, foi preferindo adquirir terras. “Quando você quer uma coisa, você vê a parte boa do negócio e quando você não quer, você só vê a parte ruim. Uma das coisas que não me deixavam ir para a irrigação era esse pensamento. Pensava que se eu plantasse dois mil hectares, por quê ia adiantar irrigar só 100 ha? Com o tempo comecei a enxergar isso de outra maneira. Vi que se eu não começasse com um pivô, eu não teria nem cinco, nem dez, nem 20. Consegui superar os entraves que eu tinha”.

Prestes a completar dois anos de irrigação e seis safras, Nelson Antonini vê que a irrigação é mais vantajosa do que ele imaginava: “o que eu achei mais fantástico é o poder que a gente tem de programar e poder cumprir todas as etapas da programação que fazemos na lavoura. Isso é a maior tranquilidade e não tem preço”.

Hoje irrigando 300 hectares em dois pivôs de 14 lances, os planos são de gente grande: mais oito pivôs e 1.050 ha irrigados em uma propriedade e mais quatro pivôs irrigando 370 ha em outra. A ideia é produz além de soja, milho e trigo que depois de muitos anos voltou a cultivar – fazendo 03 safras/ano, está em teste com melancia irrigada, irrigar capim para gado de elite como rotação de cultura, fugindo do alto valor do condicionamento.

Outro grande nicho que percebeu foi o cultivo de semente de soja: “já estou fazendo minha própria semente – registrada. O que economizei só esse ano com a compra de semente, praticamente pagou os dois pivôs”.

Já na quarta geração no MS, Nelson, os irmãos, filho, genro e sobrinhos fazem parte de uma empresa familiar, onde cada um tem sua responsabilidade e autonomia. Para ele, essa parceria acontece pela determinação e paixão de todos. “Aprendemos com nosso pai. Se centralizássemos só na gente o trabalho, os mais novos perdiam o interesse. Tem que dar oportunidade para eles irem crescendo também”.


O irrigante pioneiro de Naviraí

Sukesada Takehara é a figura importante que despertou o sonho de irrigação em Nelson Antonini. Naturalizado brasileiro, veio para o Brasil em 1958 com apenas 18 anos de idade. Seu país de origem – o Japão, se encontrava em séria crise econômica e tentava se reerguer do estrago da Segunda Guerra. Atrás de oportunidade. Veio sozinho com mais 800 imigrantes japoneses em um navio, sem saber ao certo o que ia fazer no Brasil. No porto de Santos soube que seguiria para uma fazenda de gado holandês.

Sem falar uma única palavra em português, o Sr. Takehara começou sua trajetória no Brasil tirando leite no interior paulista. Ao todo foram três anos. Apesar de ser de uma família do campo, viu que por aqui as coisas na fazenda eram completamente diferentes. Até sair do Japão, tinha praticamente só estudado e viu a vida difícil do produtor rural. Não pensou em desistir, pois tinha que cumprir o contrato que assinara.

Vencendo o contrato em São Paulo, foi para o Paraná onde ajudou no plantio de algodão. Foi conhecendo a família do Sr. Sakae que estava plantando hortelã em Naviraí que foi para o Mato Grosso do Sul. Logo começou a trabalhar com o algodão como funcionário e depois em sociedade do próprio Sr. Sakae. “Um grande líder! Conseguiu montar muita coisa e hoje estamos todos bem, graças a Deus”.

Com a abertura da Copasul, as coisas foram melhorando até para o Sr. Takehara que ainda era funcionário. Em 25 anos de trabalho braçal no Brasil, adquiriu a primeira porção de terra. “Para requerer terra tem que ter volume de dinheiro. Sempre comprei pouco a pouco, igual a galinha que enche o papo de grão em grão”.

Começou com algodão, depois soja, milho e feijão. Sua paciência não impossibilitou de ver um grande investimento e logo que adquire terra vê a necessidade de fazer a aquisição do primeiro pivô na região, em 1985. “Decidi pela irrigação porque temos veranicos e secas a partir do fim de dezembro. As poucas chuvas não davam safra satisfatória. Achei que se irrigasse teria safra normal, ou maior”.

Com 1.370 ha, sendo 400 irrigado com soja e milho, o Sr. Takehara faz duas safras/ano. Por conta da grande presença de chuvas na região, liga os pivôs mais nos veranicos. Por conta da má qualidade energética disponível, faz o funcionamento com óleo diesel, vendo que na média anual, vale mais a pena: evitando gastos com demanda, multas e problemas com descarga de energia e queima de equipamento. Essa é a realidade dos irrigantes da localidade. “A parceria Copasul/Valley é muito válida, pois agora a revenda está perto do usuário, proporcionando assistência próxima da lavoura”.

Considerando ser patrão, administrador e chefe de equipe, toca a lavoura com a ajuda de funcionários. Casado e pai de quatro filhos, sendo o único homem agrônomo, prefere trabalhar separado vendo essa ser uma alternativa para crescimento do filho, e diz dar conselhos apenas quando é solicitado. “Para meu filho ser bom na profissão, tenho que ser exemplo, porque criança segue olhando as costas do pai. Quando meu filho disse que ia estudar agronomia, fiquei contente”.

Quanto à maior diferença entre brasileiros e japoneses diz: “Quando vim para o Brasil era o meu país do futuro. Trabalhando honestamente com seriedade e trabalho todo mundo tem oportunidade para crescer. Tem que fazer a sua parte. Não adianta só reclamar do governo, senão não vai para frente. O trabalhador no Brasil precisa ter cultura e educação, como no Japão. Quando cheguei, assustava ver tanta gente trabalhando na zona rural analfabeto”.

A história da Copasul não é mais nem menos importante que a de muitos, mas merece reconhecimento e louvor. São homens como o Sr. Sakae, Takehara e Antonini, e muitos outros que buscaram o sonho de trabalhar em equipe, focados na base da cooperação, que fortalecem o exemplo de que os méritos do sucesso e da propriedade da terra se dão por conta de uma só ação: o trabalho.


*Matéria publicada em Revista Pivot Point Brasil, agosto de 2015



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