Conheça a história de
uma das maiores cooperativas do país, agora representando a Valley e levando a
irrigação para a região de Naviraí, MS
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Foto: Arquivo Copasul |
Em
dezembro de 1978 a Copasul surge na cidade de Naviraí, no Mato Grosso do Sul, com
a ideia de beneficiar a produção de algodão feita na região por pequenos e médios
produtores. 27 deles, liderados pelo japonês Sakae Kamitani, perceberam que a
cooperativa para a qual enviavam a produção não trabalhavam como era preciso
ser, pois não compartilhavam do princípio de cooperativismo.
A
família do Sr. Sakae, junto com mais 200 famílias japonesas vieram para o
Brasil em 1934, quando ele tinha apenas quatro anos. O
auge do café trazia imigrantes para fortalecer o país que precisava alavancar.
Os contratos entre japoneses duravam em média um ano e meio. A primeira colônia
que trabalhavam foi na cidade paulista de Guarantã. De lá foram mudando,
passando pelo Paraná onde cultivavam hortelã por dez anos, chegando a Naviraí
em 1961. Com a família grande e muitos colonos, surgiu a necessidade de buscar
novas terras.
Continuaram
a cultivar hortelã por dois anos, onde já vendiam o óleo da planta para a
indústria de pasta dental. Com o tempo o hortelã usada foi alterado por produto
químico e o preço caiu. “Na época que o hortelã esteve bom de preço, a gente
colhia mil quilos de hortelã. Compramos uma ‘mercedinha’ daquelas de sete mil
quilos”.
Com
a queda nas vendas, começaram a plantar algodão por quatro anos e depois
plantavam capim para entregar a propriedade. Devagar e sempre o Sr. Sakae tinha
como sócios alguns colonos e juntos foram construindo suas vidas, plantando
algodão e colaborando com a economia do país. Inteligente, estudou só até a o
segundo ano na escola rural, quis entrar no ginásio, mas a diretora disse que
tinha que fazer o exame de admissão. “Estudei dois meses na escola da fazenda e
ainda passei em primeiro lugar”, conta dando risada. Esse era só o início do que
ele ainda viria a conseguir.
Quando
resolvem o Sr. Sakae e os outros 27 cooperados a erguer a Copasul, a empreitada
foi grande. Além do beneficiamento do algodão, era preciso montar máquina de
beneficiamento e posteriormente a fiação. As expectativas eram boas, pois
queriam crescer juntos. No começo não tinham nada. Alugaram uma máquina de
algodão no primeiro ano e no segundo, já montaram a mais moderna usina de
algodão do Brasil. Assessorados, financiaram 80% como indústria e 20% por
antecipação por cota capital”.
Plantando
exclusivamente algodão, a produção da Copasul era de 500 a 600 mil arrobas por
safra, em média 400 arrobas/alqueire. “No começo eu era vendedor de algodão,
agrônomo, dava assistência e fazia de tudo. A nossa produção para a época era
muito boa”.
O
auge de mais de 25 anos do algodão na região teve seu declínio a partir da
década de 1980. Com a queda, os cooperados começaram a plantar soja e depois
milho. Sorgo e trigo também foram cultivados. Hoje a Copasul com quase 800
cooperados, sete unidades armazenadoras distribuídas estrategicamente nas
cidades de Deodápolis, Itaquiraí, Maracaju, Dourados, Novo Horizonte do Sul,
além de Naviraí, tem capacidade de 420 mil toneladas de grãos. Atendendo a demanda
da região, conta ainda com duas unidades industriais: fiação de algodão – com
capacidade de 650 toneladas/mês, e indústria de fécula de mandioca – produzindo
diariamente 600 toneladas.
Percebendo
a valorização de algumas práticas, a Copasul leva aos cooperados as
necessidades de valorização e preservação ao meio ambiente, orientando o
trabalho no campo para maior produção e menor impacto ambiental. Responsável, ainda
tem projetos de apoio ao esporte com o Beisebol e Softbol nos estados do Mato
Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e Mato Grosso, com atletas participando de
competições internacionais. A importância da cooperativa foi estampada nas
páginas do Anuário da Revista Época, sendo reconhecida como a melhor empresa do
Mato Grosso do Sul.
Toda
essa potência presidida pelo Sr. Sakae, hoje com 84 anos, agora vê a
oportunidade de dar um novo passo: introduzir a irrigação na vida dos
cooperados e não cooperados e a representação da marca Valley foi o primeiro
passo. “Acho que o futuro da agricultura de nossa região precisa ser irrigado.
Depender de sol e chuva é muito difícil. Tem ano que dá, mas tem ano que não dá
e ai o prejuízo é grande. A tendência é irrigar a produção”.
Se
dizendo satisfeito, mas com muita coisa para fazer ainda, o simpático Sr. Sakae
dá mais exemplo: “Eu procuro ver as coisas de forma para melhorar a vida de
todo mundo. Como não tenho mais energia de tocar a roça, só dou opinião”.
O “sojeiro” que apostou
certo
O
senhor Nelson Antonini é produtor, irrigante e diretor da cooperativa, foi ele quem
propôs a representação Valley dentro da Copasul. Viu ser de suma importância ter
uma revenda de pivôs na região principalmente para garantir assistência técnica
rápida e de qualidade para os irrigantes que assim como ele estavam começando. “Precisávamos de segurança para quem é
irrigante e para quem vai investir no negócio. E precisava ter junto, um nome
de total confiança como é a Copasul para a gente: nosso braço, direito,
esquerdo e nossas pernas”.
Fato
comum em fazendas de todo o país, Nelson começa a dedicar-se ao trabalho na
roça muito cedo. “Minha vida na
agricultura começa aos sete anos de idade plantando soja e arrancando café”.
Em Marialva – PR, onde vivia com os pais e irmãos, preferia a tarefa no sítio
que a da escola. “Trabalho não mata ninguém”. Ali cresceu, casou e foi
construindo a vida. Como ele os irmãos foram seguindo seus destinos, passados
por gerações, de serem agricultores.
Em
1988, visitando um primo na região de Naviraí, conheceu terra boa e com preço
baixo. Sabendo da pequena expectativa para todos da família que estava só
crescendo no Paraná, 60 dias depois, vendem 11 alqueires na cidade natal e conseguem
com o dinheiro comprar 80 no MS. “Para nós foi um passo enorme”.
Começaram
plantando soja: “a gente sempre foi ‘sojeiro’
e aqui tinha muito pouco soja. Algodão era o carro chefe”. Em três anos
conseguiram aumentar para 150 alqueires. Além de soja no verão, faziam safrinha
de milho e de trigo no inverno. Apesar do risco com a geada, não paravam, pois
já estavam acostumados a dribla-la no Paraná.
Perdeu
lavoura por conta dos veranicos e bolsões típicos do clima da região. Da sua
propriedade via o pivô de um vizinho e sonhava em irrigar. Vendo que o preço do
equipamento era próximo do valor das terras baratas em Naviraí, foi preferindo
adquirir terras. “Quando você quer uma
coisa, você vê a parte boa do negócio e quando você não quer, você só vê a
parte ruim. Uma das coisas que não me deixavam ir para a irrigação era esse
pensamento. Pensava que se eu plantasse dois mil hectares, por quê ia adiantar
irrigar só 100 ha? Com o tempo comecei a enxergar isso de outra maneira. Vi que
se eu não começasse com um pivô, eu não teria nem cinco, nem dez, nem 20.
Consegui superar os entraves que eu tinha”.
Prestes
a completar dois anos de irrigação e seis safras, Nelson Antonini vê que a
irrigação é mais vantajosa do que ele imaginava: “o que eu achei mais
fantástico é o poder que a gente tem de programar e poder cumprir todas as
etapas da programação que fazemos na lavoura. Isso é a maior tranquilidade e
não tem preço”.
Hoje
irrigando 300 hectares em dois pivôs de 14 lances, os planos são de gente
grande: mais oito pivôs e 1.050 ha irrigados em uma propriedade e mais quatro
pivôs irrigando 370 ha em outra. A ideia é produz além de soja, milho e trigo
que depois de muitos anos voltou a cultivar – fazendo 03 safras/ano, está em
teste com melancia irrigada, irrigar capim para gado de elite como rotação de
cultura, fugindo do alto valor do condicionamento.
Outro
grande nicho que percebeu foi o cultivo de semente de soja: “já estou fazendo minha própria semente –
registrada. O que economizei só esse ano com a compra de semente, praticamente
pagou os dois pivôs”.
Já
na quarta geração no MS, Nelson, os irmãos, filho, genro e sobrinhos fazem
parte de uma empresa familiar, onde cada um tem sua responsabilidade e
autonomia. Para ele, essa parceria acontece pela determinação e paixão de
todos. “Aprendemos com nosso pai. Se centralizássemos só na gente o trabalho,
os mais novos perdiam o interesse. Tem que dar oportunidade para eles irem
crescendo também”.
O irrigante pioneiro de
Naviraí
Sukesada
Takehara é a figura importante que despertou o sonho de irrigação em Nelson
Antonini. Naturalizado brasileiro, veio para o Brasil em 1958 com apenas 18
anos de idade. Seu país de origem – o Japão, se encontrava em séria crise
econômica e tentava se reerguer do estrago da Segunda Guerra. Atrás de
oportunidade. Veio sozinho com mais 800 imigrantes japoneses em um navio, sem
saber ao certo o que ia fazer no Brasil. No porto de Santos soube que seguiria
para uma fazenda de gado holandês.
Sem
falar uma única palavra em português, o Sr. Takehara começou sua trajetória no
Brasil tirando leite no interior paulista. Ao todo foram três anos. Apesar de
ser de uma família do campo, viu que por aqui as coisas na fazenda eram
completamente diferentes. Até sair do Japão, tinha praticamente só estudado e
viu a vida difícil do produtor rural. Não pensou em desistir, pois tinha que
cumprir o contrato que assinara.
Vencendo
o contrato em São Paulo, foi para o Paraná onde ajudou no plantio de algodão.
Foi conhecendo a família do Sr. Sakae que estava plantando hortelã em Naviraí
que foi para o Mato Grosso do Sul. Logo começou a trabalhar com o algodão como
funcionário e depois em sociedade do próprio Sr. Sakae. “Um grande líder!
Conseguiu montar muita coisa e hoje estamos todos bem, graças a Deus”.
Com
a abertura da Copasul, as coisas foram melhorando até para o Sr. Takehara que
ainda era funcionário. Em 25 anos de trabalho braçal no Brasil, adquiriu a
primeira porção de terra. “Para requerer terra tem que ter volume de dinheiro.
Sempre comprei pouco a pouco, igual a galinha que enche o papo de grão em
grão”.
Começou
com algodão, depois soja, milho e feijão. Sua paciência não impossibilitou de
ver um grande investimento e logo que adquire terra vê a necessidade de fazer a
aquisição do primeiro pivô na região, em 1985. “Decidi pela irrigação porque
temos veranicos e secas a partir do fim de dezembro. As poucas chuvas não davam
safra satisfatória. Achei que se irrigasse teria safra normal, ou maior”.
Com
1.370 ha, sendo 400 irrigado com soja e milho, o Sr. Takehara faz duas
safras/ano. Por conta da grande presença de chuvas na região, liga os pivôs
mais nos veranicos. Por conta da má qualidade energética disponível, faz o
funcionamento com óleo diesel, vendo que na média anual, vale mais a pena:
evitando gastos com demanda, multas e problemas com descarga de energia e
queima de equipamento. Essa é a realidade dos irrigantes da localidade. “A
parceria Copasul/Valley é muito válida, pois agora a revenda está perto do
usuário, proporcionando assistência próxima da lavoura”.
Considerando
ser patrão, administrador e chefe de equipe, toca a lavoura com a ajuda de
funcionários. Casado e pai de quatro filhos, sendo o único homem agrônomo,
prefere trabalhar separado vendo essa ser uma alternativa para crescimento do
filho, e diz dar conselhos apenas quando é solicitado. “Para meu filho ser bom
na profissão, tenho que ser exemplo, porque criança segue olhando as costas do
pai. Quando meu filho disse que ia estudar agronomia, fiquei contente”.
Quanto
à maior diferença entre brasileiros e japoneses diz: “Quando vim para o Brasil
era o meu país do futuro. Trabalhando honestamente com seriedade e trabalho
todo mundo tem oportunidade para crescer. Tem que fazer a sua parte. Não
adianta só reclamar do governo, senão não vai para frente. O trabalhador no
Brasil precisa ter cultura e educação, como no Japão. Quando cheguei, assustava
ver tanta gente trabalhando na zona rural analfabeto”.
A
história da Copasul não é mais nem menos importante que a de muitos, mas merece
reconhecimento e louvor. São homens como o Sr. Sakae, Takehara e Antonini, e
muitos outros que buscaram o sonho de trabalhar em equipe, focados na base da
cooperação, que fortalecem o exemplo de que os méritos do sucesso e da
propriedade da terra se dão por conta de uma só ação: o trabalho.
*Matéria publicada em Revista Pivot Point Brasil, agosto de 2015
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