sexta-feira, 15 de julho de 2016

5 safras em 2 anos: A garantia de colheita através da irrigação

Foto: Karine da Fonseca

Visitamos duas regiões irrigadas do Brasil, buscando trazer informações específicas sobre a capacidade real da produção agrícola que cresceu, e muito, nas últimas três décadas




Na região de São Desidério na Bahia, encontra-se as maiores produções agrícolas do Brasil. Distante 878 km de Salvador, até a década de 1980, o município sobreviveu da agricultura de subsistência, com pequenas produções e comércio quase inexistente. A partir de 1985 a região toma impulso com a chegada de migrantes do Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo, atraídos pelos baixos preços das terras e a possibilidade de plantio com o manejo do cerrado e a riqueza hídrica da região.

A realidade da cidade hoje é completamente oposta. Em 30 anos a agricultura de São Desidério se destaca atingindo o ranking de maior PIB do estado e chegando em 2012 como o município brasileiro com maior valor de produção agrícola, onde atingiu R$ 2,33 bilhões, disputando o pódio com Sorriso - MT.

A irrigação é a maior garantia dessa megaprodução. Vizinha de São Desidério, fica Luiz Eduardo Magalhães que há 15 anos era apenas uma vila e hoje tem mais de 80 mil habitantes. Toda essa riqueza no oeste da Bahia é gerada basicamente da agricultura irrigada, transformando a condição da região que conta com índices pluviométricos entre 800 a 1200 mm.


Família Busato

Em 1988, Júlio César Busato e o pai, Hélio Busato saem do Rio Grande do Sul a procura de novas terras para agricultura nos estados da Bahia e do Mato Grosso. Paralelamente à expansão da agricultura no cerrado baiano, novas fronteiras são abertas. Logo que conhece a região, o patriarca da Família Busato decide ficar, mesmo sem conhecer a realidade das terras mato-grossenses. Viu ali a chance que procurava.

Com um sol firme durante todo e ano e o fácil manejo hídrico, a questão da irrigação já era muito discutida. Em busca de melhores preços do feijão, viram a oportunidade de produzir fora de época para atingir melhores preços. Logo os outros três filhos do Sr. Hélio vieram para São Desidério, seguindo a tradição de gerações de agricultores.

A princípio começam irrigando 50 hectares com um pivô em sociedade com um vizinho. Em 1992 a família adquire mais dois equipamentos, investindo assim anualmente na aquisição de pivôs. Para o Sr. Hélio a irrigação é algo importante, onde vê essa como uma ferramenta fundamental para dar segurança e produtividade. Mesmo com o Estado da Bahia não tendo tecnologia na época, e passar por complicações ora por conta dos veranicos, ora por conta das interrupções do regime climático, com a irrigação não teria dificuldade em colher. Teria sim um ano tranquilo com boa colheita e safra descasada com pico de produção. “Essa é uma forma de não ter dificuldade com a lavoura e dar sustentabilidade ao negócio! Esse foi o grande lace de irrigar nesses 25 anos”, garante a nova geração de irrigantes da família, o Engenheiro Agrônomo César Busato, filho de Júlio César e neto do Sr. Hélio e quem recebeu a equipe Pivot Point Brasil na Fazenda Busato I.

No começo os Busato irrigaram basicamente feijão, soja e milho. Na propriedade já produziram mais de 12 culturas diferentes, desde hortaliças como cebola e tomate, até amendoim, milho pipoca, milho convencional, testes com alfafa, cana de açúcar e fumo. A produção de 2 a 2,5 safras/ano, depende do conjunto. Já foram feitas até três safras/ano, mas viram 2,5 ser um ótimo número. “Não atemos a uma cultura. Sempre buscamos coisas novas para tentar integrar e agregar o sistema de irrigação”.

Em 2003 a Fazenda Busato foi pioneira na adoção do sistema de manejo de irrigação da Irriger. “Uma das propriedades, a Fazenda Busato II fica próximo ao Vale do São Francisco. Com um solo muito instável, sob um mesmo pivô temos variações de mais de 30 pontos de argila, em um ponto 3% e em outro 33%.

Para conseguir irrigar um solo tão complexo, exigiu-se conhecimento e tecnologia. “Através do Professor Everardo – grande referência em irrigação no Brasil - apostamos que o programa auxiliaria muito no trabalho, além de poder saber o que foi gasto e com sustentabilidade. Ao longo do tempo conseguimos ganhar confiança. A Irriger além de dar um parâmetro, nos dá segurança de que estamos fazendo um bom trabalho, diminuindo ainda a incidência de doenças e aumentando o volume do produto final”.

A produção atual da Família Busato é trabalhando com soja precoce, seguindo de algodão para escapar do período mais frio e finalizando com milheto para manejo e conservação de solo. O grupo familiar, como preferem chamar, colhe média de 65 sacas de soja, 180 de milho e 300 arrobas de algodão por hectare. Cada membro do grupo cuida de uma área: financeiro, agrícola, técnica, administrativa, mecanização, logística e infraestrutura. Além disso Júlio César Busato é o atual presidente da Associação Baiana de Irrigantes e Agricultores.

Ao todo, nas nove propriedades, ou nove módulos gerenciais como titulam, 41 mil hectares de área, 46 pivôs e 4.500 ha são irrigados. “A pessoa tem que estar preparada para um time muito mais apertado para um nível de organização um pouco maior e ver a fazenda como um sistema diferente do sistema sequeiro, onde os ciclos acabam. Na irrigação o ciclo nunca acaba. Sempre há safra. Isso gera renda, melhor fluxo em caixa e máquina muito mais eficientes com tecnologia de ponta”, completa César Busato.


Grupo Decisão

Nessa propriedade fomos recebidos pela nova geração da família tradicional de agricultores, Ariel Zancanaro Zanella. O grupo é liderado pelos Zancarano, onde o avô Nelsir e os quatro filhos cuidam de toda a rotina do Grupo Decisão. A chegada da família na Bahia tem início no estado natal Rio Grande do Sul, seguindo para a cidade de Cascavel, PR, onde buscavam novas oportunidades.  Depois de décadas, a família vai para Unaí, MG onde o pai Celestino Zanella e o tio João ficam por 20 anos, até decidirem ir para a Bahia, mais precisamente em São Desidério.

Na cidade mineira começam a irrigar em 1990. “Pivô significa diferencial”. A vantagem de se utilizar o sistema já era conhecida pelos tios, que continuaram irrigando em Unaí, tendo a opção de comprar área para ser irrigada na Bahia.

Com duas unidades distintas, o Grupo tem uma área em sequeiro, mas para aproveitamento de terra. Em Unaí produzem café, feijão, trigo, soja e milho. Já a unidade de São Desidério cultiva soja, feijão, milho e algodão, aproveitando da altitude e temperatura na Bahia, garantindo assim a produção.  “A irrigação nos permite toda essa gama de culturas diferentes numa mesma área”.

Utilizando alguns pivôs para 02 safras/ano e outros com 03 safras/ano onde fazem milho, soja e feijão, sempre levantando a importância do manejo. Com planejamento adequado, trabalham em ciclos onde em um mesmo pivô, a mesma cultura não volta antes de passar por todas as outras. “Cada cultura tem sua peculiaridade e vantagem. Às vezes duas culturas proporcionam mais do que as 03 que fazemos em outro pivô. Depende do ano, da safra e da época”.

E é o planejamento a palavra de ordem do Grupo Decisão. Tudo gira em torno de reuniões com os líderes e responsáveis pelas propriedades. Principalmente com o planejamento de rotação de culturas: “Visualizamos a parte financeira? Sim! Mas o nosso foco é agronômico. Nós não plantamos uma cultura em determinado pivô simplesmente porque naquele ano ela vai ser financeiramente mais lucrativa. Tem toda uma rotação de cultura com a parte agronômica atrás. Ou seja, nós vamos continuar plantando feijão, soja algodão e milho. As áreas mudam 200, 300 hectares por conta da própria rotação de cultura. Sentam as pessoas que decidem pela fazenda e planejam a base”.

Experts no manejo de 03 safras/ano plantam 11 meses/ano e colhem 11 meses/ano – não necessariamente em sequência, havendo necessariamente o tempo de um mês. “A parte operacional é muito mais ativa. Enquanto que no sequeiro existem 06, 07 meses onde há funcionários contratados e depois essa mão-de-obra não é mais necessária, irrigando trabalhamos com esse quadro de funcionários o ano todo. A parte operacional é muito mais rápida e o planejamento tem que ser muito bem feito: se atrasa um pouquinho numa cultura, perde consequentemente na outra. Isso gera mais dinamismo e renda”.

Outra importante opção do Grupo é o plantio de milheto e crotalária como lavouras de cobertura. O Decisão não se limita apenas ao milho para a palhagem de solo e acredita que essa é a solução para as áreas da Bahia. O objetivo da rotação, além de limitar pragas, é a matéria orgânica. Quanto mais matéria orgânica, mais micro-organismos que vão competir com as nematoides. “Esse é mais um plus da irrigação”.

Pioneiros também na implantação do sistema Irriger desde 2006, tiveram dúvidas quando o programa foi implantado. Após o relatório de safra, perceberam que podiam produzir mais com menos 28% de água só no primeiro ano. “A planta tem uma necessidade hídrica para cada momento. A Irriger mostra e prova que é eficiente. Se não tiver acompanhamento, pode ser tomado decisão errada. E o custo do serviço? “se paga fácil, além de menor aplicação de fungicida e melhor fitossanitário: outro plus da irrigação”.

A decisão pelo equipamento Valley veio pela confiança adquirida e pelo suporte adequado. Ao todo o Grupo conta com três propriedades na Bahia e uma em Minas Gerais, totalizando 3.299 hectares irrigados com 29 pivôs. Para o futuro, a intenção é irrigar mais sete mil hectares. “Se a irrigação não fosse vantagem não teríamos conseguido chegar até aqui. Sem a irrigação a gente teria conseguido trabalhar por um ou dois anos. Nos outros anos a perda seria de 60 a 70%, senão total. A região de São Desidério é de 800 a 1200 mm de chuva, ou seja, não teríamos conseguido”.


Imagem: wikipedia.com 

Localizado na região noroeste de Minas Gerias, Paracatu fica a 500km da capital Belo Horizonte. Conhecida por ser a maior produtora de grãos do estado, a mesorregião é a maior produtora de feijão do país. O clima quente proporciona veranicos severos com possibilidade de sucesso na colheita das lavouras com a irrigação.

Há 30 anos, a região se beneficiava apenas de pecuária de extensão e da prática do garimpo de exploração. Com a chegada da irrigação, o aspecto da região mudou, principalmente nos últimos 15 anos. Hoje a cidade tem a economia voltada para a agricultura, coisa que não seria imaginável em temperaturas altas e a grande presença de veranicos.

No maior município irrigado da América Latina, algo em torno de 400 mil hectares conforme a Agência de Desenvolvimento Sustentável do Noroeste de Minas (Adesnor), visitamos três propriedades, cada uma com sua peculiaridade, mas todas com uma característica: de duas a três safras/ano bem definidas.


Família Veloso

Há 20 anos Danilo, Dalmir e Décio Veloso chegaram a Paracatu deixando a cidade natal de Carmo do Paranaíba, também em Minas Gerais, onde eram pecuaristas de leite, em busca de crescimento e inovação. Na época adquiriram área para plantio de milho para silagem em sequeiro.

Não demorou muito para entrar na atividade agrícola como irrigante, seguindo os conselhos de um amigo, e entrar de fato no ramo da agricultura, podendo assim aproveitar e adquirir grandes áreas em oferta na região que sofria crise econômica. Era o momento de entrar no negócio. Começaram com dois pivôs e foram abrindo área. “Já entramos no seguimento com a intenção de produzir com uma meta estipulada que dependeria exclusivamente de irrigação, tecnologia e escolha de semente”, diz Danilo Veloso.

Hoje são nove equipamentos, onde dos 1.550 hectares de área, 530 ha são irrigados. A produção em sequeiro ainda é realidade em uma das três propriedades, por conta da dificuldade em utilizar recursos hídricos. Irrigando conseguem plantar soja em outubro, colher em fevereiro, entrar com o milho em março, colher em junho e logo plantar feijão que é colhido em setembro. “Sempre deu certo”, garante. Outra produção é milho semente, o que na região, é feito com a parceria com sementeiras que aproveitam o clima agregado à irrigação por pivô central.

Com o projeto de irrigar mais 270 hectares em breve, Danilo Veloso diz convicto: “É melhor ser irrigante do que não ser. A frustação com o sequeiro é muito grande. Quando a planta precisa de água, não tem chuva e não se pode fazer nada. Com a irrigação a gente decide a hora certa. É um prazer plantar com irrigação. Produzir alimentos assim é fácil. Hoje é inviável plantar sem irrigação. Tenho área de sequeiro e não quero mais plantar. Se não for irrigado, vou dar murro em ponta de faca”.


Fazenda Santo Aurélio

Galba Vieira Cordeiro Jr. é daqueles protagonistas de uma história de sucesso. Filho de uma tradicional família de pecuaristas de Paracatu, recém-formado em Administração de Empresas, chega até o pai e faz uma proposta não esperada: utilizar as terras para a agricultura. O pai logo viu com estranheza o pedido do filho, já que a região castigava as lavouras por conta do clima quente e a falta de chuvas.

Apesar de não ter experiência com agricultura, remodelou a fazenda e mesmo não tendo o apoio total do pai, seguiu adiante. “Com a necessidade, meu pai vendeu parte da fazenda. Vi que tinha que tecnificar o que tinha sobrado”. Junto à irmã, decidiu em 2004, não só plantar, mas irrigar. Via que essa era a alternativa certa para a adequação, além de ser um nicho de mercado.

Na primeira aposta, adquiriu dois pivôs que irrigavam 130 hectares. Com o lucro da safra, comprou mais dois equipamentos. E assim foi crescendo dentro do segmento: “O que sobrava investia”, lembra. Hoje são 40 pivôs e 2.500 hectares irrigados em uma área de 4 mil ha. “Não tem como mensurar o que aconteceu nos últimos 11 anos. A irrigação trouxe uma prosperidade muito grande”.

Com 35 funcionários direto, a produção é basicamente de soja, milho e feijão. A média é de 2,6 safras/ano, que só não é maior por um déficit na região: a falta de fluxo de colheita, onde não há onde guardar e sacar. Aproveitando da oportunidade, utiliza campo de semente para o inverno. A garantia que as sementeiras dão, possibilitam um giro maior e certo. “Usei na fazenda, que nada mais é que uma empresa a céu aberto, o que aprendi na faculdade”.


Fava Sementes

A Fava Sementes tem apenas três anos de mercado. Mas a experiência com agricultura do proprietário Luiz Fava Jr é muito maior, sendo 28 anos de irrigação. Com propriedades em Minas Gerais onde a produção é feita com milho sementes, Goiás e Bahia cultivam soja, feijão, milho, algodão e café.

Ao todo, nos três estados, são 12 mil hectares de área, onde 2.853 são irrigados por 15 equipamentos. Sete outros estão em andamento. Um dos pilares da propriedade é o café irrigado na Bahia: projeto de irrigação grande com maiores recursos disponíveis. A produção nas propriedades gira os 12 meses do ano, onde é possível fazer 2,5 safras/ano.

Cliente Irriger, Luiz Fava Neto, nova geração da Fava Sementes, diz que o sistema é o equilíbrio da irrigação.  “A agricultura com irrigação é mais eficiente e não está refém das condições climáticas”. A ideia é irrigar mais 5 mil hectares em Minas e Goiás e mais 3 mil na Bahia

Por conta da baixa lâmina d’água na região de Minas Gerais onde estão instalados, a irrigação é a salvação e os pivôs são ligados nos veranicos. Mesmo assim, a fazenda gira o ano todo, empregando 130 funcionários, e diminuindo o custo operacional de pessoas. “A fazenda encaixou como uma luva na irrigação. Não tem funcionário ocioso. Antes havia uma rotatividade muito grande. Hoje podemos formar equipe o que agrega qualidade no manejo da fazenda”. 


*Matéria de capa publicada em Pivot Point Brasil - agosto de 2015

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