domingo, 23 de dezembro de 2007

Folia de Reis

Folclore para alguns, tradicionalismo religioso para outros, a Folia de Reis está presente no calendário do mundo. Folia de Reis, em sua simplicidade cultural, seria uma espécie de fundamentalismo bíblico que se tornou folclore. Acredita-se que ela tenha surgido antes mesmo do nascimento de Cristo. Sua origem incerta está ligada à noite dos tempos aproveitando de um batuque já existente, poesias em versos. Aquela imagem dos reis Magos seguindo a estrela-guia que os levaram a manjedoura que estavam a Virgem Maria, José e o Menino Jesus com uma vaca, um burro e um carneiro, o presépio, foi a predominante.

O homem aproveitando então desse batuque e da adoração aos Três Reis, sai em 25 de dezembro e retorna em 6 de janeiro celebrando a Folia de Reis. Seguindo o que o Três Magos fizeram para entregarem os seus presentes (ouro, incenso e mirra) ao Jesus Menino, andando por sete dias levando cantoria, prece. Pagando promessas.

Passada de geração em geração a tradição veio parar no Brasil através de Portugal. Toda folia nasce de um voto, de uma promessa. devotos dos Três Reis (Gaspar, Baltazar e Belchior) oferecem a festa como um pagamento de promessa. Para que a festa aconteça visitam casas e fazendas da região em sete dias, pedindo esmola para pagarem a promessa. A última visita é feita ao festeiro que os recebe com festança regada a muito arroz, tutu de feijão, macarrão com frango, bastante carne com mandioca e doces de infinitas qualidades, tudo à vontade e bancado pelo festeiro com a ajuda das esmolas. Bebida não entra. No ínicio rezam o terço, no final forró. O que sobra é doado à intituições de caridade.

A Folia chega acompanhada de sete a doze integrantes com vestimentas que lembram um certo tipo de uniforme. Entre eles está o capitão que é quem comanda a folia e o ofério que é quem vai na frente com a bandeira, que recebe a esmola e que acerta no final com o capitão. Em algumas companhias há ainda a presença do palhaço que anima a folia. As músicas são diferentesm, sempre falando da adoração dos Magos, do nascimento de Jesus e saudando a bandeira.

Em cada estado há tipos de músicas feitas ao som de violão, cavaquinho, sanfona, pandeiro e tambor. No Brasil o estado de Goiás é o mais ferevecente à tradição. Cada companhiaa presenta-se com efeites, bandeiras e roupas chamativas seguindo de instrumentos. As cores das bandeiras são seguidas pelo vermelho (Baltazar), o marelo (Gaspar) e o verde (Belchior). Cada uma representa um rei. Novas composições podem ser bem-vindas.

Há 35 anos organizador de folia de reis, Raimundo Antônio Vieira é fundador da Associação das Companhias de Reis de Uberaba e Região (ACORUR), em Uberaba (MG) e atual presidente. Usa o nome de companhia por não concordar com o nome "folia", acreditando que pode ser comparado à festa, bagunça. Para ele, o sentido da festa está ligado à devoção aos magos.

O devoto dos Três Reis montou a associação em 2000 quando viu que a tradição do folclore estava acabando. Para Raimundo se não houver alguém que concientize a população, organize a folia e converse com os festeiros a tradição tende mesmo em acabar. Sua luta frente à associação conta com poucas pessoas interessadas na cultura da folia de reis e menor ainda é o número de quem se interesse em participar. Sua intenção é montar dentro da associação uma escolinha que ensine às crianças e aos jovens, o universo da Folia e suas músicas. Por falta de ajuda, não pode concretizar seu sonho que necessita de um espaço adequado para tanto.

Supertições fazem parte deste enredo. Dizem que se o dono da casa não recebe a companhia, coisas ruins podem acontecer a ele. Raimundo não acredita nisso e relata alguns milagres que presenciou. Em Goiânia (GO), uma festeira fez a promessa para que seu marido voltasse a andar. Quando a folia cantou aos pés de sua cama, ele levantou-se.

Histórias de má fé também existem. Uma vez ao chegarem em um rancho, uma mulher disse não gostar da folia. Nessa hora um rapáz que estava nadando no rio começou a se afogar. O rapaz foi salvo e a senhora ajoelhou-se em frente à bandeira. Houve ainda um homem que pegou o dinheiro das esmolas para seu próprio benefício. Castigo ou não, perdeu tudo: carro, emprego, mulher. Hoje ele anda atrás da companhia descalço.

Atualmente os Reis Santos fazem seus milagres acompanhando a realidade dos dias tumultuados da modernidade. Há promessas pagas por que o carro roubado foi encontrado e em agradecimento a grande sorte de ter ganhado na megasena.

No Brasil a Folia de Reis está cada ano menos cultuada. Apesar de ser um apís católico, a devoção aos reis é, para se ter uma idéia, maior em Portugal. No mundo inteiro há a tradição da folia. Em países como a Áustria, trio de crianças sai saudando os Três Reis Santos. Uma das crianças pinta o rosto com tinta preta para representar o negro Rei Gaspar.

Para a sociedade em geral cabe fazer sua própria definição do que é Folia de Reis, conhecendo-a. Aos admiradores do folclore participarem e prestigiarem. Àqueles que se dizem preocupados com a cultura local, fazerem algo para que projetos com o do Sr. Raimundo não fiquem apenas no papel.
*Matéria publicada em janeiro de 2006 em "Noise".

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