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Foto: Arquivo Agronelli |
Engenheiro agrônomo, produtor rural e empresário, Marco Túlio Paolinelli
é exemplo de produtividade e sustentabilidade. Há 26 anos à frente da Agronelli
– empresa produtora de insumos agrícolas e agroindústria através da produção de
madeira de reflorestamento, pecuária e de alimento, além de gestão de
tecnologia, ele tem desenvolvido projetos sócio ambientais que não só respeitam
o meio ambiente, como auxiliam na sua preservação e na construção da cidadania.
Os projetos “Produtor de Águas” e Águas Perenes” baseiam-se na
recuperação de nascentes. Há 33 anos e ainda funcionário, começou a fazer
acompanhamento da situação de uma mina na região de Uberaba, Minas Gerais,
através de fotografias. Com a documentação, foi gerando conhecimento e através
de analise detectou a queda da vasão da água. Há nove anos, com auxílio de estudo
científico orientado pela Unesp, percebeu a necessidade de construir curvas de
rio, bolsões de água da chuva e fazendo o plantio de árvores em 4,5 hectares,
fortalecendo assim a nascente. O resultado: onde havia deserto, com a
construções e adaptações, passará a ser em cinco ou seis anos uma mina perene.
O controle é feito semanalmente. A ideia principal é gerar água durante
o período de seca, permitindo recurso para a sustentação dos serviços de
abastecimentos de águas das cidades e para a irrigação das culturas de inverno. O sucesso do projeto está ultrapassando as fronteiras e outras minas já
estão em observação. Com a adoção da ideia, em outra propriedade de 275 ha,
Paolinelli tem a intenção de construir de 800 a 1000 bolsões que infiltrarão no
lençol freático e plantando mais 40 mil árvores. Para tanto, já tem a parceria
de empresas que participarão através de cotas de R$100,00/ano, e onde 100% do
valor será revestido para ações sócio ambientais.
Hoje com quatro unidades
distribuídas em Cubatão, Cajati, Timóteo e a matriz em Uberaba, a Agronelli
gera 250 empregos e distribui gesso para o Brasil todo. Há 15 anos, o Instituto
Agronelli, busca levar orientação sócio ambiental para a comunidade como um
todo. Escolas públicas e o hospital do câncer da cidade são os que mais são
ajudados com os projetos do Instituto que alivia a degradação do meio ambiente,
e gera a cidadania aos alunos do município.
De onde surge o Projeto
Agronelli?
Depois de 11 anos trabalhando na antiga Fosfértil sendo responsável da
área técnica e agronômica, já sabia como o gesso funcionava e como a ureia
podia ser utilizada na aplicação de nitrogênio. A empresa tinha que doar o
gesso que sobrava por ficar mais em conta do que depositar. Vendo aquilo, fiz
uma proposta de direcionar o gesso para a Embrapa pesquisar e divulgar, vender
parte para a Agronelli e parte para a Fosfértil. Eles toparam. Era muito mais
interessante para o produtor do Mato Grosso, por exemplo, ter conhecimento de
como aquele gesso era importante para a terra dele, do que doar sem ele
conhecer. Sem o conhecimento, ele não pagaria nem o frete para buscar. No
começo eu era sozinho. Depois com o tempo fui montando equipe e chegamos a vender
3 milhões de toneladas de produto no ano. Isso correspondia a uma carreta a
cada cinco minutos saindo 24 horas por dia em um ano. Era muito gesso! Se você
me perguntar se eu ganhei muito dinheiro, eu vou te dizer que não, porquê gesso
é barato. Tem que ganhar no volume. O
gratificante é saber que contribuímos para o agronegócio brasileiro, aumentando
produtividade de açúcar, leite, soja, milho, etc: o quanto em milhões um
produto que não valia nada, contribuiu para a produção e para o meio ambiente.
Em 25 anos de trabalho, como
foi para o senhor, ver a necessidade de contribuir para que o agronegócio
brasileiro se tornasse mais produtivo e sustentável?
Sempre fui voltado para as ações sociais e ambientais. Como vim de
família de agricultores, sabemos o quanto o meio rural precisa ver a
necessidade das coisas: de praticar o que meu primo e ex-ministro da
agricultura Alysson Paolinelli diz, fazer a revolução verde. O que eu quero é
contribuir com o país. Primeiro peguei um “lixo” e transformei num produto que
contribui com o agronegócio brasileiro. Depois aumentar a vasão de água de uma
mina e para isso o que eu fiz? Plantei árvores! Mais nada. E isso, junto com os
bolsões, melhoraram o fluxo de água do Rio Uberaba e consequentemente o
abastecimento. A maioria das empresas contribuem com de 3 a 5% do lucro,
limitando salários. Nós repassamos 20% do lucro dividido para
contribuição.
Uma das maiores dificuldades do
agronegócio é gerar menos conflitos e mais soluções para o setor. Qual a ferramenta você acredita ser essencial
usar para desenvolver as questões do agronegócio brasileiro?
Conscientização. Todo mundo fala que a cana de açúcar acaba com a terra.
Onde pode haver uma ignorância tão grande como essa? Isso não existe! Hoje não
tem queima mais, e quando tem é porque o produtor não conseguiu recursos para
se estruturar. Nenhum fazendeiro quer queimar cana. Ele quer colher e deixar a
matéria orgânica para o solo gerar fotossíntese, diminuir erosão e
consequentemente substituir a gasolina. Mas, as pessoas não sabem e não tem
noção. O produtor não quer destruir as terras dele. Os que fazem são minoria, e
em tudo existe minoria. A maioria quer preservar a fazenda, fazer plantio
direto. Olha o crescimento do plantio direto no Brasil. Hoje a Embrapa faz um
trabalho respeitado e reconhecido internacionalmente produzindo e exportando
tecnologia para o mundo, e ninguém sabe que somos líderes de produção de
tecnologia tropical. Se pegarmos os últimos 20 anos, podemos ver
consideravelmente, como aumentou a produtividade do Brasil.
Muito se fala da necessidade de
otimização dentro das propriedades rurais brasileiras. Qual é a importância da
irrigação no processo de mecanização do produtor rural?
Vejo
que não precisamos mais fazer desmatamento para aumentar a produtividade. E
temos que aumentar a produtividade. Como? Investindo em tecnologias, variedades
mais produtivas, formas de manejo e de conservação do solo, e, irrigação. A irrigação vai auxiliar e muito no
processo de aceleração da produtividade, e ainda abastecendo o lençol freático.
A água não vai embora. Vai e volta. Uma fazenda que durante janeiro,
fevereiro e março guarda a água das chuvas em uma represa e que quando chegar a
seca vai irrigar o alimento com essa água fez que mal? Nenhum! Só fez o bem,
porque está inclusive melhorando o lençol freático que está alimentando as
minas. É só benefício!
O senhor acredita que exista
algum caminho estratégico que permita ao produtor em crescimento, seguir
investindo de maneira efetiva e adequar-se?
Acredito na orientação. Mas é complicado, porque o pequeno produtor não
tem essa orientação fácil. Teria se o trabalho maravilhoso que as Ematers, a
Embrapa e a Epamig no caso de Minas já fizeram. Essa assistência técnica é
muito importante é só tem acabado. É triste ver a Embrapa sobrevivendo com o
dinheiro da iniciativa privada, num país que só tem arroz e feijão de qualidade
por conta do trabalho lá atrás das pesquisas que a Embrapa fez. O que seria do país se não fosse a Embrapa? A gente estaria morrendo de
fome. Para o grande é muito mais fácil. O sul de Goiás, o Mato Grosso, o oeste
da Bahia, e sul do Maranhão e do Piauí estão numa realidade que mostra outro
conceito de agricultura. É muito diferente. Lá esses produtores já têm a
orientação e estão cada vez mais adiante. Nós, empresariados e instituições,
temos que participar de feiras agrícolas e apresentar campos de demonstrações,
fazendo um papel que não seria nosso se houvesse orientação ao homem do campo.
Tem que ajudar de alguma forma.
Durante muitos anos a
agricultura brasileira cresceu de forma horizontal, ou seja, mais área para
fazer mais. Hoje o desafio é fazer mais com menos, ou seja, usando as técnicas
de irrigação, armazenagem e agricultura de precisão para melhorar as
produtividades dentro da porteira. Como você acredita que o agricultor pode
encarar esse desafio: fazer mais com o mesmo?
Ele já está fazendo. Existe um mundo diferente onde muita gente produz
muito. Se não fossem esses grandes agricultores, a gente não estaria onde está,
com PIB sustentando a economia do país.
Apesar do setor do agronegócio
crescer nos últimos anos, tendo sido fundamental no resultado do PIB e balança
comercial, a população urbana tem dificuldade de entender o papel do produtor e
das empresas ligadas ao agronegócio. Como mudar essa percepção da população
urbana sobre a importância do agronegócio brasileiro?
Divulgar.
Todo mundo fala, mas, nada acontece. A CNA, Confederação Nacional da Agricultura
começou a fazer alguma coisa um tempo atrás, mas não continuou. Se depender dos
outros nada vai acontecer. É a classe rural, através de ações e divulgando
essas ações que vai mudar e mostrar o que a sociedade não enxerga.
O senhor acredita que o agronegócio
brasileiro pode ser afetado pela baixa economia que afeta o país hoje?
Não acredito. O agronegócio vai sobreviver. Para ele é representativo.
Se acontecer será muito pouco significativo.
Observando a atual condição econômica mundial e brasileira, quais são
suas perspectivas em relação às safras de 2015 e 2016?
Acredito
que vamos crescer em torno de 8%. Muita gente pode achar pouco, mas se
compararmos com o crescimento dos Estados Unidos, subimos mais de sete pontos
que os americanos, que têm uma base de 1, 2% ao ano. Mas, se juntarmos toda
nossa produção de todos os grãos, equivale ao que os EUA produzem só de milho.
Em termos de expansão, a eficiência de produção da nossa soja é maior que a
americana. Temos condição de competir com eles em tecnologia. Com apenas 50
milhões de hectares de área depauperada, onde não há pastagem e só degradação,
sem desmatar uma única árvore, podemos recuperar e muito o meio ambiente,
auxiliando na produção de chuva e podendo ainda aumentar a nossa colheita em
mais 100 milhões de toneladas, dos 208 que produzimos.
Quais os principais desafios da
Agricultura Brasileira nos próximos 10 anos?
O maior problema nosso é a falta de infraestrutura. Temos péssimas
formas de escoamento. Esse é 90% do problema. Levar a soja do Mato Grosso para
Santos é muito mais caro que o custo da soja nos Estados Unidos. Para minimizar
esse problema é investir agora em ferrovias, rodovias e portos. Um caminhão
ficar semanas esperando na fila do porto de Santos para descarregar é um
absurdo. Se não resolver isso agora, não tem nem como produzir mais, porque o
problema vai ser muito mais sério daqui 10 anos.
*Entrevista publicada em Revista Pivot Point Brasil, agosto de 2015
Um comentário:
Boa tarde, Caro Marco Túlio,
desenvolvo projeto semelhante em Ouro Preto / MG e gostaria de obter mais informações e trocar experiências sobre a contenção de vossorocas e a produção de água, poderia me informa seu contato ?
Grato pela atenção,
att.
Francisco Sgarbi
chico.sgarbi@hotmail.com
31.9.8874.7419
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