Muitas
histórias nos são contadas todos os dias. Todavia, muitas são cheias de dificuldades,
conquistas e sucesso. A história de vida de Theodorus Swart não é diferente. E
não é diferente também a importância de narrá-la e servir de inspiração e
exemplo.
Ainda
criança, Theodorus saiu de seu país de origem aos dez anos. Acompanhando seus
pais e irmãos, a família sai da Holanda em busca de novas oportunidades. As
condições holandesas naquela época não eram boas. O país sofria com a
devastação causada pela Segunda Guerra e o próprio governo incentivava a
imigração. Austrália, África do Sul, Canadá, França e o Brasil eram o destino
de muitos holandeses. Aqui a família Swart desembarcou, por dois motivos: o
país estava investindo em agricultura e era um país católico. Aliás, grandes
grupos de holandeses vieram para terras tupiniquins exatamente pela abrangência
do catolicismo, que, através da Associação Neerlandesa dos Lavradores e
Horticultores Católicos formavam colônias que coordenavam as imigrações,
seguindo acordo com o governo brasileiro.
Em
uma dessas colônias veio parar o pequeno Theodorus. Holambra, a cidade das
flores, era ainda uma pequena colônia de holandeses aberta para novas
conquistas. O nome surge das iniciais de Holanda, América e Brasil. Ali a
agricultura e a pecuária leiteira, atividades desenvolvidas pela família Swart,
foram mostrando a força de um povo forte por natureza e cheio de vontade de
trabalhar.
Aos
18 anos, Theodorus junto com um dos irmãos, muda-se para Holambra II, onde
continua até hoje. Começam juntos a plantar e se profissionalizar dentro da
agricultura, a construir suas famílias e abrir dentro da região de
Paranapanema, um verdadeiro canteiro de culturas de onde sairia muito feijão
para muitos pratos brasileiros.
A
vida não era fácil. Embaixo de sol, chuva, dia ou noite Theo Swart plantava
soja, arroz, milho e algodão. Ao se lembrar daqueles tempos, comenta como era
difícil trabalhar por até 36 horas sem dormir para arar a terra a ser semeada
antes da chuva. Tudo era bem complicado e a luz no fim do túnel foi vista em
1985, quando o agricultor ficou conheceu um pivô. “Fomos até Guaíra conhecer o equipamento. Nessa época já trabalhava com
o sistema de canhões, complicado porque tínhamos que levar de um lado para o
outro. Quando vimos a estrutura daquele tamanho andando, podendo trabalhar
inclusive à noite quando é melhor o aproveitamento da água pelo solo, falei:
vamos acabar com aquilo que temos e vamos passar a colocar pivô central!”.
O primeiro pivô
Menos
de um ano depois da apresentação ao sistema de irrigação, Theodorus e mais
cinco produtores fizeram o grande investimento de suas vidas: uniram-se em
busca de negociação e num pacote só adquiriram seis pivôs. Tratava-se de um
Carbundum, marca francesa já sem produção. Mesmo sabendo que teria mais produção,
as expectativas surpreenderam: “Para nós
aquilo foi uma evolução! Uma mudança radical que aconteceu em nossa região!
Basta ver quantos pivôs temos por aqui hoje: mais de 2 mil”. A satisfação
da colheita levou à compra do segundo pivô: um Asbrasil – fábrica que em 1997
se fundi à Valmont. A escolha foi baseada no antigo sistema de irrigação
através dos canhões que eram assinados pela empresa. A foto desse equipamento
está na parede do escritório.
A
aquisição dos pivôs mudou a vida de Theodorus Swart. A partir do investimento
começou a plantar de forma programada. Foi vendo rapidamente que o que plantava
em cinco anos, estava fazendo em um. Rapidamente viu que tinha feito um bom
negócio, seus lucros foram aparecendo, cada vez mais foi podendo ter controle
sobre suas lavouras e chegar aonde chegou: “A
irrigação trouxe para nós outra realidade. Mudou o serviço, mudou o trabalho.
Hoje podemos manter culturas e funcionários o ano todo”.
A sucessão familiar
A
realidade de Theodorus infelizmente não é a mesma de tantos outros produtores
brasileiros. A falta de incentivos e tecnologias nem sempre convence os filhos
a continuarem os passos dos pais, que têm que se render à contratações e administrações
terceirizadas. Trinta anos após o primeiro sistema de irrigação e 51 pivôs, a
família de agricultores Swart tem caras novas. Trabalhando com os filhos
Ricardo, Eduardo e Cristiano, o agricultor, tem a alegria e a confiança de ter
em sua mesa, toda a família planejando as questões do plantio certo na hora
certa. O que antes fazia sozinho, hoje tem lado a lado três engenheiros
agrônomos além do genro zootecnista e especialista em genética para discutirem
as questões das fazendas.
Essa
sucessão foi seguindo o caminho mais simples: o do exemplo. A convivência é
para o Sr. Swart a grande diferença. Foi levando os filhos ainda pequenos para
a lavoura que fez nascer o heroico espírito de ser agricultor em cada um dos
meninos. “Tem que gostar. Tem que levar
junto e mostrar a convivência. Nunca falei para nenhum deles ser agrônomo.
Seguiram esse caminho porque gostaram do que foram vendo. É querer viver do e
no campo”.
Emocionado,
Theo mostra-se feliz ao ver os filhos juntos e se considera um homem realizado.
O que começou em 1986 com a aquisição do primeiro pivô, juntamente com o
trabalho diário mostra no rosto do holandês que se diz brasileiro, um homem
firme, mas cheio de orgulho e satisfação. “Quando
tinha dez anos já estava em cima de um trator. Aos 15 dirigia caminhão. Acho
que começamos a nos espelhar nele, pegar gosto e assim aprender a dar valor nas
coisas. É lá debaixo que temos que aprender para que um dia possamos ensinar. E
isso estou tentando fazer igualzinho com meu filho”, conta Ricardo Swart,
filho mais velho.
Para
o irmão Eduardo Swart, o maior exemplo é a perseverança: “Desde moleque vi com meu pai que era preciso trabalhar bastante para
se conquistar as coisas. Ao acompanha-lo nascia o interesse em fazer o que
fazia”.
Hoje
com uma produção em quatro propriedades, Theodorus Swart produz feijão, soja,
milho para sementes, trigo, cevada, aveia para cobertura e algodão. Mesmo com
as dificuldades em ser produtor no Brasil, com a falta de escoamento para o
transporte da produção, portos sem infraestrutura, burocracias nos
financiamentos e ferrovias que nunca saem do papel, Theodorus vê que sua
condição é hoje diferente graças à irrigação. Ao voltar os olhos para as
manchas de sol presentes em seus braços, lembra-se da dificuldade em esperar a
chuva para colher: “O que começamos com o
primeiro pivô, junto com o trabalho nos trouxe onde estamos hoje. Se não
tivesse escolhido por irrigar, não sei se estaríamos aqui”. E Ricardo
completa: “Irrigar é um seguro seu, junto
com o plantio direto. Você não pode errar. O custo é muito alto para se ter uma
lavoura seja do que for. Se você errar e não colher nada, imagina o que é
preciso para se recuperar? Talvez isso nunca aconteça”.
Aos
dez anos de idade Theodorus Swart, sai da Holanda e atravessa um Atlântico
inteiro junto com seus pais e irmãos atrás de um sonho: uma nova vida em uma
nova terra. O Brasil era o destino. O que o pequeno holandês não sabia era que
aquela seria sua primeira grande aventura. Dali em diante sua vida seria
marcada por grandes desafios, dificuldades, e, enormes conquistas. Seu destino
não era apenas chegar ao novo país desconhecido, mas sim, ser um grande agricultor.
Chegava ao Brasil um menino que apostaria e confiaria na irrigação para ir
longe. E mais: sendo exemplo e seguido pelos filhos.
Matéria publicada em Pivot Point Brasil - dezembro de 2014
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