O século XXI transformou a rotina da humanidade em todos
os sentidos. Inclusive dentro da fazenda, onde as tecnologias contribuem para o
trabalho no campo, permitindo recordes de produtividade ano após ano. Em
contrapartida a responsabilidade ambiental passou a ter um papel cada vez mais
importante no agronegócio.
Granja { Dejetos > Agricultura Irrigada > Indústria } Foto: Karine da Fonseca |
Paralelamente às tecnologias atuais,
nasce o conceito de agronegócio sustentável que resulta na união entre produção
de alimentos, respeito ao meio ambiente, e lucro. Mas, como desenvolver na
prática técnicas que muitas vezes ainda estão no campo das ideias? E como aplicar
essas técnicas à exigência de produção cada vez mais alta de alimentos?
Desde a década de 1970, a Alemanha
desenvolve técnicas de transformação de dejetos de suínos em energia para
alimentar a demanda de fazendas. A técnica é basicamente a queima de gás metano
através de biodigestores, produzindo assim o biogás que gera energia. A
utilização do gás metano é altamente sustentável, pois sem ela, o gás chega à atmosfera
gerando transtornos climáticos em função do aquecimento global.
No Brasil, a Lei 12.305 de 2010,
determina no artigo 9º, que somente poderão ser destinados à destinação final
os resíduos que não têm nenhum tipo de aproveitamento. Os números mostram que
50% dos resíduos gerados no país, não podem ser enviados aos aterros
sanitários, precisando, portanto passar por tratamentos através de centrais
tecnológicas. No caso dos resíduos orgânicos, quatro tratamentos podem ser
feitos: a incineração, a compostagem, a diluição e a biodigestão. Cada um
desses processos casa com a demanda da propriedade.
Procuramos exemplos no Brasil para
desenvolver material onde pudesse apresentar aqui, modelos que fossem
verdadeiramente adaptáveis às condições do agricultor brasileiro. E mais
precisamente no estado do Mato Grosso, na região entre os municípios de
Sorriso, Lucas do Rio Verde e Tapurah, conhecemos casos de sucesso que têm,
através das experiências do dia-a-dia, desenvolvido formas de conseguir equilíbrio
entre o desenvolvimento sustentável e a lucratividade.
A surpresa vem do que era então
descartado. Dentro dessas propriedades, os dejetos de suínos e frangos agora
geram renda e têm duas finalidades importantíssimas: a geração de energia –
através de biodisgestores que produzem o biogás, e a adubação das lavouras –
onde biofertilizantes são jogados por meio da fertirrigação por pivôs centrais.
Ou seja, o que antes era um problema, gerando transtornos para o meio ambiente,
agora gera lucro e sustentabilidade.
A
diversificação dentro da fazenda
Empreendedor, Carlos Capeletti percebeu
a necessidade da geração de energia logo que veio do Paraná para o Mato Grosso
na década de 1980. Até 2003, a energia gerada em Tapurah onde está sua
propriedade, era feita através de motor. Em busca de uma solução, viu que tinha
que ter um volume suficiente de suínos para alimentar o seu projeto de
diversificação. “Eu sempre tive essa ideia. Quando ainda estava no Paraná, assisti
uma matéria no Globo Rural onde um fazendeiro tinha 70 produtos criados dentro
da sua fazenda que ele mesmo vendia. Ele não tinha atravessadores. Era
autossustentável”, lembra.
Com a chegada da indústria de
alimentos embutidos e defumados em 1997 na região, Capeletti viu que a ideia
que teve no passado podia dar certo. Entendeu que para isso tinha que sair do
macro para ser micro, agregando tudo em uma área menor e se direcionando para o
sustentável. Já começou então a produzir energia: “o maior problema do Mato
Grosso”.
Dedicou-se seus dias para o
desenvolvimento de sua ideia. Foi até a Alemanha e conheceu a tecnologia de
energia por biogás. Começou a implantar o sistema. Após várias tentativas
frustradas até entender melhor, quatro anos depois viu que era através dos
modelos das caldeiras das hidroelétricas e termoelétricas das usinas de álcool,
onde a queima do bagaço de cana vira vapor e vapor em energia, pensou: “se eles
queimam bagaço, eu posso queimar gás metano!”. Mais tentativas foram feitas até
acertar: a fazenda virou granja, com agroindústria que fornece insumos para a
propriedade.
Para atender o grande projeto de
Capeletti, a criação de suínos tinha que ser grande. Consequentemente,
precisava de um grande volume de frangos para consumir essa energia, já que os
dejetos adubam as lavouras. O resultado? 2000 KVAs/dia para suprir a demanda da
parceria com a BRF que oferece os leitões e os pintinhos, além da ração. Após
atingirem o tamanho/tempo necessário para abate, os animais são entregues à empresa
que carregam os caminhões, rodando as granjas seis vezes ao ano. Hoje, 67.500
porcos estão alojados em núcleos divididos em duas propriedades. Além de 96
aviários com 27 mil frangos/cada.
A primeira etapa desse grande projeto
foi a construção da indústria de maravalha a base de eucalipto, que fornece
cama para os pintinhos. Com o gás metano produzido nas granjas suínas,
Capeletti construiu a primeira caldeira. Prestes a inaugurar a usina, vai produzir
já em janeiro de 2016 uma termo de 2500 KVAs, suficientes para sua demanda.
Toda essa energia hoje é distribuída nos horários de picos das granjas (entre
às 12h às 15h – quando há necessidade de ventilação por conta do alto calor) e
dos pivôs (após as 21h). A falta de energia em apenas meia hora compromete automaticamente
50% dos animais. Em duas horas, um prejuízo pode chegar a R$ 15 milhões. “Não
dá para brincar”.
A fazenda, enfim, está se tornando
autossustentável, onde um setor alimenta o outro: “O dejeto de suíno sustenta a
energia elétrica da granja de frango, o adubo do pasto e as lavouras. O dejeto
de frango aduba a lavoura através da fértirrigação. A lavoura vai para a
fábrica de ração, que alimenta o gado, o frango e o suíno. O quadro
autossustentável está se desenhando para um produto de alta-qualidade no final
da cadeia”.
A partir da geração de energia, várias
ações estão sendo implantadas de forma gradual. Todos os resíduos da fazenda
serão destinados à fabricação de ração animal. A lavoura, que hoje já é toda de
soja semente, terá destino comercial através da sementeira em estágio final de
construção. Os resíduos do beneficiamento das sementes se transformam em ração
para boi.
O descarte dos animais por morte
natural, entre 3 a 5%, vai para a graxaria, onde as carcaças são congeladas em
câmara fria e trituradas. O resíduo desse processo é posteriormente frito numa
espécie de caldeira, como se fosse uma enorme panela de pressão. Nesse momento
que é separado o óleo da farinha de carne que, por conta da grande qualidade
proteica, é vendida para a fabricação de ração para peixes. O óleo é destinado
à fábrica de biodiesel, num processo altamente limpo, retirando o metano da
atmosfera sem fumaça, fuligem ou cinzas. Caso a taxa de mortalidade atinja
índices maiores de 5%, há necessidade de comunicar o INDEA – Instituto de
Defesa Agropecuária de Mato Grosso.
Com a autossuficiência da granja de
suínos, a ideia é plantar capim somente com adubo orgânico em 270 hectares,
fertirrigados desta vez através de sistema de malhas, em locais onde não tem
como passar o pivô. O capim fará o trato dos bois que estarão no cocho,
buscando a meta de 25 cabeças/ha, já que não haverá pisoteio no campo e sim
corte, oferecendo carne nobre. “E assim por diante. A gente vai fazendo todo o
processo para chegar no dia que teremos nosso próprio frigorífico, e conquistar
a ideia do passado de agregar valor. Aqui o que é considerado lixo para muitos,
é para nós matéria-prima de outra cadeia”.
E não para por ai: Capeletti, com a fertirrigação viu que tem como concorrer nas gôndolas e oferecer
outros produtos de alta qualidade, como o feijão e o arroz. Nove pivôs fertirrigam
hoje 2.300 hectares de 30 mil ha. Um número muito maior dos 750 ha que ganhou
do pai quando veio para o MT. A ideia de irrigar surgiu exatamente para
solucionar o problema com os dejetos. O problema garantiu três safras/ano. Após
testes, o arroz será plantado nas chuvas e fertirrigado, beneficiando muito bem
à época das águas.
Além de auxiliar no controle da fertirrigação,
todos os bombeamentos, tanto dos dejetos quanto do resfriamento e circulação de
água das caldeiras, foram dimensionados e comercializados pela Valmont: “A
Valley está no processo do resfriamento da água, do bombeamento da lagoa e em todo
o projeto de resfriamento da caldeira. Foi muito importante para a fértirrigação
e agora está conosco em mais essa batalha”.
Vinícius Melo, agrônomo e supervisor
regional de vendas da Valmont explica: “O dejeto
é ambientalmente um problema. O suinocultor tem que aplica-lo de alguma forma.
Se é uma propriedade pequena, ele vai usar chorumeira, caminhão, trator ou algo
assim para descartar. O que vemos os suinocultores dessa região fazerem é
conseguir eliminar tudo, transformando o problema em solução”.
Hoje toda a lavoura de soja, milho,
feijão e arroz são comercializados. Em breve, os grãos, semente de soja e carnes
bovina e peixe terão sua marca própria à venda. Exceção apenas para porcos e
frangos que são mantidos pela boa parceria com a BRF. “Frango e porco são
autossustentáveis. Eles são a matéria básica de toda a cadeia. O porco é a
energia e o frango a adubação. Não tem como deixar de ter. O dejeto é hoje, em
toda criação, um problema ambiental, que aqui é resolvido: deixou de ser
problema para ser lucro”.
Gosto
pela suinocultura desde os tempos de escola
Atrás de terras maiores e baratas,
Fausto Scholl veio também do Paraná para o Mato
Grosso com o pai. Assim como a grande maioria de sulistas agricultores fora da
região, ele e sua família deixam o Sul do país em busca de novas oportunidades.
A lavoura e a pecuária sempre foram o ganha pão da família Scholl, que continua
até os dias de hoje cultivando. Também como Carlos Capeletti, Fausto se torna
irrigante para construir a sua granja de suínos em 2004.
A geração de energia através de
dejetos suínos sempre fascinou Fausto Scholl. Desde a época da escola agrícola
ainda no Paraná, Scholl estudava a técnica, que
foi apresentada como trabalho de conclusão de curso: “Eu disse quando sai em
1990 do colégio agrícola que ia ter uma granja de porcos. Queria mexer com
criação de suínos sustentável”. Assim, antes mesmo de construir a granja, sabia
que precisava adquirir pivôs centrais para ter onde descartar os dejetos. A técnica
é basicamente a mesma nessas propriedades, onde o dejeto tem duas saídas:
energia através do biodigestor e irrigação das lavouras. E completa: “o
biodigestor faz energia que alimenta a granja de porco. Um porco produz energia
para si mesmo”.
Dos seis pivôs instalados, metade é
utilizado para fertirrigar e a outra metade só não o faz pela distância da
lagoa de dejetos. Logo que chegamos na propriedade São Miguel, vimos duas
lavouras de soja: uma fertirrigada e outra não. A diferença é impressionante!
Como Capeletti, Scholl também acredita que a
melhor lavoura para fertirrigar durante o período chuvoso é a lavoura de arroz:
“É muito nitrogênio! O dejeto passa pelo biodigestor... e não é como faziam os
antigos, aquele chorume gordo. O nosso aqui é mais uma água suja que colocamos
na lavoura. Tem que cuidar porque a planta que recebe, cresce demais. Vegeta”,
conta. A ideia é adquirir mais seis equipamentos.
Além da granja de suínos que abastece
o frigorífico da empresa através da parceria, Scholl confina gado e faz três
safras/ano, através da fertirrigação. Seu ano agrícola começa em setembro
quando planta a soja e colhe em dezembro/janeiro. Logo entra milho ou arroz e
em seguida feijão. Os grãos são comercializados, salvo a semente que vai para a
UBS – Unidade de Beneficiamento de Semente, instalada na própria fazenda, e com
capacidade para oito mil toneladas.
A propriedade ainda tem construída
fábrica de ração com base em matérias-primas como: milho, soja, milheto, sorgo
e resíduos da UBS, todos cultivados para atender o gado confinado do grupo. Há
também projeto de irrigação de sistemas de malhas, em espaços entre os galpões
e pivôs, para suprir a necessidade de descarte de dejetos nos meses de chuva.
Nessas áreas serão plantadas gramíneas.
Antenado às tecnologias Valley e
buscando alternativas de precisão, Scholl tem
instalado em sua propriedade o sistema Base
Station – equipamento de telemetria desenvolvido para controlar a irrigação à
distância: “O Base Station é acomodação! Funciona muito bem. Todo celular
funciona bem. O problema aqui no Mato Grosso se chama luz” – se referindo à
baixa qualidade da energia elétrica fornecida.
Seguindo a trajetória de eficiência e
produtividade, está prestes a ser instalado o Valley Corner – equipamento com
grande potencial de irrigação, utilizado para maximizar o uso do solo na
propriedade, irrigando áreas até então inatingíveis. “Com o Corner vou
aproveitar o espaço entre a granja de porcos. Ele vai desviar um pedaço da
estrada e irrigar 16 hectares que antes não eram irrigados”.
O projeto do Corner na propriedade de
Fausto Scholl foi financiado por um fundo de incentivo à busca da eficiência
energética, em uma ação em conjunto com companhia elétrica do estado a ENERGISA,
visando a melhoria dos sistemas de irrigação. “Com o argumento de produzir mais
em menos espaço e com a mesma quantidade de energia, o projeto foi financiado
pela própria concessionária elétrica. Como esta é uma fazenda autossustentável,
ampliamos a capacidade produtiva, utilizando os mesmos recursos. Além da
aquisição do Corner, a companhia financiou também a reforma de um pivô, promovendo
a atualização tecnológica do equipamento e melhorando a parte hidráulica do
projeto. Tivemos melhoria na eficiência de aplicação da água e, com a
instalação de uma chave inversora de frequência, um melhor uso da energia
elétrica”, explica Vinícius Melo.
Ao todo, na Fazenda São Miguel, divisa
de Sorriso com Lucas do Rio Verde, 808 dos 4100 hectares são irrigados. No
intuito de implantar uma nova atividade na fazenda, o empresário está
licenciando ambientalmente um projeto de piscicultura, onde dois reservatórios
serão construídos, promovendo o aumento da disponibilidade de água,
possibilitando assim a instalação de novos pivôs no futuro, integrando lavoura
e produção de peixes. “Uma das licenças já saiu. Tem que limpar e encher.
Estamos esperando a compensação da SEMA – Secretaria de Estado de Meio
Ambiente”, diz Fausto Scholl.
A
propriedade que se tornou indústria
A geração de energia, feita através do
gás liberado pelo dejeto de animais, alimenta a demanda das instalações. Nessas
propriedades a rotina segue dessa forma: as lavouras de soja, arroz, milho e
feijão são fertirrigadas com os dejetos das granjas. Dessas lavouras saem os
alimentos para os animais, que estão nas granjas abastecidas pela bioenergia
gerada na própria fazenda. Assim o ciclo toma forma e nada é descartado: animais,
biogás, energia, dejetos e lavoura.
Mas é na propriedade de Paulo César
Lucion onde o ciclo da fazenda autossustentável melhor se fecha. Atuando na
atividade de suinocultura já mais de três décadas, o grupo Lucion é destaque no
mercado. Além das lavouras que abastecem as granjas, de onde saem os dejetos
que fertirrigam e geram energia, o animal é abatido no próprio frigorífico, de
onde saem empacotados cortes e produtos de origem suína direto para as
gôndolas.
Vindos de Santa Catarina, a família
Lucion chegou ao Mato Grosso em busca de menor custo de produção. Suinocultores
já no estado natal, migram para sair de uma crise de alto custo de grãos. Na
época, a produção era 10% do que o grupo conquistou hoje.
Toda a produção é própria, desde a
lavoura de grãos onde o milho e a soja são transformados em ração, passando
pelo óleo que é direcionado para a fábrica de biocombustível, até o dejeto que
é transformado em gás – gerando energia para as granjas, e adubo – fertirrigando
as lavouras. Os animais são tratados pela ração fabricado na propriedade e abatidos
pelo frigorífico do grupo. Ou seja, de fato uma fazenda autossustentável.
Há apenas quatro anos como irrigante,
a ideia de fertirrigar surge depois da
apresentação feita pela revenda Valley. “A solução do que era para nós um
problema, foi o Alei que nos apresentou”, referindo-se ao representante Valley
da revenda Irrigar em Sorriso, Alei Fernandes. Nós não acreditávamos que
iríamos conseguir através do pivô. Mas com as inovações e as ideias inovadoras
que o pessoal do Alei trouxe para nós, a gente conseguiu conciliar a irrigação
com a fertirrigação. Foi tão positivo que conseguimos baixar nosso custo de produção.
Todas as lavouras fertirrigadas têm zero
adubação química. A produção é apenas com adubo orgânico”, explica Paulo César
Lucion.
“Vimos a necessidade de o Paulo
distribuir o grande volume de dejeto, aproveitando a uniformidade da
distribuição. Apresentamos a ele o exemplo de propriedades menores que já
utilizavam o pivô para fertirrigar. Ele teve bastante dúvidas. Fizemos o teste
que deu certo. Evoluímos. E a tendência é expandir futuramente”, lembra Alei
Fernandes, da revenda Valley Irrigar.
A solução que primeiramente surge como
forma de descarte do dejeto suíno, hoje ganha espaço também como irrigação. Pela
indisponibilidade de energia, não há como instalar mais pivôs na propriedade de
Sorriso. “Hoje fazemos três safras/ano. Se tivéssemos energia disponível, mais
pivôs centrais estariam instalados na fazenda. A irrigação nasceu da
necessidade, mas hoje, sabemos que mesmo que não sendo para dejeto, é uma
técnica muito viável. Temos projetos não fertirrigados em
outras propriedades, em função de se poder fazer uma safra a mais por ano”.
Além de soja e milho, o feijão entra como a terceira safra, sendo mais um
produto do grupo no mercado.
A fertirrigação, no caso do Grupo
Lucion, proporcionou uma queda de 35% nas despesas totais, já que as lavouras
utilizam 100% de adubo orgânico. Além de oferecer produto menos ofensivo nas
gôndolas, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento selecionou em
2014 dez empresas para divulgar a sustentabilidade no Brasil. Dessas, a única
empresa privada selecionada foi o Frigorífico Nutribrás – pertencente do grupo.
“O que é subproduto de uma atividade, já é matéria-prima para a atividade
seguinte. Fecha o ciclo”.
Em suas viagens pelo exterior
conhecendo técnicas e fechando parcerias, Lucion garante que as grandes
empresas do seguimento fastfood já
dizem que muito em breve o produto que tiver o diferencial de menor agressão,
será uma exigência do mercado, que tende a comprar de empresas que não agridam
o meio ambiente.
“A verdade é que a suinocultura é uma
atividade altamente poluente. Com a fertirrigação, conseguimos produzir sem
poluir. Além de utilizar 100% de adubação orgânica, percebemos que há menor
necessidade no uso de defensivos. A lagarta, que ataca a planta, com o uso do
dejeto, ataca menos. Outra curiosidade é com a safra do milho. Percebemos
também que o milho fertirrigado consegue render até 30% mais que a safra
normal”. E finaliza: “a sustentabilidade só existe se houver equilíbrio entre o
ambiental, o social e lucratividade. Esse é o tripé da sustentabilidade. Não
tem como falar que uma fazenda é autossustentável se não houver lucro. A fertirrigação
foi passo importante para conseguirmos esse tripé”.
Criada há dois anos, a Aprofir –
Associação dos Produtores de Feijão Irrigado, surge para acelerar a produção do
grão na região, buscando a meta de ser a maior produtora do país. Tendo como
presidente, Ademir Gardim, a associação está em processo de fomentar o
Seminário de Feijão Irrigado e o Congresso Brasileiro de Feijão-Caupí que deve
acontecer na cidade de Sorriso. Além dos irrigantes de feijão, a associação
atende também os irrigantes de trigo.
Entre as ações já acertadas está o
canteiro retido no parque tecnológico, uma estruturação do executivo com
entidades. Com 100 hectares disponíveis para o desenvolvimento de várias
atividades, a Aprofir faz parte do conselho administrativo do parque.
A maior questão levantada pela
associação é a descentralização por parte das licenças para a agricultura
irrigada. A maior razão de se escolher Sorriso como sede da Aprofir é ter no município
apoio do executivo municipal, da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente do
município, além dos produtores do grão.
Através das lideranças da associação,
o Plano Estadual de Irrigação do Mato Grosso foi apresentado ao governo do
estado. Os produtores foram até a capital, Cuiabá e em reunião com governador
Pedro Taques, foi determinado prazo para a criação do plano que tem como meta
dobrar em dois anos sua área irrigada, ou seja, mais 70 mil hectares.
Várias entidades foram solicitadas,
entre elas organizações ambientais e de energia, além de entidades financeiras
para a execução de um projeto piloto. Outras cidades mato-grossenses já estão
levando o exemplo, como as cidades de Primavera do Leste e Campo Novo dos
Parecis.
“Nessas regiões se concentram boa
parte da agricultura irrigada do estado. Por isso essa provocação ao
governador. Ele acatou e quer desenvolver. Para desenvolver o estado tem que
produzir mais e melhor. O potencial do Mato Grosso é muito grande, portanto é
hora de se organizar e efetivar o plano que com certeza vai melhorar e muito a
irrigação estadual, além de auxiliar o produtor a ter lucro, produzindo de
forma sustentável”, conclui Gardim.
Em uma região tão focada na produção
irrigada, até o Prefeito Municipal de Sorriso faz parte dessa empreitada.
Agricultor, Dilceu Rossato tem grandes expectativas para a cidade. Produtor de
soja, milho e feijão, consegue três safras/ano através da irrigação. Irrigante
há dois anos, viu que sua área irrigada melhorou e muito o potencial da
lavoura. “Com a irrigação você tem um plantio determinado na época que você
pode fazer. E pode fazer três safras/ano e três safras cheias. O clima do plantio
começou em 15 de setembro e a minha soja já está florescida. Essa é a grande
diferença”, conta.
Dentro dos projetos à frente do
executivo municipal é tornar a região como a maior produtora de feijão do país:
“temos grandes expectativas por conta da construção da Aprofir – que veio em
boa hora, e com o Governo do Mato Grosso – através dos órgãos ambientais e a
política de irrigação que o estado defende. Tudo isso está se concretizando”, referindo-se
ao Plano Estadual de Irrigação apresentado ao Governador do Estado, Pedro
Taques.
Animado, continua: “Estamos
trabalhando junto com a Secretaria de Meio Ambiente nesse sentido. A ideia é
acelerar para que a secretaria descentralize todos os serviços, dando assim
mais agilidade ao município”. Junto com a SEMA, a prefeitura municipal quer
conduzir os projetos de irrigação, permitindo 20% da área do território
municipal irrigado. Em torno de 130 mil ha irrigados.
O projeto de aumento da área irrigada une
à construção de represas outra atividade: a piscicultura. “O sentido do projeto
é ocupar as represas com piscicultura que no final a água seja utilizada para a
irrigação, completando assim um processo inteligente, rápido e com viabilidade
financeira”.
Vindo de uma família de pequenos
agricultores, Dilceu Rossato vê a irrigação com ferramenta importante para as
lavouras mato-grossenses. “Onde foi irrigado deu certinho para fazer a terceira
fase. Isso economicamente dobra o faturamento de uma fazenda. Não é o que
naturalmente acontece no Mato Grosso que ás vezes para de chover em maio, mas
ás vezes em março”.
Rossato quer garantir irrigação não só
para a agricultura extensiva mas também para a familiar. Em fase final, o
prefeito irrigante está entregando o projeto de irrigação em 214 propriedades
assentadas na cidade.