segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Revolução na Educação

Educação, educação, educação... tanto se fala, mas quase nada é visto (pra não dizer nada e ficar parecendo um discurso político). No dicionário: 'É o princípio comunicativo, utilizado pelas sociedades, para desenvolver no indivíduo a consciência de suas potencialidades, a partir da interpretação dos sinais gráficos até a construção dos conhecimentos que favoreçam o desenvolvimento de um raciocínio comportamental e disciplinar, na sua individualidade, diante do grupo social e no meio ambiente em que vive'. Mas se pararmos pra perceber de verdade, a gente pode tanto fazer todo esse vão de novas idéias e participações ser visto. A gente que se gaba tanto de ser e de fazer e acontecer, pode fazer tanta coisa... pode participar do mundo de verdade.
E por falar em política, Cristovão Buarque (economista, professor, hoje senador), tem como proposta para um estado melhor, uma Revolução na Educação. Um revolução onde a cultura e a educação devem andar juntas, lado a lado, parceiras. Ai, eu, que acredito e dou fé, li um texto e quero compartilhar:
“Cerca de R$ 7 bilhões por ano, além dos gastos atuais, é o que é preciso para o Brasil iniciar sua revolução na educação. Com menos do que esse valor, não haverá o salto, apenas um avanço, como aqueles que vieram no passado – merenda, transporte, livros didáticos, Fundef, e agora Fundeb e PDE. Mais do que esse valor, o sistema não é capaz de absorver imediatamente. Nossa inanição não permitirá gastos maiores. Seriam desperdiçados. Não seremos capazes de absorver, de repente, equipamentos para toda a rede; nem de formar todos os professores. O máximo que podemos absorver é algo em torno de R$ 7 bilhões anuais, além do que é gasto atualmente, até chegar a R$ 20 bilhões anuais dentro de quatro anos. Como comparação, R$ 7 bilhões equivalem a apenas 0,3% da renda nacional, 1% da renda do setor público, pouco menos de um quarto do lucro de uma única estatal em 2006 – a Petrobrás.
Todos perguntam de onde virá o dinheiro para aumentar o gasto atual de cerca R$ 1.100 anuais por aluno na educação de base, dos quais apenas cerca de R$ 150 anuais saem do Governo Federal. Mas ninguém pergunta de onde vem o dinheiro que financia a educação de 7.346.230 alunos em escolas privadas, graças em parte à dedução no Imposto de Renda de até R$ 2.480,66 para cada um. Ninguém pergunta de onde saem os R$ 4.400 mensais (R$ 52.800 anuais) gastos com cada jovem infrator preso. Ninguém pergunta de onde vem o dinheiro para projetos de infra-estrutura, ou para compensar a redução de impostos, ou para investir no Ensino Superior ou Técnico, mas todos querem saber quanto custa e de onde vem o dinheiro para construir uma única escola. Ninguém tampouco se pergunta quanto custa não fazer a escola, o custo da omissão. Não fazer uma revolução na educação já está custando a alma do Brasil, perdida eticamente por causa do muro da desigualdade, e perdida econômica e cientificamente por causa do muro do atraso.
Se compararmos o Brasil e a Coréia do Sul, esse custo de não fazer aparece de forma drástica. No começo dos anos 1960, a Coréia do Sul tinha renda anual per capita da ordem de US$ 900. O Brasil tinha o dobro, então US$ 1.800. A Coréia fez sua revolução educacional a partir da educação de base, tomou outras medidas, e tem hoje uma renda per capita que é o dobro da nossa. Tudo repetido aqui, se tivéssemos feito o mesmo, nosso PIB seria agora de ao redor de R$ 6 trilhões, em vez de R$ 2 trilhões. Adiar essa revolução terá um custo destruidor do nosso futuro, não apenas pela perda financeira, mas por todo atraso, desigualdade, degradação, dependência.
As propostas apresentadas seriam não apenas um Plano de Desenvolvimento da Educação, mas uma Revolução da Educação. A tragédia educacional atual ainda é uma herança que recebemos, mas no final de nossos mandatos será uma herança que teremos deixado. O presidente Mandela ficou na história do seu país porque foi o primeiro presidente de um novo ciclo, fazendo uma revolução para que brancos e negros pudessem caminhar nas mesmas calçadas nas cidades da África do Sul. Nós temos um único caminho a seguir, se quisermos ser os líderes de um novo ciclo no Brasil: fazer com que em nosso país as crianças pobres e ricas estudem em escolas com a mesma qualidade. Se fizermos isso, o mais acontecerá. Porque se um pai de família pode dizer que educando seu filho, o mais ele fará, um estadista pode dizer que educando seu povo, o mais ele fará.
A única revolução possível e lógica no mundo de hoje é por meio da educação. Em vez de estatizar capital, financeiro ou físico, disseminar o capital conhecimento; usar lápis em vez de fuzis, professores, em vez de guerrilheiros; e no lugar de trincheiras e barricadas, escolas.
Uma revolução só se faz com uma forte vontade política, e esta só se faz com uma concepção ideológica por trás. A revolução educacional vai exigir o educacionismo: a visão de que o progresso econômico depende do capital-conhecimento e de que a utopia social decorre da igualdade de oportunidade. A educação como vetor da transformação, e não apenas como serviço social adicional. Depois do fracasso das ideologias prisioneiras da economia – capitalismo, desenvolvimentismo, socialismo –, o mundo exige uma nova concepção, sintonizada com as tendências atuais. A realidade mostra que o capital do futuro está no conhecimento; e que a desigualdade social se origina da desigualdade no acesso à educação. Só um país com igualdade na qualidade da educação, entre classes e regiões, com todos concluindo o Ensino Médio com a máxima qualidade, vai permitir o salto em direção ao avanço civilizatório.
Por isso, uma condição necessária para a revolução pela educação é o surgimento e o crescimento de um movimento educacionista no Brasil. Nos moldes do movimento abolicionista do século XIX. Um “partido-causa” com defensores em todos os “partidos-sigla” na defesa da revolução pela educação. O educacionista é, no século XXI, aquilo que foram os abolicionistas no século XIX. A primeira ação de um educacionista é convencer o povo brasileiro da importância e necessidade do educacionismo: conscientizar os pobres de que têm direito a uma escola igual à dos ricos, e convencer os ricos de que não haverá boa educação nem futuro nacional enquanto ela ficar restrita aos seus filhos.
Apesar do direito à dúvida, por causa da maneira pela qual a educação de base vem sendo relegada ao longo dos anos, não temos direito de perder a esperança. Este é um documento para quem sofre com a perda de terreno do Brasil em relação ao resto do mundo, por causa do muro do atraso, e sofre com a divisão do País internamente, por causa do muro da desigualdade; para quem sabe que o único caminho para derrubar os dois muros é uma revolução na educação, e sente que isso é possível, que o Brasil sabe como fazer, e tem os recursos necessários, mas estamos adiando há décadas, desde o início de nossa República, passando por todos os 40 presidentes que antecederam o Presidente Lula.”

Se hoje o Governo Brasileiro começasse a implantar uma Revolução na Educação, colheríamos frutos positivos em 20 anos. Ai sim, e só assim, seria capaz viver num país menos violento, com menores níveis de criminalidade, onde a corrupção seria menos comentada nas manchetes de jornais. E porque não dizer, onde a vergonha na cara fosse uma coisinha que encomodasse, pelo menos fazendo uma cosquinha.
Cada um pode fazer um pouquinho. Cada um, dentro de cada fatia sua dentro da comunidade que vive, pode auxiliar essa que é a mais importante coisa da vida. Como já diziam os antigos: 'é a única coisa que niguém lhe toma'. Chame um amigo, um visinho, um conhecido, os filhos deles, e convide para ir a um show que vale a pena de verdade pra alma, pega na mão deles e leve pra ver um teatrinho de bairro, um sarau, mostras de arte na praça... empresta um livro pra ele. Fazer parte, sabe? Fácil não é não. Mas é preciso e importante fazer parte do futuro.