segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Theodorus Swart – o holandês que se tornou brasileiro

Muitas histórias nos são contadas todos os dias. Todavia, muitas são cheias de dificuldades, conquistas e sucesso. A história de vida de Theodorus Swart não é diferente. E não é diferente também a importância de narrá-la e servir de inspiração e exemplo.
Ainda criança, Theodorus saiu de seu país de origem aos dez anos. Acompanhando seus pais e irmãos, a família sai da Holanda em busca de novas oportunidades. As condições holandesas naquela época não eram boas. O país sofria com a devastação causada pela Segunda Guerra e o próprio governo incentivava a imigração. Austrália, África do Sul, Canadá, França e o Brasil eram o destino de muitos holandeses. Aqui a família Swart desembarcou, por dois motivos: o país estava investindo em agricultura e era um país católico. Aliás, grandes grupos de holandeses vieram para terras tupiniquins exatamente pela abrangência do catolicismo, que, através da Associação Neerlandesa dos Lavradores e Horticultores Católicos formavam colônias que coordenavam as imigrações, seguindo acordo com o governo brasileiro.

Em uma dessas colônias veio parar o pequeno Theodorus. Holambra, a cidade das flores, era ainda uma pequena colônia de holandeses aberta para novas conquistas. O nome surge das iniciais de Holanda, América e Brasil. Ali a agricultura e a pecuária leiteira, atividades desenvolvidas pela família Swart, foram mostrando a força de um povo forte por natureza e cheio de vontade de trabalhar.

Aos 18 anos, Theodorus junto com um dos irmãos, muda-se para Holambra II, onde continua até hoje. Começam juntos a plantar e se profissionalizar dentro da agricultura, a construir suas famílias e abrir dentro da região de Paranapanema, um verdadeiro canteiro de culturas de onde sairia muito feijão para muitos pratos brasileiros.

A vida não era fácil. Embaixo de sol, chuva, dia ou noite Theo Swart plantava soja, arroz, milho e algodão. Ao se lembrar daqueles tempos, comenta como era difícil trabalhar por até 36 horas sem dormir para arar a terra a ser semeada antes da chuva. Tudo era bem complicado e a luz no fim do túnel foi vista em 1985, quando o agricultor ficou conheceu um pivô. “Fomos até Guaíra conhecer o equipamento. Nessa época já trabalhava com o sistema de canhões, complicado porque tínhamos que levar de um lado para o outro. Quando vimos a estrutura daquele tamanho andando, podendo trabalhar inclusive à noite quando é melhor o aproveitamento da água pelo solo, falei: vamos acabar com aquilo que temos e vamos passar a colocar pivô central!”.


O primeiro pivô

Menos de um ano depois da apresentação ao sistema de irrigação, Theodorus e mais cinco produtores fizeram o grande investimento de suas vidas: uniram-se em busca de negociação e num pacote só adquiriram seis pivôs. Tratava-se de um Carbundum, marca francesa já sem produção. Mesmo sabendo que teria mais produção, as expectativas surpreenderam: “Para nós aquilo foi uma evolução! Uma mudança radical que aconteceu em nossa região! Basta ver quantos pivôs temos por aqui hoje: mais de 2 mil”. A satisfação da colheita levou à compra do segundo pivô: um Asbrasil – fábrica que em 1997 se fundi à Valmont. A escolha foi baseada no antigo sistema de irrigação através dos canhões que eram assinados pela empresa. A foto desse equipamento está na parede do escritório.

A aquisição dos pivôs mudou a vida de Theodorus Swart. A partir do investimento começou a plantar de forma programada. Foi vendo rapidamente que o que plantava em cinco anos, estava fazendo em um. Rapidamente viu que tinha feito um bom negócio, seus lucros foram aparecendo, cada vez mais foi podendo ter controle sobre suas lavouras e chegar aonde chegou: “A irrigação trouxe para nós outra realidade. Mudou o serviço, mudou o trabalho. Hoje podemos manter culturas e funcionários o ano todo”.


A sucessão familiar

A realidade de Theodorus infelizmente não é a mesma de tantos outros produtores brasileiros. A falta de incentivos e tecnologias nem sempre convence os filhos a continuarem os passos dos pais, que têm que se render à contratações e administrações terceirizadas. Trinta anos após o primeiro sistema de irrigação e 51 pivôs, a família de agricultores Swart tem caras novas. Trabalhando com os filhos Ricardo, Eduardo e Cristiano, o agricultor, tem a alegria e a confiança de ter em sua mesa, toda a família planejando as questões do plantio certo na hora certa. O que antes fazia sozinho, hoje tem lado a lado três engenheiros agrônomos além do genro zootecnista e especialista em genética para discutirem as questões das fazendas.

Essa sucessão foi seguindo o caminho mais simples: o do exemplo. A convivência é para o Sr. Swart a grande diferença. Foi levando os filhos ainda pequenos para a lavoura que fez nascer o heroico espírito de ser agricultor em cada um dos meninos. “Tem que gostar. Tem que levar junto e mostrar a convivência. Nunca falei para nenhum deles ser agrônomo. Seguiram esse caminho porque gostaram do que foram vendo. É querer viver do e no campo”.

Emocionado, Theo mostra-se feliz ao ver os filhos juntos e se considera um homem realizado. O que começou em 1986 com a aquisição do primeiro pivô, juntamente com o trabalho diário mostra no rosto do holandês que se diz brasileiro, um homem firme, mas cheio de orgulho e satisfação. “Quando tinha dez anos já estava em cima de um trator. Aos 15 dirigia caminhão. Acho que começamos a nos espelhar nele, pegar gosto e assim aprender a dar valor nas coisas. É lá debaixo que temos que aprender para que um dia possamos ensinar. E isso estou tentando fazer igualzinho com meu filho”, conta Ricardo Swart, filho mais velho.

Para o irmão Eduardo Swart, o maior exemplo é a perseverança: “Desde moleque vi com meu pai que era preciso trabalhar bastante para se conquistar as coisas. Ao acompanha-lo nascia o interesse em fazer o que fazia”.

Hoje com uma produção em quatro propriedades, Theodorus Swart produz feijão, soja, milho para sementes, trigo, cevada, aveia para cobertura e algodão. Mesmo com as dificuldades em ser produtor no Brasil, com a falta de escoamento para o transporte da produção, portos sem infraestrutura, burocracias nos financiamentos e ferrovias que nunca saem do papel, Theodorus vê que sua condição é hoje diferente graças à irrigação. Ao voltar os olhos para as manchas de sol presentes em seus braços, lembra-se da dificuldade em esperar a chuva para colher: “O que começamos com o primeiro pivô, junto com o trabalho nos trouxe onde estamos hoje. Se não tivesse escolhido por irrigar, não sei se estaríamos aqui”. E Ricardo completa: “Irrigar é um seguro seu, junto com o plantio direto. Você não pode errar. O custo é muito alto para se ter uma lavoura seja do que for. Se você errar e não colher nada, imagina o que é preciso para se recuperar? Talvez isso nunca aconteça”.

Aos dez anos de idade Theodorus Swart, sai da Holanda e atravessa um Atlântico inteiro junto com seus pais e irmãos atrás de um sonho: uma nova vida em uma nova terra. O Brasil era o destino. O que o pequeno holandês não sabia era que aquela seria sua primeira grande aventura. Dali em diante sua vida seria marcada por grandes desafios, dificuldades, e, enormes conquistas. Seu destino não era apenas chegar ao novo país desconhecido, mas sim, ser um grande agricultor. Chegava ao Brasil um menino que apostaria e confiaria na irrigação para ir longe. E mais: sendo exemplo e seguido pelos filhos.

Matéria publicada em Pivot Point Brasil - dezembro de 2014

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