segunda-feira, 4 de julho de 2011

Pra vc: o que é História?

No dia que, interrogado por seu filho sobre o que seria história, Marc Bloch deve ter pensado: “Meu Deus!”. Caso fosse materialista essa expressão ficaria apenas em: “Ai!” Ou ainda, se pudéssemos imaginar ainda uma ilustração para tal cena, poderíamos imaginar ele meio que coçando o alto da cabeça. Mas, foi exatamente essa a pergunta que aguçou suas indagações e lhe permitiu escrever (ou deixar inacabado) seu livro de metodologia, Apologia da história.
Assim, Marc visualizou para o livro a representação do homem como o sujeito de sua história. Onde não se despreza fatos, datas, relatos, e onde se busca a compreensão das relações através dos fatos, dos contextos históricos e de suas questões. Onde não há passado ou presente ou futuro, mas sim o homem do tempo.
Historiador é aquele que se prende a documentos escritos, e não escritos. Que se perde nas expectativas de uma observação histórica, de testemunhos e que deixa de lado a obsessão por relatos. É essa a situação que constrói um conhecimento. E são essas situações que, sem pestanejar, o historiador deverá fazer importante outras ciências para o objeto de estudo.
Para se compreender história há necessidade de uma lógica do método crítico e próprio, de desenvolvimento de argumentos, de exemplos estudados, de justificativas e de verdade. A história é ciência. E é compreensiva, pois não julga, não abomina. Não é parcial nem imparcial, mas objetiva. E utiliza de fontes para aprimorar-se.
As análises podem proceder às idéias repassadas, não mais em busca da verdade absoluta. Visam apenas compreender, problematizar, contextualizar e assim deixar livre o historiador na construção da história.
No último capítulo, sem título, no último parágrafo e em sua última frase, resume: “as causas, em história com em outros domínios, não são postuladas. São buscadas”.
Em suma o livro traria particularidades de um historiador, que sério, deve se comprometer apenas em narrar a história. Mas e o que mais? O que além de contar histórias um historiador faz? Essas são as perguntas que muitos devem fazer quando pensam o que responder a uma pergunta dessa...
Perguntados, ou perguntadas sobre tal questionamento, algumas respostas, deixaram apimentadas as visões jornalísticas-historiográficas de uma jornalista aluna de História, que aqui vos fala. Mostram diferentes pontos de vista, comum de leigos, mas que de alguma forma, formam a contexto contemporâneo histórico.
São histórias de respostas que vão da simplicidade e objetividade da publicitária Gicele Gomes que diz: “História pra mim é quando os fatos acontecidos são narrados e são perpetuados através dos tempos”; ou da aguçada interpretação, um tanto filósofa, um tanto no seu tempo da fisioterapeuta de formação e micro-empresária no setor de semi-jóias, Ana Raquel Pinheiro: “Fatos? Contos? Relatos? Fato contado baseado num relato? Agora, se fosse ‘estória’... ah... aí seria sonho fatiado num relato de um conto! Conto relatado do sonho de um fato! Relato sonhado de um conto fatiado! Loucura relatada de uma sonhadora que não entende todos os fatos, mas acredita na maioria dos contos! (de fadas!)”. Marc novamente deve estar a coçar seu alto da cabeça...
Já o parecer de Flávia Correia, também publicitária, deve deixar Marc mais aliviado do comichão em seu cocuruto: “História é muito mais do que conhecer civilizações antigas. História é o resgate da cultura que ainda vive nas influências de tudo que se experimenta hoje. História é a valorização da diversidade em todas as suas formas de manifestação. História é conhecer os caminhos escolhidos pela sociedade no passado, para decifrar as paisagens atuais e criar perspectivas futuras. História é a vida, é o pulsar, é o espírito que habita dia e noite nas facetas da humanidade”.
De outra perspectiva, a médica veterinária Érica Assunção, acredita que “História é o maior conjunto que existe. É formado por todas as coisas existentes: seres animados, inanimados, pensamentos, sonhos, planetas, por todos os componentes da tabela periódica, etc. Enfim, tudo e todos têm uma história! A história da formação das rochas, de um brinco, de uma caneta, de um computador. A história dos nossos pensamentos, dos nossos sonhos. A história da formação dos planetas, da Terra, do Brasil. A história de cada animal, de cada planta, de formação dos rios. A história da nossa vida, do nosso casamento, da nossa separação. E tantas outras histórias, tudo que existe tem a história da sua formação, da sua existência e do seu fim, além da história que ainda existe no invisível, na espiritualidade, além dessa vida!”.
Marc Bloch
A história está em tudo e em todos. Está em cada pensamento, em cada ação, em cada guerra, em cada bandeira branca, em cada construção, em cada demolição. Pode ser vista todos os dias e cada vez que ligamos a TV ou abrimos o jornal. Pode ser observada a todo o momento. Pode ser falada. Contada. Desenhada. Pode ser ouvida. Pode ser verdade ou mentira. Depende da fonte. Depende do historiador. Depende de como é o ofício do historiador.
Ilustrando no final, o comentário de André Machado, ex-ginete de cavalos e hoje empresário no ramo de oceanografia: "História é uma poesia gaúcha que foi escrita a cavalo...
'A historia da humanidade
nas planuras e nos penhascos
foi escrita pelos cascos
deste padrão de igualdade,
fogo, luz, liberdade,
brazão da cavalaria
e na América bravia com ibéricos teatinos,
índios, negros e beduínos,
com um eco de Andalazia.
Simbolo de paz e guerra
Símbolo de guerra e Paz
A lida eterna da terra
É um flete amigo que faz
Peão, patrão e capataz
Não há senhor, nem vassalos
E ninguém que possa separá-los
Porque a terra tem memória
Não há ninguém que escreva
História do meu Rio Grande
Sem Cavalos'."

Jaime C. Braum - trecho da poesia Itaí Tupambaé (cavalo ganhador do Primeiro Freio de Ouro em 1982, acompanhado pelo renomado ginete Vilson Charlat de Souza . Essa é a prova mais seletiva da Raça Crioula).