Foto: Karine da Fonseca |
Somos recebidos na Fazenda Pérola por
um senhor quieto, mas de sorriso fácil. Hilário Schulz é daquelas pessoas que a
gente passa horas conversando sem prestar atenção no relógio. Sua história,
como tantas, rende não apenas poucas páginas em uma revista, mas um livro
inteiro.
A entrevista começa com risadas,
quando conta que seu primeiro presente quando criança foi uma enxada. De
família de agricultores do Rio Grande do Sul, aos três meses de idade foi com a
família para o Paraná. O pai estava atrás de oportunidades de crescimento. Na
lida desde cedo e sempre do lado do pai, foi aprendendo o ofício, ajudando a
plantar milho na matraca. Enquanto o pai fazia os buracos, ele com uma latinha
de sementes, tirava de duas em duas e plantava os pés de milho. “Ao invés de
criar raiva, criei foi amor pela agricultura”.
Além do milho, na fazenda dos Schulz
também se plantava feijão e soja, além de suinocultura para consumo próprio.
Uma típica agricultura familiar com 75 hectares de lavoura. A família de cinco
filhos trabalhava unida em busca de uma vida melhor. Neto de alemão, o avô de
Hilário veio para o Brasil em 1919, onde se instalou em Santa Rosa no RS. “Sofreram
muito”.
Hilário percebeu logo que não era no
Paraná que estava seu futuro. Como o pai tinha o sonho de crescer. Viu que
tinha possibilidade de conseguir esse sonho aos 16 anos, quando sempre do lado
do pai, saiu para conhecer novas terras. Rondônia, Acre, Amazonas, Pará, Mato
Grosso e até na Bolívia chegaram, em busca de oportunidades. No jovem Hilário
surge a ideia que mudaria de fato sua vida: “Nasceu em mim um desejo de fazer
parte de uma nova fronteira agrícola, onde a gente pudesse ter condições de
produzir em maior área maior”.
Jovem, com pouco estudo, mas sábio,
buscou conhecimento através da Embrapa e viu que podia realizar aquele desejo
produzindo no cerrado, em solo fértil, porém adotando tecnologias. E foi
através de uma pesquisa da Embrapa, em Luiz Eduardo Magalhães, na Bahia, que
viu que tinha condições de produzir em outro lugar como tinha sonhado. Mas,
para isso precisava de se estabelecer para adquirir terras tão distantes de
casa.
Aos 18 anos já plantava sua lavoura de
trigo em um pedaço de terra que tinha ganhado do pai. “Fui tão abençoado que
consegui colher muito bem já na minha primeira lavoura. O clima cooperou. Esse
foi meu começo”, conta orgulhoso. Foi plantando e colhendo trigo que fez seu
pesinho de meia. Casou-se e logo decide vender os 12 ha que tinha e junto com o
que tinha juntado, segue com a esposa para o oeste baiano, em 1980.
Na época, nem a cidade de Luiz Eduardo
Magalhães existia. Ali era um pequeno povoado chamado Mimoso do Oeste. Mas foi
no município de São Desidério que Hilário adquiriu o primeiro pedaço de chão
baiano, e onde montou com a mulher uma barraca para começarem a vida. Nessas
condições ficaram por oito meses, debaixo de lona. Apesar de muito jovem, com
apenas 22 anos, era sozinho que buscava orientação enquanto preparava solo para
plantio. Aos poucos foram aprendendo e descobrindo o que a região tinha de
melhor e pior. “Foi difícil. E aqui na nossa região era mais complicado, porque
as terras eram mais pobres, as chuvas não cooperavam e o solo arenoso. Mas, a
insistência junto com pesquisa e adotando as tecnologias da Embrapa, fomos
melhorando”, lembra.
Sua primeira lavoura baiana foi de
arroz. “Primeiro ano perdi arroz. Foi amarga a experiência”, conta. Plantou
soja e equilibrou as contas. Devagar e com insistência foi aprendendo como
trabalhar na nova terra. À sua volta, além de um novo lugar, a dúvida se ia dar
certo: “Muitas vezes à noite eu ia para o campo e botava a terra na mão,
molhava, lavava, mexia... e via só areia. Pensava “o que a gente vai produzir aqui?” Mas ai pensava: “Não! Nós vamos insistir aqui e vai dar
certo!”. Era esse otimismo era o que ia transformando a vida de Hilário.
Observando os estudos da Embrapa, viu
que apesar de não colher a soja que costumava a ver no Sul, podia plantar o
grão ali. Confiou que logo descobririam uma variedade que se adaptasse melhor.
Visitando a unidade da empresa em Brasília, soube que tinha jeito de produzir
trigo irrigado e que era melhor que o que ele plantava no Paraná. Nascia mais
um sonho! “Eu vi que com o pivô tinha condições de produzir bem por conta do
fotoperíodo aqui ser muito bom”.
A
transformação através da irrigação
Em uma parceria instalou 16 pivôs, mas
não deu certo. Passou pelo comércio e voltou a tocar a sua roça. “Eu tinha esse
campo que estava com pecuária. Voltei e devagarinho fui montando os meus
próprios pivôs. Eram dois, depois mais dois... hoje são 2000 hectares
irrigados!”.
A decisão pela Valley veio por
conhecer o equipamento em funcionamento na região de Cristalina, GO. “Decidi para
poder ficar mais tranquilo, acomodado e despreocupado. Não estraga à toa. Me dá
mais comodidade e segurança. É não ter problema! É um caro que sai barato”.
Atualmente produzindo duas safras/ano,
só deixou de fazer a terceira pelo alto valor da energia. “A água é a maior
riqueza que nós temos! E com a irrigação conseguimos colocar comida na mesa das
pessoas três vezes ao dia. As pessoas mesmo assim acham que somos vilões, e
isso não é verdade. Estão completamente enganados. Eles têm que ver e analisar
direito o tanto que é difícil produzir, muitas vezes a preços tão baixos e sem
auxílio do governo. Procuramos sempre fazer o melhor, com reservas,
melhoramento e aproveitamento de solo... tudo para garantir produção para a
população”, desabafa.
Sempre otimista, mesmo com os problemas
diários em se produzir muito e para tanta gente, observa com é ser irrigante:
“Ninguém sabia quanta riqueza tínhamos aqui quando chegamos. A água que temos
aqui é muito boa, junto com a luz. Naqueles dias de janeiro e fevereiro, com
aquele solão e um veranico que não passa, você olha para o céu e nada de
chover. Poder apertar um botãozinho e molhar a tua terra, ver a cultura
bonita... isso é muito gratificante!”
A
melancia da Fazenda Pérola
É da Fazenda Pérola que sai melancia
para quase todo o Brasil. Em média, durante a época de colheita, 25
caminhões/dia saem carregados, levando a fruta do Sul ao Nordeste. Em torno de
200 pessoas trabalham na lavoura, numa operação manual em função da fragilidade
do fruto.
Ao todo Hilário Schulz produz em uma
área de 5 mil ha. Precavido faz, de cinco a sete culturas, pois “se uma não der
a outra dá”, diz. Entre tantos produtores de grãos e algodão na região, ele se
destaca por produzir um produto com proporções bem maiores. A quantidade de
produção da fruta é impressionante. Em 2014, dois mil hectares foram utilizados
para o plantio. Uma média de 40 toneladas/ha.
Além da fruta, milho, feijão, soja,
algodão, abóbora e arroz – que deixa a palhada para proteger a melancia – são
cultivados irrigados e em sequeiro. Nos 2 mil hectares irrigados, todos com
pivôs Valley, há variedade de tamanhos. São 13 pivôs instalados entre 60 ha (o
menor) e 280 ha (o maior com 19 lances). Mas o mais impressionante nem são os números
produzidos na fazenda, mas o sabor da melancia! Suculenta e doce na medida
certa, além de uma cor vibrante que enche os olhos. A receita está no clima
quente, com baixa umidade do ar, luz solar direta e irrigação.
Amor pelo que faz
Dá pra ver nos olhos de Hilário Schulz
a paixão pela agricultura e pelo trabalho na fazenda. Tanto que sua maior
preocupação é imaginar quem vai produzir alimento para a população nas próximas
décadas. “É muito gratificante saber que estou contribuindo com o povo. Plantando
comida para o povo. Tem muito produtor que não consegue ter os filhos no campo.
Quem vai produzir alimento para essa gente daqui a 20 anos?”.
Competindo, está o amor pelos filhos,
Maikon e Siguinéia e a mulher Zilá. Assim como fazia com o pai, Hilário tem os
filhos trabalhando com ele em áreas distintas do escritório da fazenda. “Poder
ter os filhos do lado e todo mundo trabalhando juntos e unidos é muita alegria!
Todos com o objetivo de crescer e fazer as coisas certas!”, orgulha-se.
Outro grande orgulho é a esposa Zilá,
companheira desde os meses acampados no barraco de lona quando chegaram a
Bahia. “Ela está comigo sempre! Se eu for pra roça, ela vai. Se eu for pra
cidade, ela vai! Geralmente as mulheres não querem ficar na roça, mas ela não!
Me acompanha. Até quando eu vou pescar ela vai”, conta rindo. Aliás, pescar é a
distração de Hilário. É onde descansa e pensa na grande história de vida que
construiu e que ainda escreve com maestria. “Eu estudei muito pouco. Não me
formei em nenhum curso. Fiz apenas o básico, mas, o amor que a gente criou pela
terra e por produzir, além do sonho de crescer e de ter uma área maior para
adotar tecnologia, que me fez ter tanta força para chegar aonde cheguei”.
São homens e mulheres como Hilário e
Zilá que abrem as fronteiras para a economia do agronegócio brasileiro. São
pessoas como eles que desenvolveram lugares até então sem condições de
produção, como é o caso do oeste da Bahia há 30 anos. Hoje, para todos os lados
na região, se vê tecnologia de ponta e lavouras que impressionam. A força, a
coragem, a insistência e, sobretudo a cooperação de uns com ou outros, de gente
que como eles transformaram a paisagem daquele sertão, sendo hoje uma região
promissora, rica e de onde sai muitas toneladas de alimentos Brasil afora.
*Matéria publicada em Pivot Point Brasil - dezembro de 2015
5 comentários:
Achei linda a historia.ja ouvi falar muito dele.mas aprendi mas um pouco.admiro muito a bondade dele.ja usurfluir muito de suas melancias.quando liberada p gente colher.pessoa amada admirada e respeitada em minha cidade mesmo sem conhecer so falo bem dele e admiro muito.parabens pela historia.
Boa sorte sempre Sr.Hilario mais que vencedor Deus é com o Senhor e toda sua equipe.
O nome é ZALY e MAIKEL ! kkk
M Deus q homem mulher famia corajosas de fe naquilo q não se ve por isso q recebe o nome de perola parabéns q Deus continui abençoando essa familia em nome de Jesus
Fui cartorária muitos anos em São Desiderio. O conhecia bem! Um desbravado!!!merece tudo de melhor
Postar um comentário